O Rio Grande do Sul registrou 13 mortes por coronavírus neste sábado (25) e somou dois dias seguidos de alta na média móvel de óbitos comparada a duas semanas antes — situação que não ocorria desde a metade de junho.
Esse crescimento coincide com sinais recentes de aumento de novas internações hospitalares por covid-19 no Estado. O período é muito curto para sugerir uma eventual reversão de tendência, mas leva especialistas a reforçarem a importância de se manter cuidados preventivos, como uso correto de máscara e distanciamento social.
— Vínhamos em queda consistente de óbitos. Quando ocorre uma interrupção, isso já deve servir de alerta. Precisamos observar se haverá ou não uma reversão dessa tendência. Embora estejamos vacinando bem, ainda há muitas pessoas que não estão imunizadas - sustenta o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
As 13 vítimas notificadas no mais recente boletim da Secretaria Estadual da Saúde (SES) representam um número relativamente baixo para este dia da semana — iguala o patamar verificado 14 dias atrás, que havia sido o menor número em mais de um ano para um sábado.
Mas, quando se incluem na conta as mortes verificadas ao longo dos sete dias anteriores, a média móvel chega a 20,9 e marca um crescimento de 17% em comparação a duas semanas antes.
Na véspera, sexta-feira (24), o avanço da média móvel de óbitos havia ficado em 19%, o que também aponta para um agravamento. Esse quadro sucede um longo período de declínio nas notificações de mortes por coronavírus: desde a primeira quinzena de junho, o Rio Grande do Sul não via dois dias seguidos de subida na média móvel acima do patamar de 15% que, por critérios epidemiológicos, configura a diferença entre estabilidade e agravamento ao longo de um período de 14 dias.
— Temos uma provável sedimentação da variante Delta, mais transmissível, ao mesmo tempo em que algumas pessoas já estão imunizadas há mais de seis meses, o que pode resultar em alguma diminuição da imunidade, e outras ainda não têm o esquema vacinal completo (53% dos gaúchos ainda não estão imunizados integralmente). Por isso, é importante manter medidas como o uso correto de máscaras adequadas — observa o infectologista Ronaldo Hallal, membro da Sociedade Riograndense de Infectologia.
Internações
O cenário atual é visto com atenção porque outros indicadores também inverteram o sinal nos últimos dias. O acumulado semanal de novas internações por covid (indicador monitorado pela SES que reúne leitos clínicos e de UTI) passou de 376, na terça-feira (21), para 482 na sexta (24), última data com informações disponíveis no Boletim Regional do Sistema 3 As publicado neste sábado. Isso representa uma subida de 28% em apenas três dias.
É possível que o feriado de 20 de setembro tenha represado parte dos registros feitos via Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) e ampliado essa variação de curto prazo. Por isso, será importante seguir monitorando esse dado. Quando se compara a informação da sexta com a de uma semana antes, também se observa uma subida, ainda que mais suave: o acumulado semanal de 445 novos doentes observado no dia 17 oscilou 8% para cima nesse intervalo.
Essa cifra abrange somente o ingresso de novos pacientes. O número de leitos ocupados, que é determinado ainda por eventuais altas ou óbitos ocorridos no período, apresenta situação de estabilidade nas UTIs quando comparado a duas semanas atrás — leve recuo de 3%. Mas, quando se analisa um período um pouco mais curto, se percebe uma ligeira subida: o Boletim de Hospitalizações da SES informa que havia 410 doentes em UTIs em 15 de setembro, cifra que na tarde de sábado estava em 433.
Os leitos clínicos, onde ficam os pacientes menos graves, sugerem uma situação mais favorável. O site da SES indicava 414 internados na tarde de sábado, patamar mais baixo desde fevereiro. Por isso, será importante observar os diferentes indicadores ao longo dos próximos dias para se ter mais clareza sobre os rumos da pandemia no Rio Grande do Sul.
O temor é de que a combinação entre retomada das atividades e descuido com medidas de precaução possa voltar a aumentar a quantidade de doentes em um panorama de vacinação ainda parcial.
— Essas variações devem servir como alerta para um cenário que pode ficar mais sério do que estamos vendo agora. Estamos com uma circulação de pessoas que praticamente se iguala ao cenário pré-pandemia, com gestores voltando a permitir eventos, enquanto temos uma variante muito transmissível ainda em circulação — complementa Hallal.
O epidemiologista Paulo Petry reafirma que a Delta aumenta a importância da aplicação de doses de reforço das vacinas em idosos, imunossuprimidos e profissionais de saúde, além da retomada de cuidados básicos, como uso de máscara e ventilação de ambientes.
— Há muitas pessoas com a sensação de que a pandemia já acabou, mas isso não é verdade — reforça Petry.
O mais recente boletim da SES indica ainda que foram notificados 1.432 novos casos de covid-19 no Estado, o que representa queda de 27% na média em comparação a duas semanas antes. Com os últimos registros, os gaúchos somam 34.741 vítimas do coronavírus desde o começo da pandemia e 1.432.844 pessoas contaminadas — das quais 97% se recuperaram, 2,4% morreram, e o restante segue em observação.