Correção: o Hospital Fêmina não é o único que realiza procedimentos de fertilização in vitro pelo SUS na região Sul do Brasil, como informado nesta reportagem entre 12h39min de 22 de março e 9h18min de 27 de março. O serviço também é oferecido pelo Hospital de Clínicas. O texto já foi corrigido.
As mulheres que buscam a fertilização in vitro para engravidar e que não têm condições de pagar pelo atendimento particular estão sem alternativas há pouco mais de um ano. O serviço do Hospital Fêmina, em Porto Alegre, está interditado. Segundo o Ministério da Saúde, somente a instituição e o Hospital de Clínicas da Capital atendem pelo SUS os três Estados da região sul do país – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
O problema começou em fevereiro de 2018, quando houve uma infiltração na Unidade de Reprodução Humana. Um cano se rompeu, afetando toda a área onde era feita a fertilização in vitro. A partir daí, a Vigilância Sanitária passou a monitorar o local e identificou que equipamentos considerados essenciais para o funcionamento da unidade estavam em falta.
Segundo a médica Andrea Nácul, responsável técnica pela área, a Vigilância apontou a necessidade de um equipamento chamado de capela de fluxo laminar, que faz a limpeza e purificação do ar dentro da sala de fertilização. Também eram necessárias contratações de manutenção preventivas para outros aparelhos. Por este motivo, o local permaneceu interditado, mesmo após a infiltração ter sido resolvida.
— Nós estamos chateados com a demora e nos colocamos no lugar das pacientes, entendemos a ansiedade. Temos esta empatia, mas sabemos que são necessárias algumas providências para que a fertilização possa voltar a ser feita — relatou a médica.
GaúchaZH conversou com mães que não têm outra alternativa e que precisam aguardar a fertilização in vitro, indicada quando não são possíveis a fertilização natural e a inseminação artificial. Como esta costuma ser a última opção, as mulheres buscam o procedimento mais velhas, e temem não conseguir engravidar com o passar do tempo.
A professora Cristina Priori tem 35 anos e mora em Ibirubá, no noroeste do Estado. Há mais de seis anos, ela pensa em ser mãe, mas passou por muitos entraves no meio do caminho. O marido tem problemas de fertilidade e, por isso, a fertilização in vitro é a mais adequada. Mas ela está com medo de perder a oportunidade.
— Quando me chamaram para o Fêmina no ano passado, eu fui muito feliz. Mas, pouco tempo depois, comecei a chorar lá dentro do hospital, porque me informaram que a fertilização estava parada. Eu esperei tanto tempo e tanta coisa deu errada, e aí recebi essa notícia. No meu caso, não existe a opção de fazer particular: tem que ser pelo SUS. E eu já vou fazer 36 anos — lamenta.
Outra mulher, que não quis se identificar, relatou que teme pelo avanço da idade e pelo vencimento dos remédios utilizados no tratamento. Como os medicamentos não são custeados pelo SUS, ela teve que comprá-los nas duas primeiras tentativas de gravidez por meio da fertilização in vitro – segundo a paciente, cada gestação gera gastos em torno de R$ 5 mil. Na segunda tentativa, ela perdeu gêmeos aos cinco meses de gestação. Na terceira tentativa, conseguiu,por meio de decisão judicial, que o Estado custeasse os medicamentos, mas teme pela proximidade da data de vencimento.
— Os remédios que tenho aqui vencem em novembro deste ano, e toda vez que ligo para o Fêmina, eles dizem que não há previsão. Eu fiquei quatro anos na fila até me chamarem. Quem tem filho ou não pensa em ter não consegue imaginar como é para uma mulher que está esperando por isso — contou a moradora de Viamão.
Previsão de retomada de atendimentos no primeiro semestre de 2019
Segundo a médica Andrea Nácul, a compra de novos equipamentos já estava prevista para a Unidade de Reprodução Humana em 2017, mas o processo licitatório está atrasando a chegada dos aparelhos. A compra, feita no valor de cerca de R$ 80 mil, prevê a capela de fluxo laminar e uma nova incubadora que permitirá ampliar o serviço de fertilização in vitro, o único fechado na unidade. A especialista ressalta que o hospital está trabalhando para poder retomar o serviço:
— A idade da mulher é sempre um fator importante, é uma preocupação, então estamos fazendo de tudo para podermos retomar os ciclos. Para quem tem medicamentos perto de vencer, a orientação que dou é que tente devolver na farmácia ou no Estado, passando para outras pacientes.
O diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição, doutor Mauro Sparta, afirma que os equipamentos adquiridos devem chegar em abril. Com isso, a previsão é retomar os atendimentos no primeiro semestre deste ano.
— O retorno do serviço poderá acontecer a partir do momento em que chegarem estes equipamentos. Eu, pessoalmente, tenho um carinho especial por esta unidade, onde já nasceram mais de 500 bebês. Quando tudo estiver certo, vamos pensar em fazer uma outra área ainda mais ampla no hospital — informou.
A Unidade de Reprodução Humana recebe, em média, 24 primeiras consultas em fertilidade por mês. São feitas cerca de 15 inseminações e 12 fertilizações in vitro mensais.
A reportagem não recebeu retorno da Vigilância Sanitária sobre o assunto.