Município de 98,1 mil habitantes na Região Metropolitana onde ninguém nasce em hospital público há mais de uma década, Guaíba perderá a única maternidade privada na cidade, da Unimed.
A cooperativa de saúde fechará a unidade de obstetrícia, assim como o setor de internação do hospital, sob o argumento de que ampliará o pronto atendimento de urgência, emergência, cirurgias ambulatoriais e exames de imagem. A Unimed Porto Alegre se pronunciou por meio de nota oficial: "com a reforma, o hospital não prestará mais o serviço de obstetrícia e internação e estará focado na qualidade assistencial" (leia o texto completo abaixo).
A decisão da Unimed forçará autoridades públicas de saúde a agilizar a abertura da maternidade do Pronto Atendimento Solon Tavares. Conhecido como PA, tem espaço físico destinado a hospital público e maternidade praticamente pronto, mas ainda sem uso. Hoje, cerca de 20 parturientes são atendidas por meio de convênio no hospital da Unimed, segundo estimativa da prefeitura de Guaíba. Outras 80 moradoras do município se deslocam para dar à luz em Porto Alegre.
De acordo com o prefeito de Guaíba, José Francisco Sperotto, obras estão em fase final no PA para abertura de 15 leitos da maternidade até o final de junho.
— É a nossa prioridade. Desde que assumimos em 2017, buscamos emendar em Brasília para equipar o hospital. Falta pouco para concretizar nosso sonho, um clamor antigo da comunidade — afirmou, garantindo que outros 40 leitos para internação clínica devem estar disponíveis no segundo semestre.
O último nascimento em Guaíba, via Sistema Único de Saúde (SUS), aconteceu em agosto de 2009 no Hospital Nossa Senhora do Livramento. Naquela época, a instituição fechou a maternidade e o bloco cirúrgico, seguindo atendendo outros pacientes até julho de 2015, ao encerrar atividades em definitivo. A justificativa foi a falta de repasses por parte do governo do Estado e a não renovação de convênio.
Presidente da comissão criada em defesa dos hospitais de pequeno porte da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Carlos Alberto Vigne lembra que o caso de Guaíba chama atenção para a necessidade da retomada de um projeto de lei que estabelece a política estadual para hospitais de pequeno porte e propiciaria a abertura de mais leitos. Proposto pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia, foi arquivado na Casa em dezembro de 2018.
— Estamos pedindo para desarquivar e levar o assunto ao governo do Estado. Entre 2013 e 2018, perdemos 1.016 leitos do SUS — afirma Vigne, prefeito de Braga, no Noroeste gaúcho.
Nota de esclarecimento da Unimed Porto Alegre
"A Unimed Porto Alegre informa que o Hospital Unimed Guaíba não irá fechar, como divulgado em redes sociais. O Hospital receberá, inclusive, um investimento de R$ 15 milhões para reforma e ampliação da sua estrutura. Será construído o novo pronto-atendimento, com mais consultórios, além da ampliação e nova estrutura do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) e Laboratório. A iniciativa irá proporcionar maior capacidade na área de atendimento para assistir de forma ainda mais qualificada a principal demanda da região.
Com a reforma, o Hospital não prestará mais o serviço de obstetrícia e internação e estará focado na qualidade assistencial, com atendimentos de urgência, emergência e cirurgias ambulatoriais que tenham pós-cirúrgico de até 12 horas.
Para realizar a reestruturação, a Unimed Porto Alegre entende que faz parte do processo repensar áreas. Sendo assim, o bloco cirúrgico e a sala de recuperação serão remodelados para bloco cirúrgico ambulatorial e abrigará também a área de Endoscopia."