A diferença de faixa etária da população que está sendo vacinada com primeira dose contra a covid-19 entre os municípios do Rio Grande do Sul tem chamado atenção. De acordo com levantamento feito entre 6 e 9 de agosto pelo Conselho Municipal das Secretarias de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), o público varia de 18 a 41 anos de idade. Responderam ao questionário 279 (56,13%) das 497 prefeituras gaúchas.
GZH ouviu gestores de saúde de municípios e do Estado para entender essa disparidade. Os motivos apontados são os mais variados e não querem dizer, por exemplo, que algum lugar que está vacinando pessoas com 18 anos possa estar adiantado. E nem que estar imunizando com 41 anos ou mais esteja atrasado.
Entre as justificativas mencionadas está o perfil etário de cada cidade. Se possuir muitas pessoas idosas, consequentemente, poderá ter alcançado mais gente, já que esse público foi o primeiro a receber as doses. O mesmo vale para as comorbidades. Quanto mais gente com doenças crônicas em determinados municípios, mais pode ter segurado ou adiantado a vacinação nas faixas etárias.
Existe uma diferença também quando se faz a comparação com municípios de fronteira, que receberam mais doses para fazer uma espécie de cinturão de imunização para barrar a doença vinda dos países vizinhos.
Outro fator é a própria gestão da vacinação. Como cada prefeitura define a forma de aplicação, ela poderá adiantar as faixas etárias ou, se for o caso, segurar a abertura de novos públicos. Tem prefeitura que decide ampliar as idades quando a busca já está baixa. Outras preferem fazer mais a chamada busca ativa e vacinar o público que não está indo aos locais de vacinação.
Em Parobé, por exemplo, a vacinação está na faixa etária dos 18 anos ou mais. Para a secretária de Saúde da cidade, Ana Elisa de Lima, não há motivo para esperar quem não se vacinou para abrir novas faixas etárias quando a procura está baixa.
— Eu sei que tem pessoas com 40 anos chegando e que só agora estão aceitando. Estamos com a busca ativa das pessoas que não vieram. Os motivos são os mais variados, desde não querer tomar a vacina até estar viajando — destaca Ana.
Porto Alegre
Em Porto Alegre, a vacinação está aberta para pessoas com 24 anos ou mais. Conforme o diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter, o município poderia estar mais avançado na faixa etária, mas entende que tem de seguir a busca por esses mais velhos que ainda não se imunizaram.
— Tem muita gente com 25, 30, 40 anos que não veio se vacinar. Tem faixas etárias em que 20% das pessoas não se vacinaram, ainda. Tem faixas etárias em que 37% dos homens não se vacinaram. Os homens têm se vacinado menos — relata Ritter.
Segundo o diretor, será feito um estudo para saber os motivos que levam essas pessoas a não se vacinarem. Sobre essa disparidade de faixas etárias, avalia que o perfil de cada cidade também influencia. Se tem muitas escolas, muitos hospitais, muitos profissionais de segurança pública, todos que tiveram prioridade na vacinação, por exemplo.
— A gente termina o dia tendo vacina e, então, diminuímos a idade. A gente chegou a esperar três, quatro dias o público. Mas mudamos a estratégia. Não queremos ficar com vacina estocada esperando pessoas. Vai chegar uma hora em que vamos ter que buscar essas pessoas — complementa.
Para se ter uma ideia, na faixa dos 40 anos, por exemplo, 30% desse público não apareceu para receber a primeira dose da vacina.
Presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de São Borja, Eduardo Bonotto diz que a entidade tem recebido reclamações de algumas cidades que consideram injusta a forma de distribuição das vacinas.
— Temos alguns municípios dizendo que estão recebendo menos do que acham que deveriam. Entramos em contato com a Secretaria Estadual da Saúde, que se comprometeu a rever eventuais gargalos — relata Bonatto.
Novo método de cálculo
O presidente do Cosems/RS e secretário de Saúde de Canoas, Maicon Lemos, explica que a distribuição, hoje, no Estado está para atender o público na faixa dos 36 anos. Ou seja, diante disso, não significa que uma cidade que está vacinando nessa faixa etária esteja atrasada.
— Nós aqui (em Canoas) prezamos para que o máximo de pessoas se vacine de cada faixa etária. Estamos fazendo repescagem. Mais do que chegar aos 18 anos vacinando, é preciso chegar ao mínimo possível de pessoas ficando para trás — sustenta Lemos, ao citar que Canoas está vacinando público de 28 anos ou mais.
Conforme o dirigente, foi solicitado à Secretaria Estadual da Saúde um novo método de cálculo de distribuição de vacinas que considere a faixa etária mais alta de doses sendo aplicadas em cada município.
— Nós precisamos buscar os municípios que estão mais atrasados para que a gente possa chegar até setembro com a população acima de 18 anos vacinada. Não adianta chegar aos 18 anos se o público mais velho ainda não se vacinou — complementa Lemos.
O que diz o governo do Estado
Diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Estado, Cynthia Molina Bastos sustenta que não há como comparar a vacinação por faixa etária, em razão, por exemplo, das peculiaridades das cidades. Lembra que como se trata de um plano nacional, não há como impedir alguém de receber a vacina no município vizinho. Ela cita o caso dos municípios do Litoral, onde muita gente foi veranear e aproveitou para se vacinar. Consequentemente, a faixa etária da população residente em cidades dessa região pode ter avançado mais lentamente.
Sobre esperar quem não foi se vacinar ou avançar nas faixas etárias, Cynthia diz que depende da característica e do porte de cada município. No caso de Porto Alegre, por exemplo, avalia que não faria sentido intensificar a chamada busca ativa e parar ou reduzir a velocidade de redução das idades. A diretora relata que estão sendo estudados ajustes pontuais na forma de distribuição de vacinas para buscar atender o maior número de pessoas e o mais rápido possível.