A pandemia de coronavírus fez com que o cronograma da Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza (gripe) passasse por alterações em 2021. Tradicionalmente, a exemplo de como ocorreu em março do ano passado, a primeira etapa da campanha prioriza a vacinação de idosos e profissionais da saúde. Mas, em 2021, a fase inicial de aplicações contra a gripe na rede pública de saúde, que começou na segunda-feira (12), não contempla indivíduos com 60 anos ou mais.
O grupo prioritário para vacinação até 10 de maio é composto por crianças acima dos seis meses e com menos de seis anos (cinco anos, 11 meses e 29 dias), gestantes e puérperas (mulheres até 45 dias após o parto), trabalhadores da saúde e povos indígenas, público-alvo que soma cerca de 1,3 milhão de pessoas no Rio Grande do Sul e aproximadamente 220 mil na Capital. A justificativa da mudança está relacionada ao calendário de vacinação contra a covid-19: é preciso haver um intervalo de 14 dias entre a aplicação de doses de vacinas diferentes.
A decisão do Ministério da Saúde de desvincular os grupos prioritários das duas campanhas de vacinação, segundo o infectologista do Hospital Moinhos de Vento Paulo Ernesto Gewehr, é para que a velocidade da vacinação de idosos contra a covid-19 não seja impactada.
— A vacinação da gripe não está começando pela faixa etária acima de 60 anos porque disputaria espaço com a da covid-19, que é a prioridade, no momento. Essas vacinas não podem ser dadas juntas, precisam ter um intervalo mínimo de 14 dias entre elas. Nesse sentido, se a vacinação da gripe começasse pelos idosos, muitos teriam que esperar para fazer a primeira ou segunda dose da vacina contra a covid. E aí perderíamos velocidade na vacinação desse grupo e na contenção da pandemia — afirma.
Intervalo entre doses
De acordo com o infectologista, o respeito ao intervalo de 14 dias entre as aplicações é uma medida prudente porque a ciência ainda carece de informações sobre eficácia e segurança quando há interação entre a vacina da covid-19 e outros imunizantes.
— Até o momento, não foi feito nenhum estudo da vacina da covid-19 sendo coadministrada com outras vacinas. Nesse sentido, sempre há dúvida se a vacina da gripe, ou até mesmo outras, sendo administradas com a do coronavírus, poderiam atrapalhar o funcionamento ou interferir na segurança das vacinas — explica.
Ainda há profissionais da saúde sendo vacinados contra a covid-19 no Estado. De acordo com o coordenador da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, 86% dos profissionais da saúde da Capital já receberam suas doses, mas há, ainda, uma parcela a ser vacinada. Esse grupo prioritário é um exemplo dos que podem ter acesso às duas campanhas de vacinação em curso. Por isso, especialistas reforçam a importância de atentar para os intervalos entre doses.
De acordo com o infectologista do Moinhos de Vento, tomando como exemplo a CoronaVac, cujo intervalo entre doses é de cerca de 28 dias (o imunizante de Oxford, outro utilizado no Brasil, tem separação de 12 semanas entre as injeções), a dinâmica da vacinação pode ficar assim: é feita uma primeira dose de vacina contra a covid-19, espera-se 14 dias, é feita a vacina da gripe, espera-se mais 14 dias, e então é aplicada a segunda de CoronaVac.
Baixa procura
Para os indivíduos com 60 anos ou mais, a vacinação contra a influenza começará em 11 de maio, e uma terceira etapa para outros grupos prioritários está programada para junho. Mas a baixa procura que tem sido registrada, de acordo com a Vigilância em Saúde da Capital, poderá acarretar em modificações na programação.
— A procura desse primeiro grupo pela vacina da gripe está muito baixa. Assim, acho que é possível que o governo federal decida mudar um pouco o cronograma, possivelmente antecipá-lo — afirma Ritter.
Por conta dos esforços contra a transmissão do coronavírus, a gripe teve pouco impacto na sociedade brasileira e no sistema de saúde em 2020. No entanto, de acordo com o infectologista Paulo Gewehr, conforme as medidas de distanciamento e higiene forem relaxadas, haverá mais chances de transmissão da gripe e de outras doenças infecciosas. Daí a importância de a sociedade buscar se vacinar também contra a influenza.
— O problema da gripe é que os sintomas são basicamente idênticos ao da covid, na prática. O indivíduo com gripe poderá ser avaliado como suspeito para covid-19, e assim terá que ficar em isolamento, fazer testagem. Isso é uma sobrecarga de que o sistema de saúde não precisa nesse momento — afirma Paulo.