O agravamento da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul nos últimos dias tem evidenciado carências na infraestrutura de saúde. De acordo com um levantamento feito pela reportagem de GZH, ao menos cinco pessoas morreram à espera de um leito de terapia intensiva em cinco dias no Estado. Os casos ocorreram na Região Metropolitana, no Litoral, no Norte, e nos vales do Sinos e do Rio Pardo.
A morte mais recente ocorreu na madrugada de quarta-feira (24). Uma mulher de 48 anos, com teste positivo para a covid-19, aguardava um leito de UTI no hospital de Santo Antônio da Patrulha. A paciente era moradora de Capão da Canoa e não apresentava comorbidades ou fazia uso de medicação contínua, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Diante da gravidade do caso, o hospital requisitou uma vaga para no sistema de gerenciamento de leitos estadual.
— Houve uma demanda muito grande nas unidades de pronto atendimento do Litoral Norte nos últimos dias. A procura por UTIs está muito grande. O caso dessa paciente evoluiu muito rápido e não houve tempo hábil e nem vaga para transferi-la — explicou o secretário de Saúde de Santo Antônio da Patrulha, Toninho Selistre.
Outra morte ocorreu na noite de terça-feira (23), em Canoas, na Região Metropolitana. Um homem de 45 anos havia procurado a Unidade de Pronto Atendimento Guajuviras, cinco dias antes, com sintomas da doença. Conforme a prefeitura, foi solicitada a transferência para um leito de UTI. A vaga chegou a ser reservada no Hospital Nossa Senhora das Graças. No entanto, na tarde da terça-feira, o paciente teve uma instabilidade clínica para o transporte, o que impossibilitou a transferência.
Por meio de nota, o Executivo municipal explicou que, "para ser transferido, o paciente precisa antes estar estabilizado". De acordo com a informação registrada na unidade de saúde, o falecimento ocorreu às 19h30min. O homem apresentava comorbidade e obesidade grau 3.
Na segunda-feira (22), ocorreram duas mortes de pacientes que aguardavam leitos de terapia intensiva.
Um homem de 50 anos com teste positivo para doença morreu em Não-Me-Toque, no norte do RS. Ele havia dado entrada no Hospital Beneficente Alto do Jacuí no sábado (20), e apresentou complicações e piora do quadro de saúde. O município não conta com leitos de UTI. A instituição hospitalar requisitou uma vaga no sistema estadual, mas não conseguiu o leito. Não foi informado se o paciente apresentava comorbidades.
O outro óbito ocorreu em Morro Reuter, no Vale do Sinos. Uma idosa de 93 anos, moradora da área rural do município, aguardava transferência para um leito de UTI na única unidade básica de saúde do município. A mulher recebeu atendimento no setor reservado para casos de covid-19 do posto que funciona 24 horas. Conforme a prefeitura, a idosa tinha histórico de hipertensão, diabetes e demência grave.
No sábado (20), um homem de 46 anos morreu durante a madrugada esperando por uma vaga de UTI no Hospital Dr. Anuar Elias Aesse, em Boqueirão do Leão. O único hospital da cidade do Vale do Rio Pardo estima que usou, no final de semana dos dias 13 e 14 de fevereiro, a mesma quantidade de oxigênio gasta em um ano inteiro.
— Não conseguimos encaminhar esse paciente para nenhum hospital que tem UTI no Rio Grande do Sul — declarou o prefeito Jocemar Barbon
O que diz o governo do Estado
O diretor de regulação da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Eduardo Elsade, afirma ter conhecimento de três dos cinco casos relatos nesta reportagem. O incremento da gravidade da covid-19 no Rio Grande do Sul tem sido observado pelo comitê técnico e a existe a possibilidade do sistema hospitalar atingir o "estresse máximo" nas próximos dias.
— Até agora foram casos pontuais. O paciente que chega para atendimento em uma UPA, por exemplo, precisa ser estabilizado. Não são todos que é possível fazer a transferência imediata. Em casos específicos podem ocorrer mudanças repentinas no quadro e o paciente ir à óbito, mas ainda não por falta de estrutura na rede — comentou.
Em relação ao paciente de Não-Me-Toque, o diretor explicou que o homem teve uma piora no estado clínico e que necessitou intubação.
— Foi solicitada a transferência às 17h de domingo (21), de noite ele piorou muito e, pela manhã de segunda-feira, o quadro se agravou ainda mais — comentou.
Já sobre óbito ocorrido em Boqueirão do Leão, Elsade disse que o paciente teve uma piora considerável no quadro após dar entrada no hospital. Uma ordem de transferência chegou a ser emitida, mas não houve tempo para realizar o transporte.