De todos os 3.290 pacientes adultos internados em estado gravíssimo em unidades de terapia intensiva (UTI) do Rio Grande do Sul, 77% têm diagnóstico confirmado ou apresenta sintomas compatíveis com coronavírus, mostram dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) atualizados na manhã deste domingo (4).
A demanda de internações relacionadas à pandemia, apesar de alta, começa a cair: duas semanas atrás, pacientes com suspeita ou confirmação de coronavírus representavam quase 80% de todas as hospitalizações.
O grande número de pessoas precisando de atendimento por conta da pandemia ilustra a capacidade da covid-19 em levar infectados a quadros graves e a pressão decorrente sobre o sistema de saúde.
O governo do Estado aumentou o número de leitos de UTI pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de 933 antes da pandemia para 2.441 neste domingo, uma expansão de 161 % classificada por médicos de "brutal". Afora os leitos públicos, há ainda os 946 leitos de hospitais privados, totalizando 3.387 vagas em UTIs para adultos no Rio Grande do Sul.
O grande crescimento no número de vagas acontece sob as custas de prejudicar o atendimento a pessoas com outras doenças, já que as instituições tiveram que suspender cirurgias eletivas e alocar pacientes com coronavírus em emergências e blocos cirúrgicos. Médicos e gestores hospitalares destacam que abrir novos leitos sem conter a mobilidade da população não é suficiente para conter o avanço da pandemia.
Bandeira preta melhora cenário hospitalar
Os efeitos da bandeira preta no Estado, que fechou comércios, restaurantes e outras atividades não essenciais, já começaram a surtir efeito. Após semanas com UTIs superlotadas, com ocupação geral (incluindo as demais enfermidades além da covid-19) acima dos 110%, neste domingo pela manhã o índice era de 97,1%.
Conforme acompanhamento de GZH, este domingo é o quarto dia consecutivo de UTIs abaixo dos 100% no Rio Grande do Sul.
Apesar de estabilizar abaixo dos 100%, médicos alertam que o sistema segue colapsado, uma vez que dezenas de hospitais estão superlotados e há um grande número pessoas na fila de espera por uma vaga. Apenas em Porto Alegre, 132 pessoas aguardam a transferência para uma UTI.
A melhora no sistema de saúde do Estado é vista nos leitos clínicos, dedicados a casos de pequena e média gravidade. Neste domingo (4), há 3.474 pacientes nessa ala, uma queda de 21,3% em comparação a uma semana atrás. No pico de demanda, havia 5,4 mil internados em leitos clínicos.
Nas UTIs, a redução no número de confirmados em comparação ao domingo da semana passada é mais tímida, de 8%, e longe do ritmo de aumento da procura de semanas atrás, quando a alta chegou a ser de 234% no pico de demanda de uso frente a três semanas antes.
Quando a ocupação de um hospital está acima dos 100%, significa que há pacientes que precisariam de terapia intensiva sendo atendidos em pronto-atendimentos, leitos clínicos e outros espaços do hospital que não prestam atendimento tão qualificado quanto necessário. Além disso, profissionais da saúde ficam sobrecarregados e não conseguem prestar a atenção necessária a cada paciente.
O resultado é o aumento da mortalidade expressa na constatação de que o Rio Grande do Sul, após permanecer no ano passado entre os Estados com a menor taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes do Brasil, agora apresenta a oitava pior.