Pela primeira vez em três décadas, o prêmio mais cobiçado da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) vem para o Brasil. A distinção, considerada o Oscar da especialidade, foi conquistada pelo oncologista Pedro Isaacsson Velho, 36 anos, chefe do Instituto de Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Natural de Pelotas, Isaacsson é focado no estudo do câncer de próstata. O projeto que lhe garantiu o Career Development Award (Prêmio pelo Desenvolvimento de Carreira, em tradução livre) da The Conquer Cancer Foundation, ligada à Asco, prevê o uso de testosterona (hormônio masculino) para o tratamento da doença em estágio avançado, quando já há metástase.
Uma brasileira radicada na França também foi contemplada com o Career Development Award. A cerimônia de entrega será em 4 de junho, em Chicago, nos Estados Unidos, durante o congresso anual da Asco, um dos maiores do mundo.
Inovadora, a terapia do HMV vai na direção contrária do que é feito atualmente: aumenta, ao invés de diminuir, o nível de testosterona no organismo do paciente.
— Isso, feito da maneira correta, com doses e periodicidade certas, reduz o tumor e o PSA (marcador tumoral). Quando o PSA aumenta, sinaliza a piora do câncer, quando diminuiu, sinaliza a melhora — explica o oncologista.
O HMV já desenvolve uma linha de pesquisa que trabalha com a testosterona, isoladamente ou em combinação com outras substâncias. No caso de Isaacsson, a aposta é na testosterona mais o radiofármaco Radium-223, administrado por infusão. O Radium-223 foi aprovado pelo FDA, órgão regulador de medicamento nos EUA, e também pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há alguns anos.
— Vamos tratar o câncer do paciente melhorando a qualidade de vida dele, revertendo a disfunção erétil, a perda de massa muscular, o cansaço, a anemia — enumera o médico.
Além do destaque internacional, Isaacsson receberá a quantia de US$ 200 mil, a serem investidos na continuidade da pesquisa no HMV. Está previsto para começar em julho o recrutamento de cerca de 50 voluntários. A maior parte da seleção ficará por conta da instituição gaúcha, enquanto outra será conduzida pela universidade norte-americana Johns Hopkins, parceira do HMV e local onde o oncologista fez especialização, atuou na prática clínica e se tornou professor.
Extasiado com a notícia, Isaacsson comenta o significado da premiação:
— É espetacular. Nosso projeto só foi vencedor porque tem muita consistência e qualidade científica, tem nível mundial. Isso é fruto de muito trabalho e investimento do hospital. Para a minha carreira, é importantíssimo, me coloca em pé de igualdade com os maiores pesquisadores do mundo nessa área. É uma grife que tenho agora, o que vai facilitar a aquisição de mais fundos de entidades financiadoras.
Em 2019, aos 33 anos, Isaacsson recebeu outra distinção de grande prestígio: o Global Young Investigator, também da Asco, concedido a jovens pesquisadores, em reconhecimento a um estudo sobre a imunoterapia contra o câncer de próstata.