A cada ano, são diagnosticados 180 mil novos casos de câncer de pele no Brasil, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca). De olho nesses números e cientes da importância do diagnóstico precoce, pesquisadores do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) trabalham em uma tecnologia de detecção precoce da doença. Acessível, ela exige apenas um celular com câmera fotográfica.
O professor Jacob Scharcanski, líder da pesquisa, conta que a ideia do projeto nasceu em 2009, quando o grupo encabeçado por ele questionou a confiabilidade das câmeras convencionais para obtenção de diagnósticos precisos:
— Começamos a investigar isso a nível de pesquisa para melhorar processos e dominar artefatos com iluminação não controlada, posição da câmera não controlada. Formamos uma equipe e começamos a obter resultados importantes, que confirmaram que é possível usar a câmera como pré-diagnóstico de uma lesão de pele potencialmente maligna ou benigna.
Na prática, a ferramenta funciona assim: através de uma foto de smartphone, a lesão é analisada por meio de inteligência artificial. A tecnologia faz avaliações usando critérios similares aos utilizados por dermatologistas e produz um indicativo da propensão da lesão ser maligna ou benigna.
— Se houver uma chance de ser maligna, a recomendação é: procure um dermatologista. Isso aceleraria o processo, o que é muito importante, pois essas lesões de pele podem ser muito agressivas. O tempo é crucial: o prognóstico melhora na medida em que se descobre a lesão mais cedo — diz o docente, que também é membro do Instituto de Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE).
A taxa de sucesso com fotos cadastradas em uma base de imagens validadas por dermatologistas é de 99%, segundo o pesquisador. Como é baseada em inteligência artificial, a tecnologia melhora seu desempenho com a utilização e vai aprendendo a diferenciar os casos benignos e malignos.
Ainda sem prazo para chegar ao mercado, o projeto precisa de uma certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que requer investimentos maiores de tempo e de dinheiro.
— Esse processo é relativamente custoso e trabalhoso. Se tivesse uma empresa parceira interessada em construir um equipamento, um protótipo, em um ou dois anos ele poderia ir para o mercado — avalia Scharcanski.
Fora a praticidade e precisão, a tecnologia traz como vantagem a facilidade do uso: pode ser utilizada por qualquer médico, mesmo que não especializado em dermatologia, agilizando o encaminhamento ao especialista nos casos necessários.
Atualmente, os médicos dermatologistas dispõem de um aparelho chamado dermatoscópio para avaliar sinais e lesões. Considerado o "estetoscópio" dos especialistas em pele, o aparelho manual é capaz de ampliar em 10 vezes o sinal. Já a versão digital do aparelho tem capacidade de aumento de mais de cem vezes, além de permitir o armazenamento das imagens para futuras comparações, explica a especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Louise Lovatto.
— Todos os locais que têm dermatologistas certamente possuem dermatoscópios. Alguns oncologistas e cirurgiões usam, mas outras especialidades não, pois precisa treinamento —diz Louise.