Em um cenário atribuído ao avanço da vacinação, cerca de dois terços dos municípios do Rio Grande do Sul não registraram nenhuma morte por coronavírus ao longo do mês de agosto.
Dados oficiais analisados por GZH apontam que 313 cidades gaúchas terminaram esse período sem notificar vítimas deixadas pela pandemia – o equivalente a 63% do Estado. Embora o acumulado de óbitos ainda seja motivo de preocupação, o cenário é bem mais favorável do que o registrado no mês anterior.
Em julho, segundo as planilhas de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), 230 prefeituras figuravam na lista de locais sem comprovação de vítimas da covid-19, ou 45%. Isso significa que mais da metade das localidades do Rio Grande do Sul ainda perdia moradores para a doença. Essa balança se inverteu no mês passado, e uma das principais razões apontadas para esse novo indício de recuo da pandemia é o efeito da vacinação combinada ao impacto ainda moderado da variante Delta.
– É inequívoco que a situação tem melhorado, porque vários dados apontam para isso. Essa situação tem correlação direta com o aumento da vacinação. É justamente o que se esperava, já que os estudos demonstram que vacinas são eficientes – avalia o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Na tarde desta terça-feira (14), o Estado se aproximava de 42% da população integralmente imunizada contra o coronavírus. Embora ainda não seja o suficiente para cortar a cadeia de transmissão da doença, ajuda a reduzir a proporção de casos graves e mortes.
O desempenho dos imunizantes é potencializado pelo avanço mais suave da Delta em comparação a outros países.
– Aqui no Brasil, essa variante não entrou com a velocidade que vimos em outros lugares, como a Europa, talvez porque mantivemos alguns cuidados que eles já tinham abolido, a exemplo do uso de máscara - complementa Petry.
A grande maioria dos municípios livres de perdas em agosto é formada por localidades de pequeno porte, mas a lista já começa a incluir cidades de tamanho médio como Santa Vitória do Palmar, com 30 mil habitantes, Igrejinha (37 mil), Estância Velha (50 mil), São Borja (60 mil) e Vacaria, com quase 70 mil moradores. Conforme o boletim epidemiológico de Vacaria de segunda-feira (13), naquele momento havia uma única pessoa internada em razão da covid na cidade, em leito clínico.
Essa tendência de um universo cada vez maior de regiões do Estado sem velórios causados pela pandemia acompanha a diminuição no acumulado mensal de óbitos vinculados à covid. Entre julho e agosto, essa cifra caiu 54% e passou de 1.679 para 764 vítimas.
Há ainda casos como o de Canoas, que registrou mortes devido ao vírus no mês passado, mas agora está há vários dias sem novas notificações. O último registro canoense, entre uma população de quase 350 mil pessoas, é de um caso do dia 3 de setembro – o que resulta em quase duas semanas sem novas ocorrências.
– É uma informação importante do ponto de vista epidemiológico e social. Não queremos nenhum óbito, mas sabemos da complexidade da doença. Esse resultado é fruto do avançado processo de vacinação, com ampla testagem e estrutura de leitos, que também ajudam – observa o secretário da Saúde de Canoas e presidente do Conselho das Secretarias Municipais da Saúde do Estado (Cosems/RS), Maicon Lemos.
Paulo Petry lembra que é importante manter todos os cuidados necessários para prevenir a transmissão do coronavírus, e que, por vezes, falhas ou atrasos no processo de notificação também podem dar a impressão de que o cenário é um pouco mais favorável do que na realidade. Por isso, deve-se manter iniciativas como uso de máscara e distanciamento social.