Chamada de"flurona", a coinfecção entre os vírus sars-cov-2, que provoca a covid-19, e Influenza, causador da gripe, pode ser mais comum do que se sabe até o momento. Uma das explicações é a testagem ser feita para um vírus ou outro, sem prosseguimento para distinguir se há o outro patógeno. É o que sugere o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-ômica do Ministério da Ciência.
De acordo com o pesquisador, a coinfecção entre o vírus da covid-19 e o da gripe já havia sido encontrada até mesmo no Rio Grande do Sul, logo no início da pandemia.
— Não tem acontecido só agora. Já em 2020, a gente encontrava casos de coinfecção entre gripe e sars-cov-2, mas muito mais raros porque a gripe circulava pouco. Agora, o que nós temos é a tempestade perfeita, pois há uma cepa de gripe nova, a Darwin (H3N2), e a variante Ômicron funcionando juntas, além das pessoas muito expostas — afirmou Spilki em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (4).
O contexto de uma maior exposição das pessoas com a retomada das atividades, o não uso de máscaras ou uso de forma inadequado da proteção e um perfil vacinal incompleto podem tornar mais suscetível a contaminação pelos dois vírus. Assim, se realizada uma testagem em massa, a probabilidade de mais casos de "flurona" serem detectados é grande, de acordo com Spilki, que explica que a coinfecção é comum em doenças respiratórias, mas não necessariamente incide em um quadre mais grave.
— Do ponto de vista celular, é difícil que os dois acabem infectando a mesma célula. Mas a maior chance é que um vai infectar mais uma região do pulmão, o outro vai infectar mais o trato respiratório superior, por exemplo, ou eles vão até coabitar nos órgãos, mas eles vão estar se replicando em ambientes distintos. Dessa forma, o que provavelmente ocorre é que um sobrepuja o outro, vai ter uma doença mais eloquente de um vírus e outro fica de canto.
Na entrevista, o virologista reafirmou a importância da testagem para evitar que pessoas não vacinadas ou com o esquema vacinal incompleto tenham contato com pessoas infectadas. A testagem também serve, na avaliação de Spilki, para rastrear a circulação do vírus e monitorar a eficácia das vacinas.
Ouça a entrevista completa: