O Brasil é o terceiro país do mundo em número de presos. São 726.712 pessoas encarceradas, segundo dados do Ministério da Justiça de 2017. Em Pelotas, no sul do Estado, a realidade não é diferente: mais de 1,2 mil detentos ocupam as galerias do Presídio Regional de Pelotas (PRP).
No ano de 2014, as condições do consultório dentário que atendia os detentos no presídio regional estavam péssimas. Havia problemas na fiação, pintura, encanamento e em diversos outros pontos da estrutura. Na época, o chefe de saúde bucal de Pelotas, Leandro Thurow, e o coordenador da penitenciária, tiveram a ideia de utilizar a ajuda dos presos que já tivessem experiência na construção civil na reforma do local. A projeção de Leandro deu certo: em pouco mais de três meses o consultório dentário estava pronto. Assim nascia o Projeto MOP: Mão de Obra Prisional de Pelotas.
A partir da reforma da sala, todo o centro de saúde da prisão recebeu melhorias. Depois disso, houve a projeção de realizar manutenção não só na cadeia, mas também nas Unidades Básicas Municipais. Em 2015, Prefeitura de Pelotas e Susepe assinaram um Protocolo de Ação Conjunta (PAC) que possibilitou um grande avanço no projeto.
Além da possibilidade de ter uma maior agilidade nas obras, a economia é outro fator em que o projeto colabora com o município. Segundo a Secretária de Saúde de Pelotas, Ana Costa, os números são satisfatórios.
— Do ponto de vista financeiro, o (projeto) MOP fez com que tenhamos uma economia de 50%, além do fato de colaborarmos no mais importante, que é o aspecto social — afirma Ana Costa.
O ex-detento Francisco, condenado em 2012 pelo crime de tráfico de drogas, participou da reforma de diversas unidades de saúde em Pelotas. A carta de recomendação dada pelo projeto colaborou com que ele conseguisse um emprego após cumprir a sua pena.
— Eu sempre pensei em ter outra vida. Tu só vai dar valor a liberdade depois que tu perde ela, e o Mão de Obra Prisional me ajudou muito para eu conseguir essa outra vida que eu gostaria de ter — afirmou Francisco.
Em mais de dois anos de projeto, cerca de 70 detentos já reformaram 21 unidades básicas de saúde em Pelotas. A iniciativa gaúcha ganhou diversos prêmios nacionais. O último foi entregue neste mês de maio, pelo presidente Michel Temer, em Brasília: trata-se do Selo Resgata, entregue para somente cinco cidades brasileiras.
O detento Jonathas, que cumpre pena atualmente no Presídio Regional de Pelotas, participa do projeto auxiliando com os seus conhecimentos em gesso, trabalho que herdou da família. Atualmente ele ocupa outras funções nas obras.
— Eu entrei aqui sabendo trabalhar somente com gesso. Hoje eu sei fazer o trabalho de eletricista, de pintor. Isso vai me ajudar muito ao sair para buscar um trabalho. Temos que ganhar uma segunda chance, qualquer pessoa merece uma segunda chance — diz Jonathas.