A prisão do médico Denis Cesar Barros Furtado, conhecido como Dr. Bumbum, reacendeu um alerta antigo na saúde: procedimentos estéticos devem ser levados a sério e feitos por profissionais qualificados. Uma paciente de Furtado morreu, no Rio de Janeiro, após se submeter a uma bioplastia realizada no apartamento de Furtado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O problema é que nem sempre os pacientes tomam cuidados básicos antes de optar pelo profissional que realizará determinados procedimentos. Não raro, apostam na popularidade de "especialistas" nas redes sociais como critério de escolha.
O cirurgião plástico Charles Berres, do Hospital Blanc Medplex, de Porto Alegre, que atua há mais de 10 anos na área, alerta que uma atitude simples pode evitar a contratação de pessoas desqualificadas e até de impostores. No site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e em suas regionais, há o cadastro de todos os cirurgiões plásticos certificados pela entidade – inclusive com o Estado onde atuam – e de todos os serviços credenciados. Também é necessário observar o local onde os procedimentos são realizados. No caso do Dr. Bumbum, ele estaria atuando em um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, sem qualquer licença para esse fim, tampouco estrutura adequada.
— Qualquer cirurgia, por menos invasiva que seja, é uma cirurgia. Então, se o paciente está com um profissional qualificado e num ambiente adequado, os riscos são menores e qualquer problema que houver poderá ser tratado com antecedência — diz.
O local onde será feita uma cirurgia plástica precisa ter estrutura hospitalar, equipamentos modernos para o procedimento proposto e licenças. O responsável pela prática deve pedir exames pré-operatórios, que indicarão se a pessoa pode realizar a cirurgia em segurança ou se será necessário algum cuidado especial. A ética médica também não permite propaganda de "antes e depois". Quem a faz já merece alguma desconfiança.
— Muitas vezes, médicos sem preparo costumam fazer mais propaganda do que aqueles que têm cuidado — avalia Berres.
Atenção também na hora de fazer preenchimentos faciais
Outro ponto importante é conhecer as práticas a que cada profissional está habilitado.Via de regra, as cirurgias plásticas só podem ser feitas por cirurgiões plásticos, com especialização concluída em instituição de ensino reconhecida, ou por médicos de áreas específicas, como otorrino (nas cirurgias de nariz) e mastologista (para as plásticas de mama). Um dermatologista, por exemplo, não está apto a fazer uma cirurgia plástica, mas pode realizar preenchimentos faciais, como as cada vez mais populares aplicações de toxina botulínica e ácido hialurônico, porque recebem esse tipo de treinamento na residência médica. A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda que se exija o Registro de Qualificação de Especialidade (RGE), que demonstra ter o profissional formação e conhecimento adequado para a prática.
As técnicas voltadas ao rejuvenescimento facial também têm sido realizadas por médicos sem residência em cirurgia plástica ou dermatologia, dentistas, biomédicos e outros profissionais, o que vem gerando discussão entre eles e os médicos. No final de 2017, a Justiça Federal suspendeu uma resolução do Conselho Federal de Odontologia (CFO) que permitia a dentistas fazer os preenchimentos para fins estéticos. A entidade recorreu da decisão e aguarda avaliação do TRF 5ª Região. No site do CFO, há uma nota orientando os profissionais sobre o andamento do recurso.
Médicos questionam se eles teriam conhecimento suficiente para resolver adversidades que, porventura, surjam nas aplicações dessas substâncias, e mantêm a recomendação de procurar apenas os médicos que possuem RQE.
— Esses procedimentos estão muito divulgados nas redes sociais, e temos visto nos consultórios muitos problemas pela falta de qualificação. É algo que exige muito treino e conhecimento. O ácido hialurônico, por exemplo, se for aplicado de forma errada em qualquer parte do rosto, pode até provocar cegueira. Há também uma preocupação com a biossegurança, para que se tenha treinamento para evitar contaminação — alerta Taciana Dal'Forno Dini, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Secção RS, ressaltando que nos locais onde esses procedimentos são feitos é exigido equipamento de reanimação cardiovascular.
Presidente da Federação Brasileira dos Esteticistas (Febrape), Penha Gomes também esclarece que a categoria não tem permissão para cirurgias plásticas e procedimentos invasivos, em que há injeção subcutânea de alguma substância, mas pode atuar em procedimentos pós-operatórios, em sessões de drenagem linfática por exemplo.
— Quem fizer isso poderá ser preso por exercício ilegal da Medicina — reforça.
Os esteticistas também podem fazer limpezas de pele, esfoliação, recuperação estética capilar e trabalhar na recuperação estética pós-operatória de queimados e também utilizar equipamentos estéticos eletrônicos.