Na próxima segunda-feira (12), começa a primeira etapa da Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza (gripe). Só no Rio Grande do Sul, o público-alvo estimado nessa fase é de 1,3 milhão de pessoas, número que inclui crianças acima dos seis meses e com menos de seis anos (5 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes e puérperas (mulheres até 45 dias após o parto), trabalhadores da saúde e povos indígenas.
Concomitantemente, a campanha de vacinação contra a covid-19 continua, portanto, indivíduos que fazem parte dos grupos prioritários para as duas imunizações devem ficar atentos aos prazos e intervalos entre as doses. Para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, GZH consultou o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, o imunologista Jefferson Russo Victor, professor de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), e o médico Fernando Kreutz, doutor em biotecnologia e professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Confira:
Quem pode tomar a vacina contra a covid-19 e contra a gripe neste momento?
Ambas campanhas têm grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. A vacinação contra a covid-19 está ocorrendo neste momento, no Brasil, para idosos. No entanto, em diferentes faixas etárias em cada local, em razão da chegada de novas doses por etapas. Por isso, os especialistas recomendam que indivíduos acima dos 60 anos consultem as administrações públicas para verificar a faixa que está sendo vacinada no momento.
— O próximo grupo para a covid-19, após os idosos, é para ser o de comorbidades — acrescenta Cunha.
Já a vacinação contra a gripe, este ano, começa por crianças, gestantes, puérperas, profissionais da saúde e indígenas. Os idosos entram na segunda fase da campanha (veja as datas abaixo).
— A ideia desse primeiro mês da campanha (da gripe) é desvincular os grupos (entre as duas campanhas) para facilitar — diz o presidente da SBIm.
Etapas da Campanha da Gripe (de acordo com o Ministério da Saúde)
12/04 a 10/05
- Crianças (seis meses a menores de seis anos)
- Gestantes
- Puérperas
- Povos indígenas
- Trabalhadores da Saúde
11/05 a 08/06
- Pessoas acima de 60 anos
- Professores
09/06 a 09/07
- Comorbidades
- Caminhoneiros
- Trabalhadores de Transporte Coletivo Rodoviário Passageiros Urbano e de Longo Curso
- Trabalhadores Portuários
- Forças de Segurança e Salvamento
- Forças Armadas
- Funcionários do Sistema de Privação de Liberdade
- População privada de liberdade e adolescentes e jovens em medidas socioeducativas
Se precisar escolher uma para tomar primeiro (gripe ou covid-19), qual deve ser priorizada?
Os dois médicos recomendam dar prioridade à vacina contra a covid-19 para pessoas que fazem parte de um grupo prioritário que seja comum aos dois grupos, como o de idosos, por exemplo. Portanto, se o indivíduo tiver a perspectiva de ser vacinado contra a covid-19 em breve, deve esperar para fazer a da gripe.
— A da covid-19 é mais importante e deve ser a prioridade, pois a doença está acontecendo em frequência maior e a chance de doença grave também é maior — justifica Victor.
Qual é o intervalo de tempo entre a vacina da gripe e a contra covid-19 que precisa ser respeitado? O intervalo muda em relação à da gripe se a de covid -19 for CoronaVac ou Oxford?
Para qualquer vacina contra covid-19, a recomendação é de que seja respeitado o intervalo de 14 dias entre ela e a da gripe. Exemplo: uma pessoa que tomou a primeira dose de CoronaVac e foi orientada a aplicar a segunda em 28 dias pode tomar a da gripe no intervalo entre doses. Entretanto, alguns municípios fazem o intervalo de três semanas entre as doses, inviabilizando esse esquema.
— O que eu recomendo: se a pessoa tomou a dose um da CoronaVac e não tem certeza se toma a dois em 21 ou 28 dias, é melhor esperar terminar o esquema da covid-19, contar 14 dias e tomar a da gripe — indica o docente da Unisa.
Para quem tomou Oxford/ AstraZeneca, como o intervalo entre doses é maior (até 12 semanas), só é preciso ficar atento para tomar a da gripe 14 dias antes ou 14 depois.
O que acontece se tomar as duas ao mesmo tempo?
A medida de 14 dias de espera entre uma e outra é considerada uma precaução, não contraindicação. Cunha explica que durante os estudos das vacinas é que são definidas condutas para essas aplicações. A questão é que as vacinas contra covid-19 não foram estudadas mostrando a segurança dessas combinações e nem que elas não terão interferências na eficácia. Outro aspecto, destaca Cunha, é o acompanhamento de possíveis eventos adversos provocados pelas vacinas contra covid-19.
— Se fizer as duas próximas, dificulta saber se o possível efeito adverso foi provocado pela vacina da gripe ou da covid-19 — diz o presidente da SBIm.
Portanto, a vacina contra a covid-19 deve respeitar um intervalo de 14 dias para qualquer outra vacina, exceto as emergenciais, como a antitetânica e a antirrábica, por exemplo.
— Vacinas de urgência não respeitam esses intervalos. Por exemplo: uma pessoa que teve um ferimento tem que fazer a do tétano, não deve esperar. As de rotina devem respeitar esse intervalo — fala Cunha.
Por que é importante fazer a vacina contra gripe?
Kreutz lembra que sempre foi importante tomar esse imunizante, especialmente para a população acima dos 60 anos.
— A influenza causa morte. Dependendo do ano, temos muitos óbitos. Então, se tem algo para prevenir essas mortes, tem que fazer — opina.
Outro aspecto levantado pelos especialistas é que as duas enfermidades são pulmonares e podem ter sintomas parecidos, portanto, imunizando contra a gripe, garante-se a proteção para essa doença e, eventualmente, um agravamento do quadro, se associada com a covid-19. Além disso, a medida é importante para desafogar o sistema de saúde, evitando que pessoas procurem as unidades de saúde em razão da gripe.
Posso tomar só vacina da gripe ou só a da covid-19?
Victor destaca que a vacina da gripe não tem efeito imunológico sobre a covid-19 e nem o contrário. Logo, quem pertence aos grupos prioritários das duas campanhas deve tomar as duas vacinas.
Quem não estiver nos grupos da campanha e tiver condições de tomar a vacina da gripe na rede privada deve fazê-lo?
Conforme Cunha, as sociedades médicas preconizam a aplicação universal da vacina da gripe, no entanto, o Ministério da Saúde não consegue oferecê-la a toda a população, elegendo, assim, os grupos com maior risco. Portanto, quem estiver fora desses grupos e tiver condições de fazer a vacina na rede privada deve fazê-lo.