Pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado para covid-19 ocupam 11% dos leitos operacionais de UTI em Porto Alegre, conforme levantamento realizado até o meio-dia desta quarta-feira (1º). O número é considerado "sob controle" pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em razão de medidas como o isolamento social adotado nas últimas semanas, mas ainda assim vem demonstrando tendência de aumento.
Uma semana antes, havia 21 casos suspeitos e sete confirmados em centros de tratamento intensivo na Capital, somando 28 doentes. Até o começo da tarde desta quarta, eram 34 sob suspeita e outros 24 com exames positivos, totalizando 58 pessoas em um universo de 525 leitos conforme tabulado no sistema online de monitoramento desenvolvido pela prefeitura — o equivalente a 11%.
O crescimento é de 107% ao longo de uma semana quando se contam as internações sob investigação ou com resultado positivo, e triplica quando se contabilizam apenas os doentes com diagnóstico garantido. Apesar disso, o diretor-geral de Regulação da SMS, Jorge Osório, avalia que a situação segue sob parâmetros razoáveis.
— Temos a impressão de que conseguimos retardar aquela curva que se vê em outras partes do mundo, exponencial. Estamos subindo (o número de casos graves), mas é linear, não geométrico. Seguimos observando diariamente as novas notificações e a ocupação dos leitos — afirma Osório.
A Capital ainda tem uma folga na atual estrutura. O sistema informatizado mostrava um total de 381 pacientes em UTIs, o que corresponde a uma taxa de 72% de ocupação. A desocupação de uma parcela desses leitos foi favorecida, conforme a SMS, pelo adiamento de procedimentos eletivos que poderiam resultar em posterior internação em alas de tratamento intensivo.
Conforme o sistema online, o Hospital Moinhos de Vento concentrava o maior número de casos confirmados ou com suspeita de terem contraído o vírus na Capital, com 13 pacientes com diagnóstico positivo e outros quatro ainda sob suspeita. A instituição apresentava taxa de 66% de ocupação dos 56 leitos de tratamento intensivo disponíveis para adultos. O Conceição tinha 14 internados em investigação e um confirmado, com lotação de 84,7%, e o Clínicas informava quatro suspeitos, seis com covid-19 e 74,5% das vagas em uso.
Da rede hospitalar na Capital com registro de paciente com risco ou certeza de coronavírus, todos já haviam informado dados atualizados até o começo da tarde de quarta-feira, com exceção do Mãe de Deus, que ainda exibia as informações da véspera, com quatro pessoas em investigação e outro tanto com diagnóstico certo e 82% de taxa de ocupação em 50 vagas na ala de adultos.
A prefeitura indicava a ocorrência de três internações de crianças em UTIs pediátricas com possibilidade de terem contraído o vírus. Os casos, até então sem confirmação, se encontravam no Hospital São Lucas, no Moinhos de Vento e no Conceição. Segundo Osório, todos os casos de síndrome gripal com necessidade de internação estão sendo tratados como suspeita de covid-19. Somente a realização dos testes poderá esclarecer a situação dessas crianças na Capital. O diretor da SMS lembra que a cidade já registrou casos de cura envolvendo doentes com coronavírus que precisaram passar por tratamento intensivo, mas não soube precisar o número. Osório afirma que as unidades de internação seguirão sendo monitoradas de perto:
— Estamos sempre com um olho no horizonte. A qualquer momento, essa curva pode mudar de padrão, e aí poderá ser necessário lançarmos mão de outras estruturas e mais respiradores para dar conta — afirma Jorge Osório.
Número de leitos deverá ser ampliado
Caso se confirmem prognósticos de agravamento da pandemia e seja necessário ampliar a oferta de camas em UTIs na Capital, a Secretaria Municipal da Saúde garante que já existe uma expansão em andamento.
O Hospital de Clínicas, por exemplo, já anunciou um plano para acrescentar outros 105 leitos à rede graças à liberação de R$ 57 milhões para equipar o novo Centro de Terapia Intensiva (CTI). Serão liberadas, inicialmente, 10 vagas, e o restante deverá ser disponibilizado gradualmente, por módulos, conforme a necessidade provocada pelo avanço da pandemia. O projeto é desenvolvido em parceria com os ministérios da Saúde, da Educação, da Economia e as secretarias municipal e estadual da Saúde.
Outro hospital de referência na cidade deverá deixar sua estrutura mais robusta para combater o coronavírus. O diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Paz, informa que a instituição poderia abrir mais de 70 leitos para atender a pacientes da covid-19. Mas, para alcançar esse número, ainda há carência de recursos a serem sanadas.
— Podemos abrir até mais 73 leitos dependendo da necessidade e de conseguirmos mais 30 ventiladores pulmonares — diz Paz.
O número de casos registrados em Porto Alegre chegou a 190 na noite de terça-feira (31), conforme os registros da Secretaria Estadual da Saúde. A Capital notificou até as 18h de quarta três mortes decorrentes do coronavírus.