Você está navegando pelas redes sociais e recebe uma mensagem no WhatsApp falando sobre acidente vascular cerebral (AVC): “Se você vir uma pessoa sofrendo um AVC, não hesite: pegue uma agulha, esterilize-a com fogo e fure as pontas dos 10 dedos da pessoa”. Na melhor das intenções, você compartilha a mensagem com o máximo de amigos possível – afinal, só quer ajudar. Mas, antes, não seria melhor se perguntar se a afirmação é mesmo verdadeira?
A informação é falsa. Furar os dedos de quem está sofrendo um AVC não vai ajudar. Pelo contrário: agrava a situação. Os especialistas ouvidos por GaúchaZH explicam que o AVC é um problema tempo-dependente, ou seja, quanto mais rápido o tratamento adequado for aplicado, maiores são as chances de uma recuperação completa.
– Além de trazer uma informação que não tem nenhum embasamento científico, a orientação da mensagem ainda retarda o único procedimento que depende do paciente, que é reconhecer que está tendo um AVC e ir o mais rápido possível para o hospital – afirma a médica neurovascular Rosane Brondani, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
O AVC ocorre quando há uma obstrução em uma das artérias cerebrais (AVC isquêmico, o mais comum) ou quando um dos vasos do cérebro é rompido (AVC hemorrágico), o que pode afetar outras partes do corpo – já que o órgão é responsável por enviar comandos para o restante do organismo. Por exemplo: quem sofre AVC pode ter formigamento nas mãos, pois elas não estão recebendo os estímulos que precisam. Mas como o problema está no cérebro, qualquer intervenção nas mãos é completamente inútil.
– Achar que furar os dedos das mãos dormentes vai desobstruir uma artéria que está no cérebro ou que isso vá ajudar na circulação não faz o menor sentido – diz a médica neurovascular.
Essa não é a única informação equivocada – e perigosa – da mensagem. Um vídeo que costuma acompanhar o texto diz que massagear as orelhas e furá-las pode ajudar quando os lábios da vítima estiverem tortos.
– Os lábios ficam tortos porque a região do cérebro que é responsável pela movimentação da boca não está recebendo sangue. A única maneira de mudar isso é aumentando a quantidade de sangue neste local, e isso não vai acontecer massageando as orelhas. Só é possível fazer isso com a administração de uma medicação endovenosa ou por meio de um cateter, que é capaz de desobstruir a região – explica Alexandre Maulaz, chefe da unidade de AVC da Santa Casa de Misericórdia.
O que fazer nessa situação
Furar dedos ou orelhas só vai atrapalhar, mas há formas de ajudar alguém que esteja tendo um ataque vascular cerebral. O mais importante é, antes de qualquer ação, saber reconhecer o problema. Os sinais mais comuns são: queda facial (quando um dos lados do rosto fica paralisado, deixando um dos lábios tortos), debilidade dos braços (fica difícil movimentá-los) e fala anormal (a vítima não conseguirá formular frases simples).
Na presença desses três sintomas, o risco de que seja realmente um AVC é de 72% e é necessário ir imediatamente ao hospital.
Se você estiver sozinho, ligue imediatamente para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo número 192. Os profissionais do serviço são treinados para reconhecer o problema e transportar o paciente para o hospital. Caso você presencie alguém com os sintomas, procure o mais rápido possível por ajuda médica.
O acidente vascular cerebral é uma doença que frequentemente torna-se incapacitante: 70% das pessoas que sofrem o problema não têm condições de voltar ao trabalho e 50% delas se tornam dependentes para realizar atividades básicas do dia a dia.