O rompimento da barreira de mil mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul deve ser sucedido por outras notícias desagradáveis. As projeções mais atualizadas do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos EUA, indicam que o Estado poderá chegar a 1º de setembro com pelo menos 3,3 mil óbitos diante das tendências mais recentes de agravamento da pandemia.
A estimativa intermediária indica possíveis 6 mil vítimas e, no pior dos cenários desenhados pela instituição, a conta chegaria a 10,6 mil.
Para se ter uma ideia da tragédia que essa informação representa, as 6.066 mortes calculadas no cenário moderado — se não houver mudança no ritmo de contágio — somam um universo de homens e mulheres superior à população de 53% dos municípios do Estado. É como se toda a gente de uma cidade como Lindolfo Collor, no Vale do Sinos, ou de Anta Gorda, no Vale do Taquari, deixasse de existir em um intervalo de seis meses.
É um cenário hipotético, com base em cálculos que se sustentam em tendências que podem mudar a qualquer momento. O problema é que os indicadores que norteiam essas contas vêm piorando. No começo de junho, o IHME, entidade que assessora a Casa Branca e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em relação à pandemia, esperava ao redor de mil óbitos no Rio Grande do Sul entre o final de julho e o começo de agosto (patamar que está sendo alcançado com mais de duas semanas de antecedência). O acúmulo de novas contaminações e mais vidas perdidas para o novo vírus foi empurrando a cifra para cima.
É preciso lembrar que esse tipo de projeção sempre envolve uma margem de erro significativa. No caso da fórmula utilizada pelo IHME, o intervalo é amplo (entre 3,3 mil e 10,6 mil) porque o grau de incerteza aumenta à medida que as estimativas têm como alvo datas mais distantes. Mas, mesmo na melhor das hipóteses, os gaúchos registrariam nesse período mais do que o triplo de vidas perdidas em relação ao verificado até agora. Não deve servir como motivo de pânico, mas de alerta.
— Ainda estamos em uma fase de expansão da doença no Sul e no Centro-Oeste. Outros Estados estão se mantendo estabilizados, ainda que em patamares elevados, ou decrescendo — analisa o epidemiologista e consultor do Hospital de Clínicas Jair Ferreira.
A última rodada de atualização das projeções do IHME, realizada em 4 de julho, estimou que no domingo (12), oito dias mais tarde, os gaúchos deveriam somar 961 mortes. O dado registrado de fato pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) foi de 962 — a realidade praticamente confirmou o prognóstico, com divergência de apenas 0,1%, o que não é um bom indício.
Em vez de causar medo, as estimativas podem servir para aumentar a conscientização das pessoas sobre a importância de intensificar as medidas de prevenção. O instituto da Universidade de Washington também realiza exercícios de análise tentando avaliar o que ocorreria se houvesse um uso disseminado de máscaras entre a população ou se as medidas de distanciamento social fossem relaxadas, por exemplo. Somente o uso universal das máscaras já pouparia mil vidas até o primeiro dia de setembro, deixando a conta de óbitos em cerca de 5 mil. O aumento das flexibilizações no distanciamento, no sentido contrário, poderia elevar os prognósticos em mais 1,3 mil e resultar em 7,3 mil vítimas.
Uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também projeta cenários para diferentes regiões do país, mas com um máximo de 30 dias de antecedência. Conforme o estimado na segunda-feira (13), em 1º de agosto os gaúchos poderiam somar 1.923 vítimas diante do coronavírus. Na mesma data, o IHME antevê 2.058 mortes.