Em tempos de crise no setor público, com municípios buscando cada vez mais parcerias privadas para cumprir seu papel, levantar uma obra do zero só com dinheiro público parece ousado. Mas é isso que a cidade de Eldorado do Sul pretende fazer. Com pouco mais de 40 mil habitantes, a cidade é a menos populosa entre os 12 maiores municípios da Região Metropolitana. Fato que não intimida a titular da pasta municipal da Saúde, Juliana Carvalho. Eleita como vereadora no pleito mais recente, ela se licenciou do cargo para assumir a secretaria, em razão da longa experiência e formação técnica na área da Saúde – Juliana dirigiu a secretaria em outros dois períodos.
Foi a secretária Juliana quem, na semana passada, apresentou à Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) o projeto de construção de um hospital regional em Eldorado. O prédio, construído do zero, deve ter 40 leitos clínicos, cirúrgicos e de saúde mental. Com atendimento em especialidades, o local poderá receber pacientes de outras cidades encaminhados pelo gerenciamento do Estado, uma forma de obter verbas para que o hospital funcione.
E como uma pequena cidade encravada entre o Rio Jacuí e o Lago Guaíba pretende levantar R$ 5 milhões para construir o prédio onde funcionará o hospital? Juliana explica que Eldorado do Sul trabalha há anos na prospecção de empresas que pudessem vir para a cidade, impulsionando o crescimento natural do município que está a apenas 17 quilômetros – ou 20 minutos – do centro de Porto Alegre. Com os frutos desse crescimento sendo colhidos, os próximos dois anos projetam superávit financeiro.
– Nosso setor industrial cresceu muito e agora a cidade começa a ver o resultado dessa expansão – pontua Juliana.
Apesar de ser apresentado como projeto, Juliana diz que o hospital já é uma realidade. A verba da construção virá dos cofres da prefeitura, mas também há importante participação do Legislativo. O sonho de a cidade ter um hospital é antigo. E com essa motivação, vereadores vêm destinando emendas para a construção. Inclusive alguns que não se reelegeram no último pleito já haviam destinado verbas antes mesmo do pleito. Conforme a secretária de Saúde, metade do valor do hospital deve vir de emendas da Câmara Municipal.
– É uma união que eu, particularmente, nunca vi. Temos vereadores tanto da situação quanto da oposição empenhados em ajudar nessa obra – avalia Juliana.
Objetivo é dar início à construção em 2022
Mas, o que de concreto já existe acerca do hospital regional? Juliana conta que a titular da SES-RS, Arita Bergman, aprovou a possibilidade de o Estado gerenciar pacientes para Eldorado do Sul. Agora, o município trabalha na montagem do plano assistencial da unidade. O documento deve definir quais especialidades serão atendidas no local. A decisão será tomada a partir da constatação de quais são as maiores necessidades dentro da região que o hospital poderá atender.
– Até o final do ano definimos as áreas de abrangência do atendimento. Com isso, começamos o próximo ano executando os projetos de engenharia e arquitetura – projeta Juliana.
Com os projetos prontos, a prefeitura monta um edital de licitação e a concorrência pública é aberta. Após, o vencedor do pleito inicia as obras, se não houver problemas quanto à homologação do contrato. O objetivo da prefeitura é que as obras comecem durante o ano de 2022. Depois de pronto, o hospital ainda precisará ser mobiliado. Parte do valor deve vir do município, além de emendas parlamentares de deputados federais. Ainda não há previsão de funcionamento, mas isso não deve ocorrer antes do próximo ano.
Atualmente, os cuidados de emergência em saúde de Eldorado do Sul são abarcados no Pronto-Atendimento (PA) 24 horas da cidade. Com a abertura do hospital regional, surge a preocupação de que o local possa deixar de atender. Entretanto, a secretária Juliana Carvalho garante que o PA seguirá funcionando normalmente. O objetivo é que o hospital venha para ampliar o atendimento e não reduzi-lo, conforme a administração de Eldorado.
Outro ponto relacionado ao hospital é a abertura de uma maternidade. Isso deveria ter ocorrido em Guaíba, cidade vizinha que há alguns anos pleiteia o projeto abertura de maternidade na região. A SES-RS confirma que a maternidade pode mudar de local, caso Guaíba venha “a declinar da abertura da área de obstetrícia”.