Entrevistadores estão percorrendo as ruas do Brasil e batendo de porta em porta para checar como está a carteira de vacinação de crianças entre três e quatro anos. A pesquisa foi contratada pelo Ministério da Saúde após se observar uma queda nos índices gerais de imunização deste público. Em Porto Alegre, o estudo tem enfrentado um empecilho: o difícil acesso às classes A e B.
Acompanhando o andamento da pesquisa, o professor do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Sotero Serrate Mengue diz que o objetivo é analisar a vacinação de cerca de 1,3 mil crianças entre três e quatro anos que residem na Capital. As entrevistas iniciaram em junho e, até agora, só se atingiu 70% da meta.
De acordo com o Programa Nacional de Imunização (PNI), há doenças que antigamente tinham ampla adesão nacional e agora estão perdendo cobertura. A poliomelite, por exemplo. Em 2012, a cobertura nacional contra a doença que pode provocar a paralisa infantil era de 96,6%, mas caiu para 69,2% em 2018.
Com a pesquisa, o Ministério da Saúde quer entender o motivo de os adultos estarem abandonando a imunização das crianças. Houve facilidade para acessar famílias situadas em bairros mais pobres de Porto Alegre, mas, em áreas mais abastadas, o esquema de segurança dos condomínios acaba dificultando o trabalho e impedindo até mesmo que os moradores saibam que, no térreo, há entrevistadores querendo saber se os pequenos tomaram todas as vacinas necessárias e, se não, por que deixaram de fazê-lo.
— A gente não quer entrar no prédio, a gente pode fazer isso na grade. É uma entrevista de poucos minutos. É até mais interessante que o entrevistador não suba, porque assim ganha tempo — garante Mengue.
Para o professor, a queda na adesão se deve ao surgimento dos movimentos antivacina e à sensação de segurança conferida pelo sucesso das campanhas de imunização. Quando uma doença tem ampla cobertura vacinal, ela desaparece, o que pode deixar a impressão de que não é mais necessário combatê-la.
— Como são doenças que desapareceram, a noção do perigo desapareceu. Mas ninguém se dá conta de que, deixando de vacinar, as doenças voltam — diz.