A grande cobertura vacinal entre a população proporcionou um cenário favorável no Rio Grande do Sul: setembro foi o mês com o menor número de mortes por coronavírus em dois anos e meio, desde maio de 2020, quando o Sars-Cov-2 recém se espalhava, inicialmente, pelo Estado.
Foram 223 mortes por covid em solo gaúcho no mês de setembro, cerca de sete por dia, mostram dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) analisados por GZH nesta segunda-feira (3). No pior momento da pandemia, em março do ano passado, quando hospitais lotaram, foram 7.344 vítimas no mês, ou 236 diárias.
O total de mortes por coronavírus em setembro foi, também, quase metade do registrado em junho, julho e agosto. O Estado ainda contabilizou cerca de 23 mil infecções novas, mas o indicador é amplamente subnotificado em função da queda no número de testes entre a população. De toda forma, o momento agora é de endemia, quando a doença está em níveis controlados e já esperados, avaliam dois médicos ouvidos pela reportagem.
— Hoje, vivemos um dos melhores cenários da covid. Temos um padrão de endemia há algum tempo, comportamento que se espera para viroses respiratórias. Quem fica doente são basicamente os muito idosos, imunossupressos e pessoas com esquema vacinal incompleto. Não vemos mais jovem nem pessoas com menos de 60 anos sem nenhuma comorbidade — explica Cezar Riche, médico infectologista no Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre.
Estatísticas compiladas pelo governo do Estado apontam que 46,4% dos mortos por coronavírus no Rio Grande do Sul em setembro tinham entre 60 e 79 anos. Outros 41,1% eram idosos com 80 anos ou mais. Cerca de 10% das vítimas tinham entre 40 e 59 anos. Uma minoria era jovem.
A normalidade na rotina fora prevista pela ciência, que defendia a importância de ampliar a cobertura vacinal. Até esta segunda-feira, 16% de toda a população gaúcha tomou quarta dose, 54% receberam três vacinas e 82%, duas aplicações.
As internações hospitalares também apresentam tendência contínua de melhora, em um dos melhores cenários da pandemia. Nesta segunda-feira, havia 43 pacientes com coronavírus internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), algo visto somente no início de 2020. Um mês atrás eram 85 e, no pior momento da pandemia, eram mais de 2,6 mil internados em leitos intensivos.
As hospitalizações em leitos clínicos, para casos de menor gravidade, também apresentam redução: eram 110 nesta segunda-feira - exatamente um mês atrás, eram quase 300.
— A pandemia saiu do pior momento. E agora está em período endêmico. Daqui para a frente, se espera um número de novos casos menor e sobretudo uma mortalidade menor. Haverá períodos sazonais de maior disseminação viral, mas se espera que, com a vacinação, a mortalidade permaneça em patamares menores — diz a médica infectologista Danise Senna Oliveira, professora na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Entre grandes cidades do Rio Grande do Sul, as maiores taxas de mortalidade por coronavírus são em Canoas, Capão da Canoa, Porto Alegre e Novo Hamburgo, ainda conforme dados da SES-RS.
— Devemos manter nível baixo de transmissão nos próximos meses. A tendência é que a gente siga vendo casos. Agora, estamos chegando ao fim da pandemia, em termos de circulação de pessoas e de mudança na rotina? Acho que sim. Mas, dentro de estabelecimentos de saúde, ainda temos que manter mais tempo os cuidados para não nos arrepender de nenhuma medida precipitada — reflete o infectologista Cezar Riche.