O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (13) a apoiadores estar há quatro meses "apanhando por causa da vacina" e disse, sobre o anúncio do Instituto Butantan sobre a eficácia da Coronavac, que agora "estão vendo a verdade".
— Essa de 50% é uma boa vacina ou não? O que eu apanhei por causa disso, agora estão vendo a verdade. Eu estou há quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Eu não sou irresponsável, não estou a fim de agradar quem quer que seja — afirmou o presidente a apoiadores nesta manhã.
Na terça-feira (12), o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista de João Doria (PSDB) e que desenvolve a Coronavac em parceria com a chinesa Sinovac, anunciou que a taxa de eficácia geral da vacina contra o novo coronavírus é de 50,38% para prevenir sintomas muito leves da doença. Na semana passada, o instituto já havia anunciado que a eficácia para sintomas leves é de 78% e para graves, de 100%.
No próximo domingo (17), está previsto que conselho da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) delibere sobre o uso emergencial da CoronaVac e também sobre o imunizante da Oxford/AstraZeneca, que será distribuído no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Em resposta a um apoiador que disse ser da Fiocruz "a vacina certa", Bolsonaro respondeu que será a certa "a vacina que passar pela Anvisa, seja ela qual for".
— Já temos um crédito de R$ 20 bilhões para comprar isso daí — completou.
O que significa a eficiência de 50,38% da CoronaVac?
Que a CoronaVac reduziu pela metade os adoecimentos por coronavírus em qualquer intensidade da doença. O estudo não acompanhou se as pessoas poderiam infectar outros indivíduos, uma incógnita para outras vacinas também.
O estudo da CoronaVac contou com 9.252 profissionais da saúde, sendo que 4.653 foram imunizados e 4.599 receberam placebo – isto é, são o grupo que serviu como base para os cientistas monitorarem se a vacina de fato funcionaria.
O que dizem especialistas sobre a eficácia da CoronaVac?
Especialistas consideram o resultado positivo primeiro porque a vacina tem potencial de reduzir pela metade as buscas de pacientes com quadro leve de coronavírus por postos de saúde e diminuir em 100% as chances de quadro moderado ou grave da doença, o que implica menos mortes e procura por hospitais.
— A gente acabaria com a pandemia e principalmente com a sobrecarga do sistema de saúde. Essa é uma doença que ocupa de um terço a um quarto dos leitos hospitalares. Em nenhuma doença até este momento se viu isso. Conseguir reduzir esse nível de ocupação e de sobrecarga é o que a gente quer, mesmo que tenhamos uma circulação viral ainda presente na comunidade — afirmou à Rádio Gaúcha Fabiano Ramos, médico infectologista e coordenador dos estudos da CoronaVac no Rio Grande do Sul.
É um excelente notícia. Teremos 50% de pessoas a menos buscando atendimento de saúde e uma proteção de 100% para casos que procurariam hospitais e UTIs
LUCIANO GOLDANI
Professor de Infectologia na UFRGS e médico infectologista no Clínicas
Os 100% de proteção contra casos moderados e graves ainda não estão consolidados: como houve apenas sete casos graves diagnosticados nos 4.599 pacientes do grupo placebo, mais tempo de estudo precisa transcorrer – ou seja, mais pessoas que não tomaram a vacina precisam se infectar para haver a confirmação do quanto a CoronaVac protege os vacinados contra sintomas graves. O próprio Butantan reconhece a limitação, mas afirma que a proteção contra casos mais graves parece ser uma tendência.
— É um excelente notícia. Teremos 50% de pessoas a menos buscando atendimento de saúde e uma proteção de 100% para casos que procurariam hospitais e UTIs. Teremos que vacinar mais as pessoas (para alcançar a imunidade de rebanho), mas, neste momento, no qual queremos combater rapidamente a pandemia, essa vacina é maravilhosa. Os paraefeitos (efeitos adversos) são, também, mínimos — afirma Luciano Goldani, professor de Infectologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.