Minha coluna de abril passado, "Os Prós e Contras da Terapia com Estatina", recebeu quase 700 comentários on-line, muitos deles de pessoas que me acusaram de estar do lado das grandes indústrias farmacêuticas.
Sim, as estatinas são drogas de sucesso, com vendas na casa dos bilhões, mas algumas pessoas questionam se são seguras e eficazes. Nesta coluna, vou tentar mais uma vez explicar minha posição em relação às estatinas e ajudar outras pessoas a lidar com essas drogas potencialmente salvadoras.
Não possuo ações em nenhuma empresa farmacêutica, nem tenho amigos ou parentes trabalhando para alguma delas. Minhas decisões pessoais e declarações publicadas sobre qualquer medicação são baseadas em uma análise completa das melhores evidências médicas disponíveis. Essas decisões e declarações podem mudar se e quando novos resultados confiáveis assim o permitirem. Afinal de contas, isso é ciência, e a ciência está em constante evolução.
Como mencionei na coluna do ano passado, fiz uma pausa de um mês depois de mais de uma década tomando estatina para ver se isso aliviaria minha dor nas costas periódica. Não aliviou. O que aconteceu foi que meu nível de colesterol voltou para um total de 248 miligramas por decilitro de sangue e o LDL (os lipídios prejudiciais ao coração) chegou a 171, 70 e tantos miligramas maior do que deveria ser.
Minha decisão de tomar estatina não ocorreu por acaso. Comecei com uma dieta mais rigorosa que o habitual, com refeições caseiras ricas em legumes e peixes e quase sem gorduras saturadas, alimentos processados e carboidratos refinados e açúcares. Tomei suplementos de óleos de peixe, de fibras e esteroides vegetais, entre outros produtos que não exigem prescrição, que diziam diminuir o colesterol. E, claro, mantive meu peso baixo e as atividades físicas – um regime diário de caminhada, natação e ciclismo. Tudo, infelizmente, sem sucesso.
Meu médico deduziu que meu corpo estava fabricando muito colesterol, e, sabendo que eu tinha um histórico familiar assustador de ataques cardíacos prematuros, ele achou que o certo seria tomar estatina.
Muitos dos leitores que responderam à minha coluna de abril também disseram que as estatinas causavam grande dor muscular, que cessava quando paravam de tomar a droga. Não discuto que isso possa acontecer a algumas pessoas, embora numerosos estudos, incluindo um duplo-cego com controle de placebo, tenham indicado que a maioria das dores musculares relatadas não podia ser atribuída às estatinas.
Além disso, em cerca de nove por cento dos pacientes, foi provado que as estatinas aumentavam o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
Sabendo das chances de efeitos colaterais e fazendo exames periódicos que detectariam uma reação adversa, optei por me concentrar nos benefícios potenciais da droga. O mais importante para mim é que, para cada diminuição de 40 miligramas do LDL graças à estatina, o risco de um evento cardiovascular sério cai 25 por cento a cada ano.
Em um estudo de 20 anos, na Grã-Bretanha, com homens que não tinham nenhum fator de risco coronariano além de níveis elevados de LDL e nenhuma evidência de doença cardíaca, 40 miligramas por dia de pravastatina (Pravachol), uma estatina relativamente fraca, reduziram as mortes por causas coronarianas em 28 por cento.
Também são importantes os prováveis mecanismos por trás dessa proteção. Além de reduzirem os níveis do LDL no sangue, as estatinas reduzem inflamações, agora reconhecidas como um importante fator de risco para doenças cardíacas, e estabilizam a placa que estreita as artérias coronárias. A maioria dos ataques cardíacos acontece quando um pedaço de placa se torna instável, se solta e obstrui uma artéria principal que alimenta o coração.
Pode haver outros benefícios importantes. Uma revisão de 36 estudos envolvendo mais de 3,2 milhões de pessoas descobriu que o uso de estatina reduziu o risco de coágulos sanguíneos nos membros ou no pulmão entre 15 e 25 por cento. Outro bom aspecto foi a descoberta, entre 400 mil americanos, que ligou o uso da estatina a um risco mais baixo de desenvolver a doença de Alzheimer. Claro, isso é apenas uma associação, não um ensaio clínico controlado, mas uma possível explicação para essa relação é que o colesterol pode influir no processamento de beta-amiloides, placas que são a marca registrada da doença de Alzheimer.
Nada disso significa que todos os adultos com mais de 50 anos devem tomar estatina. Os ensaios envolvendo centenas de participantes com diferentes níveis de colesterol e fatores de risco coronarianos demonstraram que aqueles que estão na extremidade inferior do perfil de risco provavelmente não vão se beneficiar, pelo menos no que se refere a doença cardiovascular.
Atualmente, médicos e pacientes podem usar a Calculadora de Risco Cardiovascular para determinar onde fica, no espectro de risco, alguém entre 40 e 75 anos. Aqueles que tiverem risco abaixo de 5 por cento de sofrer um evento cardiovascular nos próximos 10 anos são considerados de baixo risco; um nível de risco entre 5 por cento e 7,4 por cento é rotulado como limítrofe; um nível de 7,5 por cento a 19,9 por cento é intermediário, e um nível de 20 por cento ou mais é considerado elevado.
Nas últimas orientações de um comitê de especialistas em cardiologia, pacientes de alto risco – incluindo qualquer um que já teve um evento cardiovascular – devem ser aconselhados a começar a tomar estatina, visando diminuir seu nível de colesterol em mais de 50 por cento. O objetivo para pacientes com risco intermediário é uma redução de 30 por cento de seu nível de colesterol LDL.
Aqueles que não têm certeza da extensão de seu risco, ou que hesitam em tomar estatina baseados somente em um perfil médico que sugere que seu risco cardiovascular é relativamente elevado, poderiam optar por uma tomografia computadorizada do coração para determinar sua contagem de cálcio na artéria coronária. A pontuação indica quanta placa endurecida pode haver nas artérias cruciais à saúde do coração.
Mesmo que você planeje tomar estatina, ela será mais eficaz quando combinada com medidas que reduzem o risco cardiovascular.
Além disso, para aqueles que enfrentam um risco maior do que a média de sofrer um ataque cardíaco ou derrame, o primeiro passo para reduzir esse risco não é uma droga, mas controlar fatores de risco modificáveis. Mesmo que você planeje tomar estatina, ela será mais eficaz quando combinada com medidas que reduzem o risco cardiovascular.
Isso significa adotar e manter uma dieta de estilo mediterrâneo que enfatize frutas, vegetais, ervilhas, feijões, nozes e sementes e que contenha pouca ou nenhuma gordura saturada, a gordura encontrada nas carnes, nas aves e nos produtos lácteos que não são desnatados. Substitua os grãos refinados pelos integrais. Os melhores óleos para cozinhar e temperar saladas são os de canola, de uva, de abacate e o azeite.
O controle do peso corporal, da pressão arterial e do açúcar no sangue também são extremamente importantes. Novamente, o primeiro passo é ter o tipo de dieta descrita acima, usando menos sal e outras fontes de sódio, e comendo menos doces e carboidratos refinados, como arroz e pão branco.
Se, ao contrário de mim, você for sortudo, essas mudanças podem mesmo baixar seu colesterol o suficiente para eliminar a necessidade de estatina e a preocupação com seus possíveis efeitos colaterais.
Por Jane E. Brody