
Correção: IPO é a sigla de Instituto de Pesquisas de Opinião, e não Instituto Pesquisa Ibope como publicado entre 15h e 18h. O texto já foi corrigido.
O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é a única forma de acesso à assistência médica para 50,9% dos gaúchos, quando somamos este tipo de usuário e o grupo dos esporádicos, o percentual sobe para 83,2%. Para esse público, a demanda represada de atendimentos, de exames e de procedimentos cirúrgicos, bem como a demora para ter acesso a esses serviços, são os principais gargalos a serem resolvidos para que se consiga minimizar as sequelas da pandemia na saúde pública do Rio Grande do Sul.
Isso é o que revela a pesquisa Rio Grande pós-pandemia – os impactos da pandemia na saúde, prioridades e expectativas dos gaúchos sobre medidas legislativas emergenciais na área da saúde. Conduzido pelo Instituto de Pesquisas de Opinião (Ipo), o estudo foi encomendado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado (AL-RS).
Divulgado nesta segunda-feira (2), o levantamento ouviu mil pessoas, distribuídas em 41 cidades do Estado, entre os dias 01 a 07 de julho deste ano. De maneira geral, a satisfação dos gaúchos com o serviço prestado pela rede pública está em 65,8%. Porém, o recorte mais detalhado por regiões mostra que em localidades onde há menor utilização exclusiva do SUS a satisfação com o sistema é maior e que, quanto maior a dependência do sistema público, mais se avolumam as críticas relacionada à demora no acesso a exames e a especialistas, por exemplo. Entre os usuários, as críticas negativas somam 7,6%.
Para pouco mais da metade dos usuários, 50,1%, a demora no atendimento é principal crítica ao SUS. Outros 17,9% relataram que tiveram experiências ruins de atendimento devido à falta de explicação e de informação de quem os atendeu. A falta de médicos é outro gargalo apontado por 10,3% dos usuários ativos e esporádicos.
Gargalos da saúde pública no Estado
No que tange os principais obstáculos da saúde pública gaúcha, a falta de médicos e a demora no agendamento de consultas, principalmente na busca por especialista, é destacado por 46,3% de todos os mil entrevistados. Vale assinalar que o estudo define como lentidão o tempo que o paciente demora para conseguir uma consulta médica, o que também abarca o período de espera dentro do posto e, quando preciso, a necessidade de remarcação pela ausência do médico.
Para outros 8,9%, combater a falta de investimento financeiro na área da saúde é o principal desafio. Já a estrutura física, ou seja, a falta de leitos nos hospitais, é a grande preocupação de 8,9% dos gaúchos.
O estudo concluiu que os usuários do SUS no Rio Grande do Sul desejam mais agilidade no acesso aos tratamentos de saúde e investimentos em tecnologia para gerir a informação. Além disso, foi entendido como prioridade a ampliação de recursos no setor da saúde e que a Assembleia Legislativa precisa aprimorar os mecanismos de fiscalização da gestão financeira da saúde.
Saúde no RS durante a pandemia
Na percepção dos gaúchos, a pandemia mostrou e potencializou a fragilidade da estrutura de saúde disponível no SUS no Rio Grande do Sul. O relatório também aponta que a população em geral está preocupada com as demandas reprimidas da saúde e com o tratamento das sequelas deixadas pelo coronavírus.
Para 21,6% dos entrevistados, há uma sensação de agravamento da falta de médicos e na demora da marcação de consultas durante a pandemia. A falta de infraestrutura, de leitos e superlotação de hospitais foi enfatizada por 19% das pessoas. Já a sensação de demanda reprimida, em função da pandemia, a demora para a realização de exames de rotina e até cancelamento de cirurgias foram observadas por 8,8% dos participantes. Nesse ranking, a demora e a falta de vacinas contra a covid-19, bem como a escassez de testes, despontaram como um problema para 6,2% dos gaúchos.
Para tentar dissolver esses problemas, os que responderam o questionário propuseram sugestões. De acordo com o estudo, os entrevistados enfatizaram que é preciso separar os locais de atendimento covid-19 e não covid-19 e que é preciso fortalecer a presença de centros especializados no atendimento permanente dos infectados e também daqueles que demonstram sequelas. Os participantes também falaram que é preciso estimular mutirões para sanar as demandas reprimidas de exames, especialistas e cirurgias. Por fim, os gaúchos demandam um tempo de espera limite para acesso a especialistas, a exames e cirurgias, de acordo com tipo e gravidade da doença.
Perfil do usuário do SUS no RS
Foi notado que, assim como no restante do Brasil, o perfil dos usuários do SUS está intimamente conectado à escolaridade e renda familiar. Quanto menor a educação formal e a renda, maior é a dependência do sistema. No caso do Rio Grande do Sul, é mais dependente do SUS aqueles que possuem somente o Ensino Fundamental e renda familiar de até dois salários mínimos.
Entre os que usam única e exclusivamente o SUS, a aprovação está em 66,6%. Os usuários eventuais do sistema oscilam entre os que têm planos de saúde de atendimento clínico e aqueles que não possuem problemas de saúde. A aprovação entre esse contingente é de 64,7%. Esse público, geralmente, tem renda de três a cinco salários mínimos, mas é mais crítico em relação à estrutura física ofertada pelo SUS.
Os usuários do sistema privado, com maior faixa etária, escolaridade e renda, reconhecem que o principal problema da saúde pública é a falta de médicos e apresentam críticas em relação à falta de leitos. Além disso, apontam que é preciso ampliar os investimentos no setor para que haja melhorias no atendimento e a realização de mutirões para tratamento das demandas reprimidas.
Ou seja, os que usam unicamente o SUS avaliam a rede de forma positiva, mas sem deixar de lado a cobrança por maior agilidade na avaliação de diagnóstico. Os entrevistados que utilizam o SUS eventualmente, além de indicarem a necessidade de agilidade, afirmam que é preciso investir em maior fiscalização na gestão da saúde. Por fim, os que não fazem uso do SUS, mas de planos de saúde privado, apresentam uma demanda diferente para a Assembleia. Eles ressaltam que a AL-RS precisa fiscalizar para que a legislação da área da saúde seja cumprida e os recursos sejam administrados da forma correta.