O Brasil tem dois casos suspeitos de varíola dos macacos, um em Santa Catarina e outro no Ceará, anunciou o Ministério da Saúde nesta segunda-feira (30). Até agora, a pasta não registra casos confirmados no país.
Um paciente de Porto Alegre, que apresentou sintomas, é monitorado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). O caso ainda não classificado como suspeito.
Segundo a SES, o caso no Rio Grande do Sul é acompanhado por profissionais e se trata de um homem que voltou ao país após um viagem ao exterior no início deste mês. A informação foi confirmada na manhã desta segunda-feira (30). A SES afirma que o paciente tem outro diagnóstico confirmado e, por isso, dialoga com o Ministério da Saúde se será considerado um caso suspeito de varíola dos macacos.
O outro diagnóstico não foi informado pela pasta. Por ainda não considerar suspeito, a SES disse que não vai divulgar informações como histórico de viagem do paciente ou mais detalhes do caso. Conforme matéria publicada pelo jornal O Globo, o paciente veio de Portugal para visitar a mãe no último dia 10. Ele teria apresentado os primeiros sintomas três dias depois e, em 20 de maio, teria apresentado as lesões na pele, outro sintoma da doença.
A reportagem também contatou o Ministério da Saúde, que afirmou que ainda não há casos confirmados no país. No entanto, a situação segue sob investigação.
O que é varíola dos macacos?
A varíola dos macacos, ou ortopoxvirosis simia, é uma doença rara cujo patógeno pode ser transmitido do animal para o homem e vice-versa. Quando o vírus se propaga para o ser humano, é principalmente a partir de diversos animais selvagens, roedores ou primatas. A transmissão de um ser humano para outro é pequena, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Sintomas
Os sintomas são semelhantes, em menor escala, aos observados em pacientes antigos de varíola: febre, dor de cabeça, dores musculares e dorsais durante os primeiros cinco dias. Depois, aparecem erupções - no rosto, palmas das mãos e solas dos pés -, lesões, pústulas e finalmente crostas.
Origem
Esta doença foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, em um menino de nove anos que vivia em uma região onde a varíola havia sido erradicada desde 1968.
Desde 1970, foram registrados casos humanos de ortopoxvirosis simia em 10 países africanos. No início de 2003, também foram confirmados casos nos Estados Unidos, os primeiros fora do continente africano. Até agora, existem mais de 200 casos confirmados ou suspeitos em cerca de 20 países onde o vírus não circulava anteriormente.
Agora, a doença chama atenção das autoridades de saúde do mundo inteiro por causa de casos registrados em países onde a varíola dos macacos não é endêmica. Portugal já registrou 20 casos, enquanto a Espanha relatou ao menos 30.
Como é transmitida?
A infecção nos casos iniciais se deve ao contato direto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou membranas mucosas de animais infectados.
A transmissão secundária, de pessoa para pessoa, pode ser resultado do contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias, lesões na pele de uma pessoa infectada ou objetos recentemente contaminados com fluidos biológicos ou materiais das lesões de um paciente.
O Butantan ressalta que residentes e viajantes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas). Devem também “abster-se de comer ou manusear caça selvagem”.
O período de incubação da varíola dos macacos costuma ser de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias, conforme relato do Butantan. Por isso pessoas infectadas precisam ficar isoladas e em observação por 21 dias.
Qual a gravidade?
A varíola dos macacos geralmente se cura por conta própria, com sintomas que duram de 14 a 21 dias. Os casos graves ocorrem com mais frequência em crianças e estão relacionados à extensão da exposição ao vírus, ao estado de saúde do paciente e à gravidade das complicações.
Analisando as epidemias, a taxa de mortalidade apresentou grande variação, mas se manteve abaixo dos 10% em todos os casos documentados, principalmente em crianças pequenas. Estima-se que a cepa da África ocidental, que afetou países de outros continentes, tenha uma taxa de mortalidade em torno de 1%.
Há tratamento?
André Bon, médico infectologista do Hospital Universitário de Brasúlia (UnB) explica que as vacinas contra varíola comum protegem também contra a varíola dos macacos. Ele, no entanto, destaca que não há vacinas disponíveis no mercado neste momento.
– Há apenas cepas guardadas para se for necessário voltarem a ser reproduzidas. Vale lembrar que a forma como a vacina da varíola era feita antigamente não é mais utilizada no mundo. Era uma metodologia um pouco mais antiga e atrasada. Hoje temos formas mais tecnológicas e seguras de se fazer a vacina, caso venha a ser necessário – disse o médico infectologista.
Bon descarta a imediata necessidade de vacina no atual momento, uma vez que não há número de casos que justifiquem pressa:
– O importante agora é fazer a observação de casos suspeitos – disse.
O Instituto Butantan confirma que a vacinação contra a varíola comum tem se mostrado bastante eficiente contra a varíola dos macacos. “Embora uma vacina (MVA-BN) e um tratamento específico (tecovirimat) tenham sido aprovados para a varíola, em 2019 e 2022, respectivamente, essas contramedidas ainda não estão amplamente disponíveis”.
“Populações em todo o mundo com idade inferior a 40 ou 50 anos não tomam mais a vacina, cuja proteção era oferecida por programas anteriores de vacinação contra a varíola, porque estas campanhas foram descontinuadas”, informou o instituto.