"Absurdo", "frustrante". É uma situação estressante e inimaginável para muitos pais: os Estados Unidos vivem uma rara escassez de leite em pó para bebês, agravada pelo fechamento de uma fábrica da farmacêutica Abbott.
— Assim que meu bebê nasceu, notei que havia um problema e, na semana que vem, ele completará sete meses — contou Sara Khan à AFP.
Esta mãe descreve a dificuldade para encontrar caixas de leite em pó nos estabelecimentos do país. Até agora, ela dependeu de amigos e familiares, que lhe enviavam caixas de leite cada vez que encontravam uma.
— É um absurdo — acrescentou, ao lembrar que chegou a importar o produto da Alemanha.
A situação piorou quando, em 17 de fevereiro, após a morte de dois bebês, a Abbott anunciou a "retirada voluntária" do produto em sua fábrica de Michigan. No Brasil, em março, a Anvisa determinou recolhimento de cinco marcas de fórmulas infantis.
Uma investigação posterior não encontrou evidências de que as mortes estivessem relacionadas com a fórmula infantil de leite em pó da Abbott. Contudo, a produção ainda não foi retomada, piorando ainda mais a escassez provocada por problemas na cadeia de suprimentos e pela falta de mão de obra, derivados da pandemia de covid-19.
Segundo a plataforma de dados sobre consumo Datasembly, o índice de desabastecimento de leite em pó para bebês chegou a 43% no fim de semana passado, um número 10% superior à média de abril.
— É muito frustrante porque não é como se o problema tivesse surgido da noite para o dia — diz, indignada, Olivia Espinosa.
Normalmente, hospitais e pediatras entregam aos pais diversas amostras de leite em pó para poder determinar qual é a melhor para o bebê. Contudo, são poucos os que ainda têm o produto em estoque.
Reflexo político
Até mesmo para as crianças que não têm uma sensibilidade particular ao produto, a situação é complicada, segundo Sara Khan. Além dos problemas de abastecimento, os pais lamentam os custos, no momento em que as lojas on-line duplicaram e, até mesmo, triplicaram os preços.
"Sabemos que muitos consumidores não puderam ter acesso ao leite em pó infantil e aos alimentos médicos que estão acostumados a usar. Estamos fazendo o possível para garantir que haja um produto adequado disponível, onde e quando necessitem", disse Robert M. Califf, da agência de medicamentos federal (FDA, na sigla em inglês), em um comunicado emitido na noite de terça-feira.
Nesta quarta-feira (11), a Abbott disse que "lamenta profundamente a situação". "Desde a retirada dos leites do mercado, estamos trabalhando para aumentar o fornecimento em nossas outras fábricas registradas pela FDA", inclusive produzindo mais e importando o produto, afirmou a empresa.
O caso já está ganhando contornos políticos. "Exijo a ação da FDA (dirigida pelo governo) Biden para lidar com a crise de leite em pó para bebês. Os pais de todos os Estados Unidos não podem esperar nem mais um segundo", tuitou a congressista republicana Elise Stefanik.
Outra legisladora, a representante da extrema-direita Marjorie Taylor Greene, também teceu críticas no Twitter ao afirmar que "o Congresso (de maioria democrata) quer enviar quase 40 bilhões de dólares para a Ucrânia enquanto as mães americanas não encontram leite para bebês".
Por sua vez, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse à emissora CNN, no início desta semana, que o governo Biden está trabalhando "dia e noite" para encontrar soluções.
* AFP