A aprovação do medicamento Paxlovid, da Pfizer, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), coloca o Brasil mais perto de uma nova e marcante fase de combate ao coronavírus. Junto das vacinas contra a covid-19, a medicação de via oral, a ser tomada pelos pacientes de maior vulnerabilidade no início dos sintomas, é mais uma forma de prevenção de casos graves e, consequentemente, óbitos.
O Paxlovid é a combinação de comprimidos de nirmatrelvir e ritonavir, a serem tomados juntos, de 12 em 12 horas, ao longo de cinco dias. O ritonavir já é bem conhecido na medicina por conta do combate ao HIV.
— É o primeiro de via oral. Essa é a novidade. Dá para usar em casa — resume o infectologista Claudio Stadnik, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
— Estamos muito contentes com essa possibilidade de tratamento. A vacina era a solução para o controle da epidemia. Mas, para controlar a doença e evitar que as pessoas morram por covid, precisávamos de tratamento. E agora estamos tendo um tratamento para evitar o uso do sistema de saúde. É um complemento à vacina. Para o controle da doença, se dá o remédio — acrescenta o professor da Ulbra.
Um dos pontos que pode dificultar o mais amplo uso da medicação é que o Paxlovid precisa começar a ser administrado nos primeiros cinco dias de sintomas. Realização de exames e consultas, por exemplo, podem acabar tomando tempo e inviabilizando o uso da droga.
— Não é a solução definitiva, mas é um reforço no armamento terapêutico para evitar mortes — acredita Stadnik.
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, recorda que o estudo da Pfizer recrutou participantes não vacinados. Por conta disso, a experiência do remédio no cenário atual, com grande parte de imunizados, principalmente com doses de reforço, pode ter diferença em termos de eficácia.
— Esse medicamento se tornou menos importante no contexto da vacinação das populações de risco. A vacina tem se tornado um grande protetor, faz a prevenção da doença — observa Goldani.
— Mas nem por isso o Paxlovid deixa de ser extremamente efetivo para aquelas pessoas que recebem a vacina e não conseguem desenvolver imunidade. Temos um grupo muito significativo de pessoas que não respondem à vacina — contrapõe o médico, referindo-se aos imunossuprimidos (indivíduos com deficiência no sistema de defesa do organismo).
A novidade do laboratório norte-americano reduz em 89% o risco de internação e morte por covid-19, de acordo com resultados divulgados no final de 2021. Já está à venda nos Estados Unidos, em países da Europa, no Canadá, na China, na Austrália, no Japão e no México. A marca impressionante de eficácia não deve passar a impressão de que os imunizantes se tornaram dispensáveis.
— No contexto atual da vacinação, o Paxlovid é importante, mas muito menos importante do que a vacinação e do que as doses de reforço preconizadas para a população de risco. Um ótimo adjuvante — argumenta Goldani.
O professor da UFRGS também destaca que o remédio tem efeitos adversos de bastante impacto, como complicações gastrointestinais e aumento da concentração de outras drogas que o paciente estiver tomando simultaneamente. Por conta disso, cada caso deverá ser muito bem avaliado pelo médico.
O Paxlovid
- Composto por comprimidos de nirmaltrelvir e ritonavir embalados e administrados juntos.
- Indicado para o tratamento da covid-19 em adultos que não requerem uso de oxigênio suplementar e que apresentem risco aumentado de progressão para quadros graves.
- Venda sob prescrição médica para uso por cinco dias, e não mais do que isso.
- Não está autorizado para início de tratamento em pacientes que necessitam de hospitalização devido a manifestações graves ou críticas da covid-19. Também não deve ser utilizado de forma preventiva para a infecção por coronavírus, antes ou depois de eventual exposição a risco.
- Gestantes não participaram dos testes, então se recomenda a prevenção da gravidez durante o tratamento e até sete dias depois do término.
- Não é recomendado para pacientes com insuficiência renal grave ou falha renal.
- A autorização concedida pela Anvisa em 30 de março de é temporária de uso emergencial, em caráter experimental.