Para Eduardo Sprinz, coordenador do estudo da vacina Oxford/AstraZeneca e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), independentemente de qual vacina for ser administrada em grávidas e puérperas (mulheres que deram à luz há até 45 dias), é importante ter em mente que ainda não se tem estudo publicado sobre a segurança destes imunizantes nessa população. Ele disse isso em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (11).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou, na noite desta segunda-feira (10), a suspensão imediata do uso da vacina contra covid da Oxford/AtraZeneca em mulheres gestantes. A orientação está em nota técnica emitida pela agência reguladora. Segundo o comunicado, a decisão leva em conta as informações da bula atual da vacina da Oxford/AstraZeneca, que não recomenda o uso da vacina sem orientação médica.
— Não temos dados publicados de segurança sobre qualquer uma das vacinas usadas atualmente em grávidas. Existe estudo sobre esse uso com a vacina da Pfizer/BioNTech, mas não temos resultados sobre segurança e eficácia dela. Se uma gestante me procurar, hoje, eu vou dizer isso, que não temos pesquisas que comprovem a segurança de qualquer vacina contra a covid-19 nessa população — afirma.
Sprinz pondera que as gestantes têm predisposição ao aparecimento de outras doenças que podem ser agravadas em caso de infecção pelo coronavírus. O mesmo vale para mulheres que tiveram filhos recentemente. Contudo, ele pontua que o protocolo de testes do imunizante de Oxford/AstraZeneca, realizado no HCPA, não previu e não estudou os efeitos da vacina nesse grupo populacional:
— Houve grávidas querendo participar do ensaio clínico, mas não permitimos. Quando via as gestantes, eu dizia que queria vacinar, mas eu não podia, porque eu não tinha a segurança de utilização dessa arma. Era com dor no coração que eu tomava essa decisão.
O chefe do serviço de Infectologia do HCPA ainda complementou dizendo que a decisão de vacinar gestantes e puérperas foi do Plano Nacional de Imunização, ou seja, do Ministério da Saúde (MS).
— Por considerarem as grávidas, mesmo sem comorbidades, uma população vulnerável por ter o risco de agravar algum quadro em caso de infecção pela covid-19, eles optaram por incluir esse grupo. Porém, sempre salientamos que não temos estudo sobre a segurança da vacina nessa população em específico. O MS agiu com boa intenção, com intenção de proteger. Mas dizer que a morte da gestante vacinada com a AstraZeneca foi em função da vacina é outra história. Existe sinal de que isso pode ter relação com o imunizante — explica.
A recomendação da Anvisa foi feita em razão da morte de um uma gestante após receber a dose do imunizante da AstraZeneca no Rio de Janeiro. No entanto, ainda é investigado se existe relação entre a morte e a aplicação da vacina.
Vacina da Oxford/AstraZeneca faz mal ao bebê?
De acordo com o coordenador do estudo, puérperas que foram imunizadas podem amamentar seus filhos. O risco que se tem documentado é de formação de coágulos. Foi encontrado em 1 caso dessa complicação para 250 mil pessoas que receberam a vacina de Oxford, relata Sprinz:
— Isso é muito raro, mas, pelo fato de estar grávida, pode ser que seja facilitado o aparecimento desse quadro. Há um sinal de que possa ser isso, mas não sabemos se existe relação de causalidade entre esse imunizante e essa condição. Não há confirmação, precisamos estudar para ver se existe tal associação entre a vacina e esse desfecho.