Maria Aline Silveira de Oliveira, 30 anos, não consegue conter a emoção. A técnica em enfermagem da unidade de saúde Morro Santana, em Porto Alegre, se preparava para imunizar na tarde desta segunda-feira (28) o filho Pedro Roberto de Oliveira Frota, oito anos, com a segunda dose da vacina contra covid-19. O momento é de celebração, mas vem com uma memória triste. Em 7 janeiro de 2021, Aline perdeu o pai e a mãe para o vírus, no mesmo dia. Ainda não existia vacina disponível.
O pai dela, Mauro Givan Freitas de Oliveira, havia comemorado o aniversário de 55 anos no dia anterior. Aline e o irmão estavam na expectativa de que ele receberia alta e já pensavam na logística para levá-lo para casa. Uma ligação, no entanto, mudou os planos. Houve uma intercorrência e era necessária uma cirurgia de urgência. O médico contou que o paciente sofreu uma parada cardíaca e problemas neurológicos. Ele não resistiu.
Finalizado o velório, Aline recebeu horas depois a tão temida ligação do hospital. A mãe dela, Jaraina Silveira de Oliveira 55 anos, também não estava bem. Já internada e entubada, não sabia da morte do marido. Dias antes, Aline lembra que havia falado que o pai tinha sido extubado e conta que viu a mãe sorrindo ao saber notícias dele.
Cada vez que eu vacino alguém, eu penso que aquela pessoa não vai passar por aquele sofrimento que eu passei
MARIA ALINE SILVEIRA DE OLIVEIRA
Técnica em enfermagem
— O pai, quando acordou, queria ver ela, mas não deixamos, porque ela estava muito machucada (pela tubulação) — recorda a filha.
Perder os pais no mesmo dia para a doença que ajudava a combater não foi fácil. Aline trabalhava no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre e seguiu com os colegas na batalha contra o vírus. No dia em que o filho Pedro fez a primeira dose da vacina em Esteio, ela preparou uma homenagem. O menino usou uma camiseta com a foto dos avós, que moravam junto com a família. Com o avanço da doença, não teve a oportunidade de se despedir dos dois.
– As pessoas não têm noção do que é tu não te vacinar e alguém contrair covid. Todo mundo fala “ai eu me vacinei, mas peguei covid”, mas tu não foi pra UTI, tu não ficou todo machucado. A minha mãe ficou irreconhecível, ela estava com o tubo que machucava o rosto todinho. A gente velou ela e era outra pessoa. Não era ela – desabafa Aline.
A técnica em enfermagem finaliza a entrevista fazendo um apelo para que as pessoas não deixem de se vacinar.
– Eu não desejo isso pra ninguém, por isso que hoje cada vez que eu vacino alguém, eu penso que aquela pessoa não vai passar por aquele sofrimento que eu passei, e por isso que eu acho que é tão importante cada um levar o seu ente querido, ir se vacinar, porque mesmo que o teu familiar não esteja vacinado, tu está te protegendo e protegendo ele, então acho que as pessoas não estão conseguindo assimilar o quanto é importante tu não precisar passar por um sofrimento desses.