Veio da cidade-estado do Vaticano a boa nova para ajudar a saúde de Porto Alegre durante a pandemia. Quatro respiradores e um aparelho de ultrassom reforçam, a partir desta semana, a UTI Covid do Hospital São Lucas da PUCRS. Os equipamentos são fruto de uma articulação de ninguém menos do que o Papa Francisco.
A provocação para o repasse de valores para a compra partiu diretamente do pontífice, que acionou o setor assistencial da Santa Sé, a Esmolaria do Vaticano, em julho. Argentino, Francisco teria relatado a interlocutores que temia pela pandemia na América do Sul, como revelou o emissário do vaticano enviado a Porto Alegre, Antônio Guizzeti.
— O Papa estava muito preocupado com a situação do coronavírus na América Latina. Ele havia recebido uma solicitação muito forte da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), que diziam que a situação nos hospitais católicos era dramática, de que havia muita demanda e pouca tecnologia — contou Guizzetti.
Os bispos da CNBB apontaram seis hospitais católicos que tinham necessidade de aporte de equipamentos. Depois disso, a Esmolaria do Vaticano escolheu uma organização sem fins lucrativos, a italiana Hope Onlus, para que ajudasse na logística e transporte dos equipamentos ao Brasil. Os respiradores foram comprados por empresários italianos e pela Igreja Católica.
Após pouco mais de um mês da idealização da ajuda, uma cerimônia selou a entrega nesta quinta-feira (27) em Porto Alegre. Outros cinco hospitais, em Goiânia, Tocantins, Ceará, Sergipe e Rio de Janeiro, também foram contemplados. Ao todo, 18 respiradores e seis aparelhos de ultrassom chegaram ao país.
— Não foi fácil, já que há poucos voos e os aeroportos estão fechados. Mas, finalmente, chegaram. É o ato final de uma história de amor e solidariedade. Esperamos que essa contribuição ajude a salvar vidas humanas e a ajudar ainda mais pessoas — prosseguiu o italiano Guizzetti, que se esforçava para falar em uma mistura de português com espanhol.
O diretor-geral do Hospital São Lucas, da PUCRS, Leandro Firme, disse que a doação vai permitir que a instituição devolva alguns equipamentos que foram alugados durante a pandemia, já que não havia o suficiente antes do coronavírus. A instituição ampliou de cinco para 46 leitos de UTI Covid desde março.
Quando alguém com a autoridade promove iniciativa semelhante, não faltam respostas mundo afora. Tem gente muito boa. Isso alimenta a esperança e, como o próprio papa disse no Rio em 2013: não podemos deixar que nos roubem a esperança
DOM JAIME SPENGLER
Arcebispo metropolitano de Porto Alegre
— É um investimento importantíssimo para o combate da pandemia e também para outras doenças. A longo prazo, esses respiradores, que são de tecnologia de ponta, vão salvar muitas vidas. Quem sai ganhando são os nossos pacientes e a sociedade de Porto Alegre — agradeceu Firme.
Arcebispo metropolitano participou da negociação
Vice presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, participou das tratativas que resultaram na doação. Ele ligou para o diretor-geral do hospital, ainda em julho, consultando a necessidade dos equipamentos. O arcebispo lembra o apelo feito pelo papa:
— O papa fez um apelo a generosidade e solidariedade de pessoas de boa vontade da sociedade italiana, um dos países mais afetados pelo coronavírus, para ajudar outras nações. A provocação veio mesmo do papa, uma pessoa muito preocupada com o continente, um homem extraordinário.
Dom Jaime acredita que a doação possa criar uma rede de solidariedade.
— Quando alguém com a autoridade promove iniciativa semelhante, não faltam respostas mundo afora. Tem gente muito boa. Isso alimenta a esperança e, como o próprio papa disse no Rio em 2013: não podemos deixar que nos roubem a esperança — apelou.
Após a doação, o hospital, como forma de agradecimento, decidiu homenagear o papa Francisco. Dom Jaime se responsabilizou pessoalmente de informar ao pontífice sobre a homenagem porto-alegrense.
— Se o Antônio, representante que esteve em Porto Alegre, não contar, eu mesmo me comprometo em contar, através da embaixada — concluiu.