Desde esta terça-feira (15), as pessoas que recebem a primeira dose da vacina da Pfizer contra a covid-19 em Porto Alegre estão sendo informadas de uma alteração no intervalo para a segunda aplicação. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o prazo entre as injeções será de 12 semanas, e não mais de 21 dias, adotado até agora.
A mudança foi justificada pela necessidade de alinhamento com a campanha de imunização do governo do Estado e do Ministério da Saúde (MS). A SMS vinha seguindo o prazo indicado pelo laboratório fabricante. No entanto, reforçou que pesquisas recentes, realizadas no Canadá e no Reino Unido, comprovaram eficácia das vacinas aplicadas com um espaço de até 12 semanas entre a primeira e segunda dose.
No comunicado da alteração, a secretaria informou que quem já recebeu a primeira dose do imunizante e tem a data prevista para o retorno não sofre alteração no cronograma.
Em informe técnico publicado no começo de maio, o Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do MS orientou Estados e municípios a aplicarem as duas doses da vacina com 12 semanas de intervalo, contrariando o que diz a bula da Pfizer. Para justificar a orientação, o ministério informou adotar o mesmo espaçamento do Reino Unido, que ampliou o prazo com base em estudos que constataram que o imunizante confere algum nível de proteção mesmo com apenas uma dose.
— Com 80% de proteção para uma dose, pode ser uma política boa para o Brasil nesse momento, de vacinar o máximo de pessoas possível. Se for o caso de usar todas as doses e vacinar com essa proteção alta, de 80% para uma dose, poderia fazer sentido — disse à época a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Vaccine Institut.
Diante da decisão de Porto Alegre, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, reforça que a medida tem boa sustentação e não pode ser considerada equivocada.
— O Plano Nacional de Imunizações já coloca esse prazo, que leva em conta o interesse de saúde pública de vacinar mais pessoas, e já tem outros países, como o Reino Unido, adotando-o. É verdade que a fabricante mantém a recomendação de 21 dias e que não temos, no momento, um respaldo científico para o intervalo maior. Mas a decisão de Porto Alegre foi tomada com boa sustentação — avalia ele.
Cunha lembra ainda que os imunizantes CoronaVac e AstraZeneca também tinham prazos de aplicação entre as duas doses menores nas pesquisas iniciais, e que depois foram ajustados.
— A vacina da AstraZeneca, por exemplo, tinha intervalo original de aplicação das doses de quatro semanas. Depois é que se teve o respaldo para os três meses, até com melhor resposta vacinal — afirma Cunha.