O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) começou, nesta semana, a participar de um grande estudo que ocorrerá em várias cidades do Brasil e do mundo para averiguar o efeito de um remédio usado contra artrite reumatoide no tratamento de pacientes hospitalizados com coronavírus.
A pesquisa analisa se o remédio baricitinibe reduz a gravidade e o número de mortes relacionadas à covid-19. Serão tratados pacientes com quadro grave de coronavírus que não usem ventilação mecânica e que tenham ao menos um marcador inflamatório acima do normal. Voluntários serão divididos em dois grupos – um receberá o remédio e outro, placebo.
Na América Latina, Estados Unidos e Europa serão 500 voluntários, segundo a farmacêutica norte-americana Eli Lilly, responsável pelo estudo. No Brasil, a expectativa é avaliar os efeitos em 84 voluntários espalhados pelo Clínicas de Porto Alegre e em hospitais de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Norte.
O remédio, uma pílula de uso oral, é usado no tratamento de casos moderados e graves de artrite reumatoide, uma doença autoimune que causa inflamações nas juntas e que pode levar à perda de mobilidade e deformidade sobretudo das mãos. O uso do medicamento para esse fim ocorre no Brasil desde novembro de 2018, quando foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Agora, médicos investigam se a droga também pode ser usada contra casos graves de coronavírus. A Anvisa confirmou a GaúchaZH que autorizou o uso do remédio para a pesquisa.
Há ainda outros 15 estudos clínicos no Brasil autorizados pela agência para pesquisar possíveis tratamentos ou vacina para a covid-19 – dentre as drogas avaliadas, estão a hidroxicloroquina, a dexametasona, o remdesivir, entre outros.
Médicos acreditam que o coronavírus desperta no corpo uma reação semelhante à artrite e outras doenças autoimunes: uma resposta inflamatória exagerada, explica a médica infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenadora do estudo no Brasil, Cristhieni Rodrigues.
— Sabemos que o coronavírus desenvolve uma inflamação absurda. Esse exagero na resposta inflamatória aparece a partir do sétimo dia e é o que faz o paciente evoluir para uma terapia intensiva e até óbito. Bloquear esse processo é superimportante e é para isso que esse medicamento está sendo estudado. Ele vai tentar bloquear esse momento da liberação exagerada de citocinas para fazer a resposta inflamatória diminuir e a resposta do indivíduo ser melhor — afirma Cristhieni.
Dentre os efeitos colaterais do baricitinibe, segundo a médica, há complicações no trato gastrointestinal, náusea, vômito, diarreia, diminuição de leucócitos e plaquetas, alterações no fígado e aumento de risco de infecções respiratórias por fungo.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre não quis conceder entrevista sobre o assunto. Em nota, a instituição afirmou que recebeu, até agora, propostas para mais de cem pesquisas relacionadas à pandemia e que 10% são para possíveis tratamentos para o coronavírus. No momento, oito estudos estão aprovados para serem feitos na instituição. "Um destes se refere ao Baricitinibe, que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital neste mês e está em fase de recrutamento", diz o texto.
Segundo a farmacêutica Eli Lilly, o estudo não tem ainda um número já fechado de voluntários em cada local – à medida em que pacientes forem candidatos a participar da pesquisa, serão incluídos. Os resultados devem ser conhecidos em poucos meses, segundo a farmacêutica.