Os Estados Unidos lideravam nesta terça-feira (30) a preocupação de vários países com um relatório respaldado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a origem da covid-19, com acusações de que Pequim não deu acesso adequado aos pesquisadores.
O sars-cov-2, detectado pela primeira vez em humanos na cidade chinesa de Wuhan, em dezembro de 2019, já deixou quase 2,8 milhões de mortes em todo o mundo e vários países da América e da Europa enfrentam novas ondas de infecções.
Os Estados Unidos, país com maior número de mortes causadas pela pandemia, e 13 de seus aliados reafirmaram seu apoio à OMS, mas observaram que a investigação "foi significativamente atrasada e não teve acesso total aos dados e amostras originais".
Os signatários da declaração incluem Austrália, Canadá, Dinamarca, Estônia, Israel, Japão, Letônia, Lituânia, Noruega, República Tcheca, Coreia do Sul, Eslovênia e Reino Unido.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez uma crítica semelhante durante a apresentação oficial do relatório, dizendo que a equipe internacional de especialistas enviada à China teve "dificuldades" em "acessar os dados originais".
Tedros, há muito acusado de complacência com Pequim, endureceu o tom e pediu mais investigações, sem descartar a possibilidade de o novo coronavírus ter escapado de um laboratório chinês.
A China sempre rejeitou veementemente essa hipótese. Especialistas enviados a Wuhan pela OMS no início deste ano para investigar as origens da pandemia quase a descartaram.
O relatório desses cientistas e de seus colegas chineses, do qual a AFP obteve uma cópia na segunda-feira, considera "provável a altamente provável" que a covid-19 tenha saltado de morcegos para humanos por meio de um animal intermediário e julgou como "extremamente improvável" a hipótese de vazamento de laboratório.
Os possíveis animais intermediários incluem o gato doméstico, o coelho, o vison, o pangolim ou o texugo doninha.
A teoria de Pequim de que o vírus não se originou na China, mas foi importado em alimentos congelados, foi considerada "possível", mas altamente improvável.
China pede que o tema não seja politizado
Nem Tedros, nem a declaração encabeçada pelos Estados Unidos, mencionaram a China diretamente, mas Pequim respondeu ao que considerou de reclamações do chefe da OMS, observando que havia demonstrado plenamente "sua abertura, transparência e atitude responsável".
"Politizar esta questão apenas prejudicará seriamente a cooperação global no estudo das origens, prejudicará a cooperação contra a pandemia e custará mais vidas", disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado.
A União Europeia considerou o relatório da OMS um "primeiro passo útil", mas, sem citar a China, destacou "a necessidade de continuar a trabalhar", exortando as "autoridades competentes" a ajudar.
Mike Pompeo, chefe da diplomacia dos EUA no governo de Donald Trump, chamou o relatório de "farsa" que dá continuidade à "campanha de desinformação" do Partido Comunista da China e da OMS.
A hipótese de que o vírus poderia ter vazado de um laboratório em Wuhan era uma das favoritas dos Estados Unidos durante o governo Trump.