A fronteiriça Giselda Gusman de Lima recém tinha celebrado os 90 anos quando foi vitimada pela covid-19. Após um breve período de internação, ela morreu no hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, em 6 de abril.
Giselda teve uma vida longa e movimentada. Nascida no dia 3 de fevereiro de 1930 em Santana do Livramento, ela foi morar em Porto Alegre aos 18 anos de idade. Atuou como auxiliar de enfermagem. Foi aí que conheceu o futuro marido, Francisco Rodrigues de Lima (já falecido). Com o tempo, deixou de atuar em enfermagem e virou dona de casa. Os dois tiveram seis filhos, 16 netos e 21 bisnetos.
— Era muito carinhosa com os filhos, netos e bisnetos. Até seus últimos dias, tinha uma memória maravilhosa, não esquecia o aniversário de ninguém — descreve a neta Nathália Huffell, que trabalha como instrumentadora cirúrgica na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e convive com colegas e pacientes sujeitos à pandemia.
Nathália diz que, após a perda do marido, Giselda pouco saía de casa. Morava com a filha Carmen, de 62 anos, também pouco dada a atividades externas ao lar.
Giselda era hipertensa e já tinha tido outras doenças respiratórias. Na madrugada do dia 28 de março, sentiu fortes dores nas costas e dificuldade para respirar. Foi levada ao hospital Mãe de Deus, onde foi internada na CTI e isolada. Imediatamente, foi feito o teste para covid-19, que deu negativo. Como os sintomas de síndrome respiratória aguda grave persistiram, foi realizado outro teste, que deu positivo para presença de coronavírus.
Giselda ainda teve uma leve melhora e chegou a ser levada para um quarto. No dia 2 de abril, piorou e foi levada para a CTI novamente, de onde não saiu mais. O quadro era de pneumonia e insuficiência respiratória. No dia 6 de abril, por volta das 7h30min, ela faleceu. A morte foi atestada como consequência da covid-19.
No dia da morte de Giselda, a neta Nathália prestou homenagem a ela, num texto no Facebook em que apela para que as pessoas se cuidem mais:
"Hoje, entramos para as estatísticas. Tu entrou, vó. Foi a quinta morte por coronavírus (covid-19) no Rio Grande do Sul, 553ª morte no Brasil. Saio diariamente trabalhar, dar auxilio a pessoas que precisam de cuidados, mas infelizmente esse auxílio eu não pude dar à senhora. E aqui fica o meu questionamento: quantas mortes são aceitáveis? Muitas pessoas são hipócritas ao responder, pois quando se trata da nossa família, a resposta é ZERO. Por isso, faço meu apelo, fiquem em casa! Não só por sua família, mas pelas famílias de todos nós! Lembraremos eternamente da senhora!"