Saúde mental e bem-estar são temas recorrentes no atual contexto social, em que existe uma corrida para estar sempre performando, mesmo fora do ambiente profissional. Essa carga de exigência ecoa no dia a dia, em que é preciso equilibrar metas profissionais com questões pessoais.
Diante de um cenário complexo e com desafios crescentes, o Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Sul (Sesi-RS) desenvolve serviços voltados à cultura do cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho. Além de um amplo portfólio de serviços, a entidade promove anualmente uma campanha de valorização da vida destinada a empresas e indústrias de todos os portes e segmentos: o Setembro Amarelo.
A responsável técnica da área de Saúde Mental e Inovação do Sesi-RS, a psicóloga Graziela Alberici, afirma que saúde mental no trabalho é um desafio coletivo.
– Quando alguém fratura uma perna ou braço, por exemplo, isso é visível. Mas a saúde mental é mais subjetiva e difícil de demonstrar. Quando alguém está com algum transtorno mental ou chega a se afastar em função disso, ainda existe muito preconceito, desconhecimento, ainda é um tabu na sociedade, por isso as pessoas têm receio de dizer que estão afastadas por depressão – explica Graziela.
A especialista ainda acrescenta:
– Existe, ainda, a crença de que o local de trabalho não é local para se falar sobre saúde mental. Há uma desconexão entre saúde e saúde mental, quando na verdade é da saúde integral que estamos falando. Ninguém consegue trabalhar se não está bem mentalmente – completou.
Casos de transtornos mentais e comportamentais são cada vez mais comuns no ambiente laboral. Conforme documento publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “Guidelines on mental health at work” (Diretrizes em saúde mental no trabalho, em tradução livre), cerca de 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por ano em razão de transtornos mentais e comportamentais. Isso acarreta prejuízos de aproximadamente US$ 1 trilhão à economia mundial.
No atual contexto pós-pandemia e de reconstrução depois da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, com consequente aumento de desigualdades sociais, a situação mostra-se mais delicada para toda a sociedade. Isso acaba impactando diretamente no ambiente laboral, com trabalhadores apresentando sintomas crescentes relacionados à ansiedade e depressão.
Abaixo, segue uma lista com cinco tópicos para compreender melhor a saúde mental e o que fazer para mantê-la. Confira:
Conheça os serviços de Saúde Mental do SESI-RS
1) Saúde mental X cultura organizacional
O primeiro passo é entender o que é saúde mental: trata-se do estado de bem-estar no qual a pessoa consegue ser produtiva, se relacionar, lidar com o estresse rotineiro e tocar a própria vida – o que inclui o lado profissional. Em relação às questões de trabalho, considera-se que influenciam na saúde psicológica de um trabalhador: normas e cultura da organização, estilo de gestão, liderança e carga de trabalho.
Uma cultura organizacional bem estruturada, por exemplo, preza pela saúde e bem-estar do trabalhador, e está relacionada com a forma como a empresa conduz seus negócios, funcionários, parceiros, fornecedores e clientes.
Além disso, é preciso levar em conta o lado pessoal e a subjetividade do trabalhador, bem como fatores psicossociais (interação dos aspectos social, biológico, psicológico e familiar do indivíduo com os aspectos do ambiente laboral).
– Tudo isso tem a ver com a saúde mental no trabalho. Não se trata apenas de avaliar se alguém tem algum transtorno e fazer os encaminhamentos – esclarece Graziela
2) Segurança Psicológica
Entre os principais fatores que um local de trabalho deve ter para propiciar saúde mental é o respeito às diferenças. Isso conduz os envolvidos à segurança psicológica, e tem relação com gestores e equipe.
– É eu poder ser quem eu sou, falar o que penso, inclusive sobre o trabalho, alertar sobre algum risco, sem receio de ser punida, recriminada ou taxada de boba. Ambiente com mais segurança psicológica leva a ter mais saúde mental – destaca.
Segundo Graziela, o foco deve ser a prevenção. Por isso, é preciso capacitar lideranças para que estejam cientes do papel que exercem em relação à equipe, na forma como se comunicam com as pessoas e como podem ajudar. Como a saúde mental no trabalho é um desafio coletivo, os colegas também devem ser capazes de dar apoio entre si, seja emocional ou profissional. Políticas e programas de bem-estar institucionais também são importantes.
3) Sustentabilidade do negócio
Uma saúde mental fragilizada no ambiente de trabalho tem reflexos negativos tanto para os trabalhadores quanto para os empregadores. Desafios como absenteísmo (ausência ou o afastamento não programado de funcionários de seus locais de trabalho), queda da produtividade, diminuição no engajamento e afastamentos com auxílio-doença – refletindo, posteriormente, no Fator Acidentário de Prevenção (FAP) – são recorrentes, podendo interferir na sustentabilidade do negócio. E, também, não se pode esquecer de possíveis impactos e prejuízos para as empresas. Conforme Graziela, afastamentos por transtornos mentais costumam ser os mais longos e de difícil retorno.
– Pessoa que está bem, trabalha melhor e tem satisfação com o que faz – pontua a psicóloga.
Outro dado que serve de alerta é que, segundo informações do Ministério da Previdência Social, 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais foram concedidos no Brasil em 2023. O número corresponde a um aumento de 38% em relação ao ano anterior (estão contabilizados afastamentos temporários e permanentes).
4) Importância de impor limites
Um ponto relevante é a falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
– Ser workaholic pode parecer bonito, mas não é saudável – alerta Graziela.
Delimitações claras sobre o que é adequado e o que não é, no contexto laboral, têm impacto relevante na manutenção de clima positivo no âmbito profissional. A psicóloga cita o exemplo das mensagens via WhatsApp fora de hora, algo que acaba fazendo com que profissionais se sintam pressionados mesmo quando não estão em expediente. A sobrecarga é outro ponto que, assim como as relações interpessoais precárias, podem gerar impacto negativo no ambiente.
5) Fique atento aos sinais
É preciso estar atento aos sinais no ambiente de trabalho. Não apenas no Setembro Amarelo, mas em todo ano. Indícios como alterações repentinas de comportamento e humor podem ser um sinal. Outros indicativos podem ser: excesso ou falta de apetite, falta de disposição (principalmente de quem sempre demonstrou ser ativo) e problemas com sono.
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