Os enfermeiros britânicos cumprem nesta terça-feira (20) o segundo dia de greve nacional, um movimento sem precedentes que pode ser ampliado até que a categoria consiga reajustes salariais de um governo inflexível.
Após o primeiro dia de greve na quinta-feira passada (15), os enfermeiros prosseguem com o protesto para obter um aumento substancial de salário após anos de austeridade, em um Serviço Nacional de Saúde (NHS) com subfinanciamento crônico.
Em um Reino Unido com inflação superior a 10%, a categoria virou o símbolo de uma população que sofre com o aumento do custo de vida e não se considera suficientemente respaldada pelo governo.
— Precisamos de mais dinheiro, mais funcionários, segurança para os pacientes — declarou Lucy Savage, enfermeira de 21 anos, à agência PA durante um protesto em Liverpool.
— Estamos sobrecarregados e somos mal remunerados — acrescentou a jovem, que cogita abandonar a profissão caso a situação não melhore.
— Há muitos impostos. Mesmo quando a renda anual parece aumentar, não temos mais dinheiro — afirmou Suni George, coordenadora de equipe de 45 anos, com 17 de experiência.
Trabalhadores do sistema ferroviário, do setor logístico, das ambulâncias, agentes da alfândega nas fronteiras e aeroportuários decidiram entrar em greve no fim do ano e no início de janeiro.
Apesar das críticas a alguns protestos, que prejudicam as festas de fim de ano, os enfermeiros têm grande apoio social.
O grupo esteve na linha de frente da pandemia de covid-19 e enfrenta uma crise que afeta há vários anos o respeitado e gratuito sistema público de saúde britânico.
Uma pesquisa do instituto YouGov publicada no domingo pelo jornal The Sunday Times mostra que quase dois terços da população apoia os enfermeiros e metade os funcionários do sistema de ambulância, contra 37% que respaldam a greve no sistema ferroviário.
Responsável e justa
A popularidade aumenta a pressão sobre o governo, que permanece inflexível e se recusa a ampliar o aumento médio de 4,75% previsto para este ano ou a negociar diretamente com a categoria.
Durante uma viagem à Letônia na segunda-feira (19), o primeiro-ministro Rishi Sunak defendeu a abordagem "responsável e justa" de seu governo, que considera insustentável do ponto de vista financeiro a expansão dos aumentos salariais.
Depois de um protesto em Newcastle nesta terça, a secretária-geral do principal sindicato de enfermeiros, o Royal College of Nursing, pediu ao chefe de Governo que negocie o aumento dos salários.
— Compareçam a uma mesa e comecem a negociar comigo — disse Pat Cullen, cujo sindicato tem 100 mil integrantes.
— É a única coisa respeitável e apropriada a fazer para acabar com a greve — acrescentou.
A unanimidade entre os conservadores rachou nos últimos dias devido à popularidade do movimento e aos riscos para o tratamento dos pacientes.
Alguns deputados do partido do primeiro-ministro pediram ao governo para iniciar um diálogo mais construtivo com os enfermeiros.
Mas o Executivo não parece disposto a ceder e tenta limitar o impacto das greves para a população.
Para isto, o governo pretende mobilizar 750 militares para substituir os funcionários dos serviços de ambulâncias na quarta-feira (21) e 625 para cobrir os agentes da alfândega que interromperam as atividades nas fronteiras.
* AFP