O Novembro Azul, campanha de alerta sobre o câncer de próstata, ainda é marcado, em 2022, pelos reflexos da pandemia, que concentrou esforços de profissionais e unidades de saúde nos momentos mais críticos, provocando represamento das necessidades de outras áreas. Exames de rotina e tratamentos foram afetados, e urologistas aproveitam a visibilidade da mobilização para salientar a importância da retomada das consultas.
Milton Berger, urologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), observa que o impacto da crise do coronavírus provocou atraso nos diagnósticos e agravamento de doenças.
— Boa parte das pessoas que vinham com atendimento regular para tratamento ou acompanhamento médico rotineiro deixou de fazê-lo. Foi um fenômeno mundial. Para câncer em geral, houve retardo de diagnóstico. Há alguns meses, vivemos um momento de diagnóstico um pouco maior de câncer de próstata, cirurgias ou tratamentos em geral para esse câncer — observa Berger, também coordenador do Programa de Cirurgia Robótica do HCPA e preceptor de Cirurgia Robótica do Hospital Moinhos de Vento.
A próstata é uma glândula do aparelho reprodutor masculino, com o formato de uma noz. Está localizada logo abaixo da bexiga (veja na figura). Produz secreções que nutrem os espermatozoides e tornam o esperma líquido no momento certo, considerando-se considerando o aspecto reprodutivo.
Muito comum, o câncer de próstata acomete cerca de 6% a 18% dos homens, segundo Berger, que faz uma ressalva importante:
— Mas só uma fração vai morrer de câncer de próstata. A maior parte talvez não vá morrer dessa doença.
De qualquer maneira, é importante e benéfico manter um rastreamento da enfermidade na população. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) destaca como desafios do Brasil melhorar e ampliar a identificação de pacientes com risco de desenvolver formas mais agressivas da doença, por meio de exames clínicos e de laboratório, para que se possa fazer o acompanhamento mais frequente de quem apresenta mais predisposição. De acordo com a SBU, 20% dos casos de câncer de próstata ainda são descobertos em estágios avançados, apesar dos avanços implementados nas últimas décadas.
O grupo mais atingido é o de idade a partir de 60 anos, que deve se submeter a avaliação urológica, mas pacientes mais jovens também podem desenvolver a doença. Com o teste de PSA (exame de sangue que mede a proteína chamada antígeno prostático específico, produzida na próstata), o especialista pode estabelecer o risco para o câncer, mas nenhum resultado exclui a possibilidade. Homens negros e com casos familiares de câncer de próstata ou de outros tipos (mama, pâncreas, colorretal) têm risco maior e devem procurar avaliação médica mais cedo, entre os 40 e os 45 anos.
— Para quem não tem nenhum desses fatores de risco, o ideal é fazer um PSA em torno dos 45 anos. Se o PSA estiver baixo, a chance de ter câncer de próstata diagnosticado nos próximos anos é muito baixa. Talvez se indique nova revisão cinco anos depois. A partir de 50 anos, o risco de câncer de próstata começa a aumentar. Com PSA baixo, recomenda-se nova avaliação em poucos anos. Com PSA mais alto, pode-se ter que repetir anualmente — explica Berger.
Adicionado ao teste de PSA, o exame de toque retal (quando o médico introduz o dedo no ânus do paciente para palpar a próstata) aumenta a chance de detecção.
— Há casos de câncer de próstata com PSA muito baixo. E, eventualmente, o diagnóstico de câncer de PSA baixo será feito com o toque retal. O PSA é superior para detectar, mas os dois juntos ajudam a diagnosticar mais casos. O toque retal é importante — acrescenta o urologista do HCPA.
A urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de Comunicação da SBU e presidente da seccional do Rio Grande do Sul da entidade, acredita que campanhas de conscientização ajudam a levar mais homens aos consultórios. Ao longo dos anos, ela tem observado menor resistência por parte da população.
— Estou na urologia há bastante tempo, antes do PSA, inclusive, quando os homens resistiam muito mais e a doença matava muito. Chegavam só casos graves, de doença avançada, incurável. Hoje, percebemos casos iniciais. Proporcionamos não só a cura, mas qualidade de vida. Oferecemos tratamento com mais resultado, diminuição das complicações e maior qualidade de vida — afirma Karin.
Mesmo se tratando de um problema restrito aos homens, as mulheres — filhas, esposas, namoradas, irmãs — desempenham função importante no incentivo para que eles procurem orientação médica, superando a falta de vontade, o medo e o constrangimento.
— A mulher tem a cultura do cuidado da saúde muito mais arraigada. Uma das formas de convencê-los é que o toque retal não dói, é muito rápido, dura poucos segundos. E o PSA é uma coleta normal de sangue — diz Karin.
Sinais de alerta para câncer ou outras duas doenças da próstata, a hiperplasia prostática benigna (crescimento) e a prostatite (inflamação), que podem ter sintomas semelhantes, incluem diminuição do calibre ou da força do jato urinário, aumento da frequência urinária durante o dia e a noite, sangue na urina ou no esperma, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga e, eventualmente, em quadros mais avançados, dores pélvicas e ósseas (coluna lombar e bacia).
O câncer de próstata
- Depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais comum entre os homens
- Os principais fatores de risco são idade superior a 50 anos; histórico de pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos; alimentação com excesso de gordura animal; exposição a determinados produtos químicos, como as aminas aromáticas (comuns na indústria química, mecânica e de transformação de alumínio) e o arsênio (conservante de madeira e agrotóxico)
- O câncer de próstata pode evoluir sem sinais no início, mas, com o tempo, pode provocar dificuldade para urinar, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, necessidade de urinar várias vezes durante a noite, sangue na urina ou no esperma. Em casos mais avançados, dores pélvicas e ósseas (bacia e coluna lombar) e insuficiência renal
- Hábitos importantes para a prevenção são a prática regular de atividade física, não fumar, evitar o consumo de gordura de origem animal, não se expor aos produtos químicos citados acima
- O diagnóstico combina, em geral, dois exames: dosagem de PSA (exame de sangue para avaliar a quantidade de antígeno prostático específico) e toque retal (o médico apalpa a próstata em busca de nódulos ou tecidos endurecidos). Outros exames podem ser solicitados para confirmação
- O tratamento pode envolver cirurgia, radioterapia e medicamentos, de acordo com cada caso
Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia