A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre admite ter "no radar" a possibilidade de suspensão temporária das cirurgias eletivas, se as emergências da área adulta das unidades de pronto atendimento e dos hospitais da Capital permanecerem com superlotação nos próximos dias. Nesta sexta-feira (27), pelo menos cinco hospitais e as quatro UPAs da cidade estão com lotação acima de 100%.
De acordo com o diretor adjunto de Atenção Hospitalar e Urgências da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Francisco Isaias, a medida é a última na lista de três ações pontuadas pela SMS para tentar reduzir a lotação nas unidades de saúde da Capital.
— Nossa preocupação é com a qualidade de vida dos porto-alegrenses. Se tiver que suspender para abrir leitos clínicos, talvez seja uma saída. Não estou dizendo que ela foi tomada, mas a colocamos no nosso radar na tentativa de descomprimir a urgência e a emergência da cidade, que hoje está acima do limite do aceitável — afirma.
Segundo Isaias, um dos problemas atuais na Capital é a alta taxa de atendimentos de moradores da Região Metropolitana e do interior, que representa cerca de 40% de todos os atendimentos nas emergências da Capital. Francisco relatou que na manhã desta sexta-feira, em uma reunião envolvendo a Secretaria Estadual da Saúde e representantes da saúde de municípios da Região Metropolitana, foi definido que pacientes de baixa e média complexidade que estavam sendo encaminhados para Porto Alegre voltem a ser atendidos nas suas cidades de origem. Isaias também destacou que Porto Alegre pretende ampliar em pelo menos mais 120 o número de leitos clínicos adultos de média complexidade até a segunda quinzena de junho.
Isaias destaca também que as síndromes respiratórias, incluindo covid-19, são a principal causa de aumento de atendimentos na porta de entrada, representando mais de 50% dos casos de baixa e média complexidade. Há, inclusive, instituições já providenciando áreas exclusivas para atendimento destes casos, como no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), que na terça-feira (24) abriu uma área de atendimento na emergência apenas para pacientes com sintomas respiratórios. No Hospital Moinhos de Vento, uma área específica para pacientes com síndromes respiratórias será criada a partir da próxima segunda-feira (30), já que 40% dos atendimentos na emergência são por alguma síndrome respiratória, entre elas, covid-19 — que representa 20% dos pacientes testados na emergência.
Por volta das 17h desta sexta-feira (27), a emergência adulta do Hospital de Clinicas de Porto Alegre estava com 128 pacientes em observação numa área destinada a 55 leitos, ou seja, 232,73% de lotação. No Hospital Santa Casa de Misericórdia, havia 50 internados numa área destinada a 24 leitos (208,33%). O Instituto de Cardiologia, o Hospital Nossa Senhora da Conceição e o Hospital da Restinga também estão com as emergências acima dos 100% de lotação.
Nas unidades de pronto atendimento, a situação está ainda pior. No Pronto Atendimento da Bom Jesus, há 27 pacientes em observação onde deveria ter apenas sete leitos. No Pronto Atendimento da Cruzeiro, há 31 pacientes onde deveriam ter 12. Na Lomba do Pinheiro, que tem nove leitos de emergência, há 22 pacientes internados .
Situação semelhante ocorre na Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar, na Zona Norte, onde há 50 pacientes internados em observação numa área para 17 leitos, totalizando 294,12% de lotação. Conforme a gerente da unidade, Jaqueline Cesar Rocha, diariamente são atendidas cerca de 300 pessoas. Metade dos atendimentos estão relacionados a síndromes respiratórias e os outros 50% de todas as outras doenças. Para tentar resolver a situação, Jaqueline relata que a UPA abriu novas áreas de internação, inclusive em uma sala que seria para medicação.
— O maior volume é de atendimento de consultório, mas também estamos recebendo pacientes com sintomas mais intensos e que acabam precisando de internação. E como a disponibilidade de leitos (em Porto Alegre) não está acontecendo de acordo com a nossa demanda, estamos acumulando pacientes na área das doenças respiratórias e na área de doenças crônicas e agudas, com pacientes precisando de internação. A média de tempo de internação na UPA até conseguir um leito ou ser liberado é de três dias, mas há pacientes que chegam a ficar até oito dias internados conosco antes de conseguir um leito em hospital — relata a gerente.