Redução no número de mesas, tubos de álcool gel por toda a parte e, em alguns casos, até a decisão de fechar as portas: essas são algumas das medidas tomadas por restaurantes de Porto Alegre após a publicação do decreto 20.506 (leia abaixo), que determina uma série de ações para reduzir a propagação do coronavírus na Capital. Em regime de urgência, comerciantes se apressam para fazer as adequações propostas, mesmo diante de uma queda vertiginosa no número de clientes.
Com quase três décadas de mercado, Luiz Roberto Flores, proprietário do restaurante Prato Verde, no Bom Fim, diz que nunca viu algo semelhante ao que está acontecendo. Nem mesmo a greve dos caminhoneiros, que paralisou o país em 2018, provocou tanto abalo no negócio como o coronavírus.
– O impacto financeiro é terrível. Um prejuízo incalculável – avalia.
Tomando todas as medidas possíveis e indo até além delas, o administrador do estabelecimento estipulou, desde o começo da semana, o uso de máscaras e luvas por todos os funcionários. Também ampliou o número de embalagens de álcool gel no local: na entrada, ao lado do caixa e de uma pia e na entrada do bufê. Também foram colados avisos sobre os alimentos pedindo que os clientes não conversem ao se servirem. Uma das medidas mais drástica foi a redução no número de mesas superior a 50%, conta o empresário:
– Temos 66 mesas e estamos usando apenas 30. Vamos fazer tudo que puder para colaborar.
A forma encontrada para fazer essa diminuição foi intercalar mesas livres e “reservadas”. Essas últimas são as que deixam de receber clientes.
Novos hábitos
Apesar de já praticar muitas das determinações do decreto municipal, a rede Temakeria Japesca reforçou o cuidado com a higiene. As limpezas que eram feitas ao longo do dia ganharam frequência ainda maior. Também houve redução em 50% na quantidade de lugares no restaurante, mudança percebida claramente ao olhar os balcões.
– Aumentamos o espaçamento entre os bancos, cadeiras e mesas – diz o gestor de franquias da Temakeria, Rafael Herrmann.
Até mesmo os tradicionais temperos desse tipo de comida, o shoyu e wasabi, foram remanejados: saíram das mesas para evitar passar pelas mãos de muitas pessoas. Agora, quem quiser os itens deve solicitar aos funcionários, explica a nutricionista da rede, Êmilli Nascimento.
Medidas mais drásticas
Com uma redução de 70% no faturamento nos últimos dias, Tiago Costa Flores decidiu fechar, a partir de hoje, as portas do restaurante Prato Misto, localizado dentro da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
– Fechamos por tempo indeterminado – lamenta, acrescentando que a decisão também tem como objetivo preservar clientes e funcionários.
Outro restaurante que também deixa de funcionar na sexta até novas determinações do governo é o Berna, situado dentro do Palácio do Comércio.
_ Nossa preocupação é com as pessoas, o negócio já está sofrendo. Temos funcionários que estão no grupo de risco. Esse é o momento de dar exemplo. Não adianta trabalhar semana que vem com 30% do faturamento _ fala o responsável pelo comércio, Elton Pivatto.
O decreto
O artigo 2º determina 10 medidas de higiene que devem ser feitas de forma cumulativa pelos estabelecimentos. Dentre elas, estão a limpeza das superfícies de toque, como bancadas, mesas e cardápios, após cada uso. O texto também orienta que os locais devem manter pelo menos uma janela aberta para circulação de ar e que precisam reduzir o número de mesas a fim de aumentar o distanciamento entre uma e outra. A distância mínima recomendada é de dois metros lineares entre os consumidores.
Fora isso, os restaurantes não poderão exceder a lotação de 50% prevista no alvará de funcionamento. Quem descumprir as normas está sujeito à multa, interdição parcial ou total e até mesmo cassação do alvará de localização e funcionamento.
Veja o texto:
Os estabelecimentos restaurantes, bares, lanchonetes deverão adotar as seguintes medidas, cumulativas:
- Higienizar, após cada uso, durante o período de funcionamento e sempre quando do início das atividades, as superfícies de toque (cardápios, mesas e bancadas), preferencialmente com álcool em gel 70% (setenta por cento), bem como com biguanida polimérica ou peróxido de hidrogênio e ácido peracético;
- Higienizar, preferencialmente após cada utilização ou, no mínimo, a cada a cada 3 (três) horas, durante o período de funcionamento e sempre quando do início das atividades, os pisos, paredes e forro, preferencialmente com água sanitária, bem como com peróxido de hidrogênio ou ácido peracético;
- Higienizar, a cada 3 (três) horas, durante o período de funcionamento e sempre quando do início das atividades, os pisos, paredes, forro e banheiro, preferencialmente com água sanitária, bem como com peróxido de hidrogênio ou ácido peracético;
- Manter à disposição, na entrada no estabelecimento e em lugar estratégico, álcool em gel 70% (setenta por cento), para utilização dos clientes e funcionários do local;
- Dispor de protetor salivar eficiente nos serviços que trabalham com buffet;
- Manter locais de circulação e áreas comuns com os sistemas de ar condicionados limpos (filtros e dutos) e, obrigatoriamente, manter pelo menos uma janela externa aberta ou qualquer outra abertura, contribuindo para a renovação de ar;
- Manter disponível kit completo de higiene de mãos nos sanitários de clientes e funcionários, utilizando sabonete líquido, álcool em gel 70% (setenta por cento) e toalhas de papel não reciclado;
- Manter os talheres higienizados e devidamente individualizados de forma a evitar a contaminação cruzada;
- Diminuir o número de mesas no estabelecimento de forma a aumentar a separação entre as mesas, diminuindo o número de pessoas no local e buscando guardar a distância mínima recomendada de 2m (dois metros) lineares entre os consumidores;
- Fazer a utilização, se necessário, do uso de senhas ou outro sistema eficaz, a fim de evitar a aglomeração de pessoas dentro do estabelecimento na aguardando mesa;
- A lotação não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da capacidade máxima prevista no alvará de funcionamento ou de prevenção e proteção contra incêndio, bem como de pessoas sentadas.