Em Trindade do Sul, todo mundo conhece alguém que está infectado por coronavírus. Do prefeito ao comerciante, do agricultor à senhora que vê a vida passar tomando chimarrão na porta de casa. Em comunidade pequena, os contaminados não ficam anônimos a ninguém.
O município de 5,8 mil habitantes no norte do Estado tem, segundo a prefeitura, 36 casos confirmados da doença. Os dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), atualizados às 18h desta quinta-feira (28), apontam 26 testes positivos. Eles ainda não contabilizam os dez novos casos que, segundo o governo municipal, foram confirmados hoje.
Com 36 ocorrências, a cidade teria uma incidência de 620 casos por 100 mil habitantes, o que colocaria o município na quarta colocação do Estado neste ranking — acima dele estão Lajeado (1541,6), Saldanha Marinho (1076,4) e Garibaldi (869,3), levando em consideração que a SES só considera esse índice como parâmetro para ações quando a quantidade de casos confirmados é maior que 20.
O avanço da doença fez a prefeitura reavaliar o fechamento do comércio mais uma vez. Até esta sexta-feira, um novo decreto mais restritivo deve ser editado na cidade.
— Aqui a gente sabe de pessoas que pegaram o vírus, algumas já melhoraram. Do jeito que a coisa está, é preocupante. Por isso eu só saio até a minha sacada — conta o agricultor Adelar Ancantara da Rosa, 64 anos, do alto do segundo andar do prédio na Avenida Pinheiro, a principal via do pequeno perímetro urbano da cidade.
Na rede de proteção da varanda, uma dúzia de máscaras da família secava ao sol na manhã desta quinta-feira, enquanto ele jogava bola com o filho de seis anos.
— Em 60 dias, aprendemos a conversar pela sacada, jogar bola e entreter as crianças. Vejo a cidade daqui — afirma Rosa, que no Interior do município cria gado e cultiva soja e milho.
O agricultor tem motivos de sobra para zelar por ele e pela família. No Hospital Santa Rosa de Lima, cinco quartos estão reservados para pacientes com covid-19 mas há um único respirador para a cidade. Casos mais graves são encaminhados para Passo Fundo ou Frederico Westphalen, a 112 e 81 quilômetros de distância, respectivamente.
Sem muito constrangimento, Leonelci Pereira, 59 anos, conta que já precisou dispensar, mais de uma vez, visitas que estavam na porta de casa. A agricultora aposentada vive sozinha e diz que, em nome do distanciamento social, combinou de ver os três filhos apenas em chamadas de vídeo, e por isso não abre brecha para quem chega de surpresa.
— Se eu me cuido, se não tenho contato com ninguém, não faz sentido eu receber visitas. Eu digo: volte quando o coronavírus passar. Eu sei de vários que já pegaram, não quero ser a próxima — ensina.
Na cidade, há três linhas principais de contaminação: são sete contaminados no frigorífico da JBS, outros sete casos na empresa Projesul, uma terceirizada da RGE. O terceiro grupo é de moradores que diariamente se deslocam para trabalhar em frigoríficos de Chapecó (SC), a 70km da cidade. A cidade tem um óbito: uma mulher de 70 anos que teve contato com dois profissionais do Serviço Móvel de Urgência (Samu) que estavam com a doença, mas assintomáticos.
O prefeito de Trindade do Sul, Odair Pelicioli, afirma que em Trindade do Sul, se testa todos os moradores que têm sintomas de gripe. Os exames são feitos em parceria com o campus de Palmares do Sul da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foram comprados 500 testes, dos quais 200 já foram executados. Antes da população por o pé nas unidades de saúde, um termômetro mede a temperatura de quem procura o serviço:
— Estamos testando e não estamos escondendo os casos. Acho que agora estamos vivendo o tal do pico da doença — diz o prefeito.
O próprio centro administrativo, o local onde o prefeito despacha, precisou ser fechado por dez dias após um servidor testar positivo. O local passou por desinfecção e esta quinta-feira foi o primeiro dia de funcionamento.
— Eu percebo que quanto se vê a notícia de que tem mais casos vem aquele "ai meu Deus do céu, se cuida", mas aí é questão de horas e o relaxamento começa a acontecer. Embora a população entenda o risco e esteja se cuidando, muitos se infectam nas relações pessoais da sua vida íntima, na hora do lazer, da confraternização familiar, quando acabam não se cuidando. E aí como é que o poder público vai atuar? É nesse momento que o vírus se propaga.
A grande dor de cabeça do prefeito, no entanto, é a aglomeração nos bancos durante os primeiros dez dias do mês para saque dos salários. A cidade tem apenas duas agências bancárias, uma do Banrisul e outra do Sicredi, e falta opção de locais com caixas eletrônicos:
— Temos 1,4 mil empregos vinculados ao Banrisul. Chega os dias 4 e 5, vira uma loucura. São alguns gargalos complexos. É um caos no começo de mês. Já tivemos que multá-los porque era muita gente na agência.
Na cidade, igrejas e clubes seguem fechados. Academias podem atender um número limitado de pessoas e proíbem exercícios aeróbicos. Bares e restaurantes têm permissão para atender das 11h às 14h30. O comércio reabriu mas o movimento é mínimo. Funcionários ficam a maior parte do tempo na frente das lojas, observando o movimento da avenida principal na esperança que um cliente se anime a entrar.
Leocir Ascoli, 59 anos, faz o mesmo, sentado na janela da sua lanchonete. Ele conta que o movimento está 70% menor que o habitual. Gastos como água, energia elétrica e aluguel estão sendo pagos com ajuda do auxílio de R$ 600 do governo federal que a mulher recebe. Não fosse isso, já teria boletos atrasados. Ainda que esteja com as contas quitadas, Ascoli não é otimista quanto a um eventual cenário de avanço da doença na cidade:
— Se continuar assim por mais dois meses, teremos que fechar. Não vai dar para manter vendendo tão pouco. Não sei o que é pior, ficar doente ou fechar minha lancheria.
À frente da Associação Comercial e Industrial de Trindade do Sul, entidade com 67 associados, Gleison Viapiana é contra novo fechamento do comércio e acredita que o funcionamento das lojas não afeta a disseminação da doença. O dirigente argumenta que, no Interior, serviços como delivery e take away não têm a mesma adesão do que em cidades maiores:
— Cidade pequena sente muito com este fechamento. Telentrega aqui não funciona. Não tem demanda. O hábito das pessoas é outro. Nas lojas, o pessoal gosta mesmo é de olhar, tocar, provar. Como vai comprar roupa sem provar? O que adianta o comerciante fechar e as pessoas fazem churrasco, encontros e reúnem amigos?
A cidade de Trindade do Sul
- 5,8 mil habitantes
- 36 casos confirmados
- 620 casos para cada 100 mil habitantes
Contraponto
Confira a íntegra da nota do Banrisul
“O Banrisul tem adotado várias medidas para garantir a saúde e segurança dos seus clientes e colaboradores, de acordo com as orientações de prevenção definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades da saúde.
Nas agências do Banrisul, os clientes são instruídos a manterem uma distância segura de dois metros, inclusive nas salas de autoatendimento e quando ocorre espera no passeio público; higienizarem as mãos antes e depois de utilizar os terminais de autoatendimento e o uso obrigatório de máscara para o acesso às dependências das unidades bancárias.
O Banrisul disponibiliza serviços nos meios digitais (App Banrisul Digital e Internet Banking), caixas eletrônicos e no Banrifone, mas caso o cliente necessite de atendimento presencial, pode efetuar o agendamento de seu atendimento pelo aplicativo ou pelo site www.banrisul.com.br .
O Banrisul, em consideração ao direcionamento da OMS e respeitando a importância das ações de prevenção, salienta que, antes do cliente agendar o atendimento presencial nas agências, confira se a demanda pode ser resolvida pelos canais digitais, que são seguros, ágeis e favorecem a proteção de todos.
Pelo app Banrisul Digital e Internet Banking - Home e Office Banking – os clientes têm acesso aos serviços de extratos; pagamentos; transferência de valores; cartão de crédito; empréstimos; investimentos; câmbio; depósito de cheques; bloqueio de conta, cheque, cartão e senha de seis dígitos; entre outros.”