Pela primeira vez desde o início da pandemia, duas das três emergências da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre precisaram ser fechadas. Segundo a instituição, as unidades estavam operando com o triplo da capacidade original.
A emergência SUS, localizada no Hospital Santa Clara, e a emergência covid, no Hospital Dom Vicente Scherer, já vinham atendendo com restrições, mas desde o início do domingo (14) não estão mais recebendo pacientes. As medidas ficarão vigentes por tempo indeterminado.
Em entrevista a GZH, Antônio Kalil, diretor médico do complexo hospitalar, explica que o fechamento é consequência do aumento progressivo dos casos de covid-19 na Capital, e também expões as dificuldades de quem está na linha de frente do que considera "o momento mais dramático da pandemia".
O que motivou o fechamento de duas das três emergências da Santa Casa?
É a primeira vez que isso ocorre. Isso se deve a um aumento progressivo dos casos de covid-19. Ontem (sábado), por exemplo, havia 16 pacientes na instituição aguardando em lista para tratamento intensivo. Agora, são 25. Temos 13 pacientes em ventilação mecânica nas emergências. Ou seja, nossas emergências estão virando UTI. Além disso, há também pacientes com máscara de Hudson. Se continuar nesse ritmo, é possível não ter mais pontos de oxigênio para receber as pessoas. A situação está muito crítica.
Até quando as unidades devem permanecer fechadas?
É um fechamento temporário, pelo período mais curto possível. Precisamos readequar nossos processos internos e nossa equipe. Hoje tivemos mais 14 médicos que se voluntariaram para atender pacientes. O foco agora é assegurar o atendimento das pessoas que já estão ali. Estamos realizando reavaliações periódicas. Até amanhã (segunda-feira) é certo que não reabriremos.
Como avalia o atual estágio da pandemia?
Este é sem dúvida o momento mais dramático desde o início da pandemia. Recebemos todos os dias inúmeras solicitações de familiares e médicos tentando transferir os pacientes para nossa instituição, mas não temos mais como acomodá-los. Essa sensação de não poder atender a todos é o que mais dói em todas as equipes médicas dos hospitais da cidade. As pessoas não estão sendo tratadas como poderiam se não fosse esse caos instalado.
A abertura de novos leitos não é suficiente para a demanda?
Todos os hospitais da cidade reagiram de forma impressionante na pandemia. Nunca imaginei que teríamos tamanha capacidade de abrir leitos de UTI e de internação em Porto Alegre. Mas infelizmente isso não é suficiente porque a transmissão de covid está aumentando em uma progressão inimaginável. Só aumentar leitos já se mostrou insuficiente. O que precisamos é cortar a circulação do vírus e vacinar a população.
Com os médicos estão lidando com esse momento?
Todo mundo está dando um pouco mais do que podia. A capacidade de superação que estão demonstrando é impressionante. Quando todos nós já estávamos cansados, e a doença estava aparentemente controlada, um surto ainda mais impressionante apareceu. As pessoas estão no seu limite, e há inclusive muitos com síndrome de burnout. Mas estamos fazendo o possível e o impossível para continuar atendendo e conseguir bons resultados nos tratamentos.
O que a população pode fazer para ajudar a reverter esse quadro?
O mais importante continua sendo o que reforçamos desde o início. Ou seja, é ter cuidado, não fazer aglomerações, usar máscara e álcool gel. Não se pode deixar para tomar essas medidas apenas quando um familiar ou amigo precisa de UTI. Apesar de algumas pessoas ainda não levarem a sério a prevenção é o mais importante enquanto não temos um índice alto de vacinação.