O Ministério da Saúde decidiu aumentar, nesta terça-feira (3), de 16 para 27 o número de países que está no radar do governo brasileiro para coronavírus. Para que um caso seja considerado suspeito para a doença, é preciso ter visitado algum desses países nos 14 dias anteriores ao retorno, além de manifestar febre e sintomas respiratórios. A maior mudança é a inclusão dos Estados Unidos e de mais países da Europa, o que deve causar um salto no número de suspeitos nos próximos dias. Até o início da noite, o número que o ministério divulgava era de 26 países.
A lista completa foi divulgada na noite desta terça-feira (3) pelo Ministério da Saúde. Até agora, incluía Alemanha, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Camboja, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Tailândia e Vietnã. Confira a lista:
1. Alemanha
2. Austrália
3. Canadá
4. China
5. Coreia do Norte
6. Coreia do Sul
7. Croácia
8. Dinamarca
9. Emirados Árabes Unidos
10. Espanha
11. Estados Unidos
12. Finlândia
13. França
14. Grécia
15. Holanda
16. Indonésia
17. Irã
18. Itália
19. Japão
20. Malásia
21. Noruega
22. Reino Unido
23. San Marino
24. Singapura
25. Suíça
26. Tailândia
27. Vietnã
— Temos que cuidar a questão da assistência, sobretudo com idosos, pessoas imunodeprimidas e com doenças crônicas — afirmou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis.
Gabbardo chegou a afirmar que o governo tem "convicção" de que o vírus circula no país, mas foi corrigido pelo secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, segundo o qual não há transmissão local do coronavírus no Brasil – isto é, brasileiros que passem a doença para outros brasileiros.
O Brasil segue, por enquanto, com apenas dois casos confirmados da doença – ambos em São Paulo, de pessoas que visitaram o norte da Itália. No entanto, subiu de 433 para 488 o número de casos suspeitos de coronavírus no Brasil.
No Rio Grande do Sul, Estado que inspira grandes cuidados por ter inverno frio e grande número de idosos, o número de pessoas em acompanhamento subiu de 73 para 82. Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS) apontam que as suspeitas estão em 23 municípios.
Porto Alegre apresenta o maior número de registros, com 47 casos investigados. Em Caxias do Sul são três casos suspeitos. As cidades de Canoas, Canela, Charqueadas, Cidreira, Cruz Alta, Farroupilha, Montenegro, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul contabilizam, cada uma, dois casos investigados.
Ainda há dois casos de residentes em outros países que vieram visitar o Rio Grande do Sul e apresentaram os sintomas da doença. A SES/RS não divulga a origem destas pessoas.
Horário de atendimento de postos de saúde
O Ministério da Saúde também informou que não pediu, até o momento, mais recursos para combater o coronavírus. No entanto, a pasta estuda expandir o horário de atendimento de postos de saúde. Normalmente, postos de saúde funcionam das 7h às 19h.
Para isso, o governo federal deve ampliar o repasse de recursos às prefeituras. O valor a ser investido e o número de municípios que serão beneficiados não foram divulgados.
— Queremos diminuir a possibilidade de as pessoas buscarem o primeiro atendimento em hospital, queremos que elas compareçam às unidades básicas de saúde. Vamos trabalhar com prefeituras, botando mais recursos, para ampliar o horário de atendimento para atender à nova demanda que deve ocorrer a partir de agora — destacou Gabbardo.
O Brasil já tem um programa específico de maior horário de atendimento em postos de saúde: é o Saúde na Hora, que mantém as portas abertas à noite e nos fins de semana em quase 1,5 mil unidades serviços de saúde de quase 250 cidades. Segundo Gabbardo, a ideia é "radicalizar" a estratégia.
— Vamos radicalizar essa política, criar novos critérios e colocar novos recursos para as unidades funcionarem em horário estendido. Mas o ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta) vai anunciar isso em tempo oportuno.
Governo irá mudar orientação para brasileiros
O governo federal também planeja, quando forem confirmados cem casos de coronavírus no Brasil, deixar de coletar material genético de cada indivíduo considerado "suspeito". A ideia é concentrar-se apenas nos casos graves.
Quando isso ocorre, mudará, também, a orientação para brasileiros buscarem atendimento médico. A partir daí, deverá buscar atendimento em postos de saúde apenas quem viajou nos últimos 14 dias para a lista de países em alerta e que, necessariamente, tenha também febre e sintomas respiratórios.
Na prática, a ideia é incentivar indivíduos sem sintomas ou com sintomas muito leves a ficarem em casa para não transmitir vírus para as populações mais vulneráveis – idosos, pessoas com baixa imunidade e doenças crônicas.
— É muito melhor que a pessoa ligue para o 136 e evite ir para uma unidade de saúde. Vamos deixar para irem as pessoas com sintomas mais fortes, que haja necessidade de ter assistência. Não é positivo para as pessoas que realmente estão doentes e precisarão de assistência — destacou o secretário-executivo do Ministério da Saúde.
Com a mudança, o acompanhamento estatístico de casos confirmados perderá importância para dar lugar à preocupação do governo em dar assistência aos brasileiros. É quando o governo deixará a fase de "contenção" para a estratégia de "mitigação", focada em prevenir internações e mortes pela doença.
As estatísticas mostram que, para a maior parte das pessoas, o coronavírus se manifesta como uma gripe comum. Cerca de 3,4% das pessoas infectadas ao redor do mundo morreram – sobretudo idosos com problemas respiratórios prévios ou baixa imunidade. Em geral, homens morrem mais.
A principal recomendação da OMS e do governo brasileiro contra o coronavírus é simples: lavar as mãos sempre que chegar da rua e evitar espirrar nos outros. Em locais públicos, evite tocar em objetos e depois na boca, no nariz ou nos olhos. Ao usar álcool gel, opte pela versão 70%.
Casos confirmados
Há mais de 90 mil casos confirmados e 3,1 mil mortes por coronavírus em 72 países, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (3).
A China reportou 129 novos casos, o menor número desde 20 de janeiro. Fora da China, há 1.848 pessoas com a doença, das quais 80% estão em três países: Coreia do Sul, Irã e Itália.
Em discurso nesta terça-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, destacou que pessoas com coronavírus e sem sintomas são uma minoria dos casos – diferentemente do vírus influenza, da gripe. Ambos são transmitidos por gotículas de saliva.
— Com a influenza, pessoas infectadas mas ainda não doentes são os maiores transmissores, o que não parece ser o caso do covid-19. Evidências da China mostram que apenas 1% dos casos reportados não têm sintomas, e a maioria dos casos desenvolve sintomas dentro de dois dias — afirmou Adhanom.
*Colaborou Laura Becker