Quando Lorena Silveira Barcellos, 74 anos, foi levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul, na zona sul de Porto Alegre, para o Hospital Beneficência Portuguesa, no Centro Histórico, por volta das 22h de segunda-feira (15), ela ainda tinha uma vaga na instituição. Quando chegou lá, porém, a vaga já havia sido preenchida.
A história de Lorena foi contada à GZH por uma amiga dela, a vigilante aposentada Maria Junara da Luz Ferraz, 62 anos, e confirmada pela prefeitura da Capital.
Maria Junara conta ter passado horas no posto, enquanto a amiga, diagnosticada com covid-19, aguardava a chegada da ambulância para a transferência. Mais tarde, desesperada ao saber que a viagem não havia tido êxito, enviou um áudio ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
– Preciso falar urgente com o Daniel Scola. Uma pessoa que está há duas semanas no postão da Cruzeiro, ontem saiu leito no Beneficência Portuguesa, só que andaram (o Samu) com a criatura para lá e para cá, e quando chegou, não tinha mais o leito. Estou pedindo ajuda de joelhos, pelo amor de Deus. O que pode ser feito?
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), um paciente do Beneficência Portuguesa teve o estado agravado e precisou ocupar o leito com respirador que seria destinado à Lorena. Em nota, a SMS confirmou que a vaga foi preenchida durante o deslocamento da idosa, e que a equipe médica de plantão teve de negar a internação dela no local, pois representava um risco à saúde dela mantê-la sem o respirador.
Sem leito no hospital, Lorena voltou a ser internada no Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul, onde tem respirador, é acompanhada por médicos e passou à prioridade na remoção, reitera a nota do executivo.
Sobre o Samu, a demora nos atendimentos tem sido causada por chamadas em sequência. O setor precisou de reforço na frota, com a contratação de uma empresa terceirizada. Mesmo assim, “segue muito exigido”, afirma a prefeitura, gestora do serviço na Capital.
Em casa, na manhã desta terça-feira (16), Maria Junara se mostrou mais aliviada com a informação de que Lorena está acolhida, mesmo que fora de um hospital. Ao telefone, se emocionou ao dizer que perdeu um irmão há pouco mais de meio ano, vítima do coronavírus, e afirma que seguirá rezando pelos profissionais de saúde e por sua amiga.