A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu autorização excepcional para que a White Martins, empresa que fornece oxigênio para o Amazonas, produzisse a substância com grau de pureza 95%, abaixo dos 99% habituais. A permissão foi dada na tarde da quinta-feira (14), quando a capital Manaus registrou falta do produto em vários hospitais, o que causou a morte de pacientes com coronavírus por asfixia.
A medida veio após um esforço conjunto de negociações entre a Procuradoria-Geral da República, o Ministério da Saúde, as Forças Armadas, além da Anvisa e da White Martins. Em nota, a PGR afirma que os primeiros carregamentos de oxigênio começaram a chegar em Manaus ainda na manhã desta sexta-feira (15).
De acordo com o órgão, a White Martins "se comprometeu a viabilizar o fornecimento do produto por meio de carretas vindas da Venezuela". Na noite de quinta, o presidente venezuelano Nicolás Maduro já havia autorizado a carga a sair do país.
— Por instruções de Maduro, conversei com o governador do Amazonas, Wilson Lima, para colocar imediatamente à o oxigênio necessário para atender a contingência sanitária em Manaus. Solidariedade latino-americana antes de tudo! — afirmou o chanceler chavista Jorge Arreaza, em suas redes sociais.
Outro carregamento com 4 mil metros cúbicos de oxigênio teria saído de Guarulhos, em São Paulo, na noite de quinta, com o apoio logístico das Forças Armadas. Em nota, a Anvisa confirmou que a autorização emergencial de oxigênio com 95% de pureza foi concedida para as unidades da rede estadual de Saúde do Amazonas pelo prazo de 180 dias, sob duas condições: que a pureza correta do produto fosse informada aos profissionais e serviços de saúde e que a distribuição cessasse "assim que a situação for normalizada".
Pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, Luisa Fernanda Rios Pinto explica que a taxa de pureza menor que a habitual não tem grandes efeitos negativos para a administração em humanos.
— Normalmente, o oxigênio que respiramos já tem outros componentes, como o nitrogênio, que tiramos para deixá-lo mais puro. Na taxa de 95%, isso é tão minoritário que não vai influenciar muito na composição do que você está respirando.
Luisa explica que geralmente as produções de oxigênio hospitalar são feitas pela purificação do ar que a gente respira, composto geralmente por 21% de oxigênio e, em proporção majoritária, 78% de nitrogênio, além de outros gases.
— O que essas empresas fazem é fracionar o ar que a gente respira nos componentes desses gases. Geralmente, o hospitalar é 99,5% de pureza, mas os outros 5% são constituídos pelos gases que respiramos, como nitrogênio, argônio e outros menores, como o carbônico.
A taxa de 95%, ela afirma, não chega a ser prejudicial.
— Claro que não é tão puro, e tem essa impureza de 5%, mas são gases que a gente já respira e encontra na atmosfera — conclui.