Com quatro meses desde o registro do primeiro caso de coronavírus no Brasil, a se completarem nesta quinta-feira (25), um a cada cinco municípios do país ainda registra crescimento acelerado de resultados positivos. Em apenas 3% deles a disseminação do vírus começa a regredir.
Entre as 27 capitais, 20 têm visto o número de novos registros aumentar com velocidade, em um momento em que prefeitos e governadores têm flexibilizado as medidas que preveem isolamento social e fechamento do comércio. Apenas uma, Recife, está em fase de desaceleração. A conclusão é fruto de um modelo estatístico desenvolvido por dois dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) que mede a velocidade da pandemia e como ela muda ao longo do tempo.
A metodologia tem como parâmetro o número de novos casos. São considerados registros dos últimos 30 dias. Foi desenvolvida por Renato Vicente, professor do Instituto de Matemática e membro do coletivo Covid Radar, que mapeia a doença, e Rodrigo Veiga, doutorando em física. Eles se basearam em um estudo de epidemiologistas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) para desenvolver o projeto.
A situação em cada lugar é dividida em cinco categorias: inicial, acelerada, estável, desaceleração e controlada. O estágio inicial é aquele em que são registrados os primeiros casos. São cidades em que houve pouco mais que um ou dois registros. A fase acelerada é quando há aumento de novos casos. Na estável, por sua vez, o número diário de novos casos é constante.
Se a quantidade de novos registros começa a diminuir, ou seja, o ritmo de contágio desacelera, tem-se a etapa de desaceleração. Quando a disseminação do vírus cede consistentemente, com poucos ou nenhum caso novo, chega-se à fase denominada controlada. Nenhuma cidade brasileira está nesse estágio no momento.
Na quinta-feira (18), o Brasil tinha 1.138 municípios em situação de crescimento acelerado da covid-19. Isso equivale a 20% do total do país. Hoje, a doença chegou a 83% deles, um universo de 4.811 cidades. O Estado com mais municípios em fase de aceleração é São Paulo (139, o que equivale a 22%), seguido do Ceará (119, o que equivale a 65%).
Mas há, também, 189 cidades que têm visto o número de novos registros cair. Há um mês, eram apenas três. O Estado com mais municípios nessa fase é o Maranhão: são 42 (20%). Em maio, os maranhenses adotaram regime de "lockdown" na região metropolitana e na capital após ter o sistema de saúde em colapso. A medida, que restringe a circulação de pessoas nas ruas a situações excepcionais, foi determinada pela Justiça.
Hoje, São Luís se encontra na fase estável, segundo o modelo dos pesquisadores. Na sexta (19), o governador Flávio Dino anunciou um plano de retomada de serviços até então paralisados. Academias voltaram a funcionar na segunda-feira (22), e bares e restaurantes serão reabertos no dia 29. Se a situação da pandemia se mantiver, a previsão é que as escolas possam voltar a funcionar em agosto.
Recife, cuja região metropolitana teve "lockdown", é a única entre as capitais em fase de desaceleração. A cidade reabriu o comércio de rua na semana passada e, no sábado (20), voltou a permitir a realização de esportes individuais na praia — banhistas continuam barrados.
Outras cinco capitais, além de São Luís, estão em situação considerada estável, em que o ritmo de novos casos se mantêm. São elas: Rio de Janeiro, Belém, Manaus, Fortaleza e Boa Vista. À exceção de Boa Vista, todas elas reabriram parte do comércio. A capital de Roraima inaugurou na semana passada seu primeiro hospital de campanha, três meses após a previsão inicial. Desde o início da pandemia, o Estado já teve quatro secretários de Saúde.
Já São Paulo se encontra em fase de crescimento acelerado de registros. Renato Vicente, contudo, diz que o aumento de novos casos vem perdendo o fôlego, e a capital paulista tem caminhado para a estabilidade.
Essa situação pode ser ameaçada pela reabertura de alguns serviços, como o comércio de rua, que voltou a funcionar no último dia 10. Também foram reabertos os shopping centers, que tiveram filas de clientes. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a capital paulista contabiliza, desde o início da pandemia, quase 108 mil pessoas infectadas e mais de 6,4 mil mortos.
Na última sexta-feira (19), o Brasil ultrapassou a marca de 1 milhão de casos confirmados. No sábado, o país superou 50 mil mortos pela doença.