As internações por coronavírus em unidades de terapia intensiva (UTIs) seguem em nível elevado em Porto Alegre, mas, nas últimas semanas, há indícios de queda na pressão por atendimento favorecida principalmente pelo recuo na hospitalização de idosos. No Hospital de Clínicas, uma das referências para o combate à pandemia na Capital, atualmente 75% dos doentes em UTI com covid-19 têm menos de 60 anos.
Para os gestores hospitalares, embora a alta circulação do vírus ainda represente uma ameaça, o cenário atual pode ser atribuído ao avanço da imunização com duas doses no município – que somava 22% da população até o começo da tarde desta segunda-feira (21).
Essa proporção ainda está distante do patamar de 70% estimado para barrar a transmissão do vírus, mas se acredita que já favoreça uma menor procura por leitos de alta complexidade por parte da população mais suscetível a complicações de saúde e já vacinada. O resultado é um pequeno alívio sobre a rede de saúde.
— No Clínicas, a taxa de ocupação dos 105 leitos de UTI para covid vinha se mantendo acima de 85%, 90%, mas, nas últimas seis, sete semanas, deu uma arrefecida. Atualmente, está abaixo dos 80% — observa a coordenadora do grupo de trabalho de enfrentamento ao coronavírus no Hospital de Clínicas da Capital, Beatriz Schaan.
Pelos dados do painel de monitoramento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em uma semana houve um recuo de 8% na demanda por tratamento intensivo em razão da covid em toda a cidade. No começo da tarde de segunda, havia 365 pessoas com o vírus hospitalizadas em estado grave. Quando se analisa a média móvel (que inclui a ocupação dos sete dias anteriores), a redução foi de 9% (veja gráfico abaixo).
Beatriz avalia que a principal hipótese para explicar essa oscilação é o andamento da imunização entre o público-alvo já atendido com duas doses. Até as 13h, o vacinômetro da prefeitura apontava pouco mais de 329 mil pessoas com esquema vacinal completo entre uma população de 1,48 milhão de habitantes.
Uma das evidências para sustentar essa possível explicação é justamente o contínuo rejuvenescimento dos pacientes internados. Ou seja, os idosos, que estavam entre os primeiros na fila pelas doses, já estariam sofrendo menos impacto do vírus em termos de agravamento do quadro de saúde e de necessidade de hospitalização.
— Certamente isso tem relação com a vacinação com duas doses dos idosos, que já impactou em um menor número dessa população em UTI. Hoje, 75% dos internados na nossa UTI covid têm menos de 60 anos — observa Beatriz.
O Clínicas chegou a ter 135 leitos de alta complexidade para coronavírus, e hoje conta com 105. A situação atual é mais desafiadora no setor que não atende covid, onde a ocupação por outras patologias supera 90%. A quantidade de vagas em ala clínica (de menor gravidade) para atender a pandemia recuou de mais de 80 para 32. A ocupação atual é de 81%, e se mantém estável nas últimas semanas.
O diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira, percebe um cenário semelhante, com minoria de idosos entre os pacientes críticos e hospitalizações sob ligeiro recuo:
— Na nossa emergência, que é a porta de entrada do hospital, temos hoje (segunda-feira) 33 pacientes com outros problemas de saúde e 11 por covid. Alguns meses atrás, a situação era bem diferente, com mais pacientes de coronavírus.
Oliveira pondera que, apesar do cenário menos grave nas últimas semanas, o patamar de hospitalizações em razão da pandemia ainda é muito alto. Nesta manhã de segunda, a lotação geral da UTI do Conceição estava acima de 90%, e 67% ainda correspondiam ao novo vírus.
— Estamos em um cenário parecido com o do pico do ano passado, em julho, quando estávamos muito pressionados. Hoje temos equipes mais preparadas, mas não podemos esquecer que essa estabilidade recente ocorre em um nível muito alto — compara Oliveira.
Gestores hospitalares lembram que circulação do vírus ainda é alta
Os 365 doentes com covid em UTI em toda a cidade neste começo de semana representam uma condição muito melhor em comparação ao final de março, quando se chegou a 870 leitos dedicados à pandemia. Mas ainda é quase quatro vezes mais do que o nível de hospitalização verificado exatamente um ano antes, em 21 de junho de 2020, quando havia 96 pessoas com coronavírus em estado grave.
Oliveira e Beatriz Schaan não percebem, até o momento, sinais de novos saltos nas internações. Beatriz avalia que o número de testes aplicados na cidade em pessoas com suspeita da doença — o que pode predizer um eventual aumento de demanda hospitalar duas ou três semanas depois — se mantém estável.
Oliveira afirma que, até o momento, não há indício de aumento na procura por doentes a partir das emergências ou unidades de saúde vinculadas ao GHC. Mas Beatriz lembra que o coronavírus segue com alta circulação em todo o Estado, e os hospitais se mantêm sob alta demanda. Por isso, é fundamental manter todo o cuidado possível para tentar reduzir o nível de infecções.
— As pessoas devem seguir procurando manter o distanciamento social, usar máscara. Assim, a vacinação poderá seguir ajudando cada vez mais na proteção da população — recomenda Beatriz.