A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 300 milhões de pessoas vivenciam transtornos mentais no planeta – e, evidentemente, esse número superlativo acaba se refletindo nas empresas. Conforme o estudo “Guidelines on Mental Health at Work”, cerca de 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos em função de doenças como depressão, ansiedade e estresse ocupacional todos os anos.
O desequilíbrio da saúde mental gera uma série de sintomas, inclusive físicos, o que leva à perda de produtividade no trabalho. E o impacto disso também pode ser percebido na economia. Conforme a OMS, as perdas são da ordem de US$ 1 trilhão ao ano.
Por tudo isso, promover a saúde mental no ambiente laboral fortalece não apenas o indivíduo, mas a própria organização. E o primeiro passo é que a empresa prepare suas lideranças – que estão mais próximas às equipes – para saber identificar quando esse problema pode estar afetando os trabalhadores.
Conforme a responsável técnica da área de Saúde mental e Inovação do SESI-RS, a psicóloga Graziela Alberici, as mudanças de comportamento estão entre os principais sinais de alerta de que algo está errado. Alterações de humor, na aparência física, redução na concentração e no desempenho de forma prolongada são observáveis e é desejável que gestores tenham ferramentas para oferecer apoio e sugerir ajuda profissional.
O Sesi-RS oferece às empresas uma importante ferramenta para auxiliar no cuidado de suas equipes: a plataforma Mentis 360. Através de um questionário rápido aplicado aos trabalhadores, as indústrias recebem um mapeamento da saúde mental da equipe por setores, o que favorece a identificação e acolhimento em casos de risco.
– O Mentis pode fazer uma detecção precoce. Ele avalia, rastreia sintomas de depressão, ansiedade, estresse e depois encaminha para trilhas de cuidado através dessa mesma plataforma. O trabalhador vai receber um feedback do seu resultado, terá uma ideia de como é que ele está e será encaminhado, caso necessário, para atendimento. Os médicos também podem usar o Mentis durante os exames periódicos para fazer esse acompanhamento permanente da saúde mental das pessoas – explica Graziela.
Confira, a seguir, cinco orientações úteis e práticas para identificar e tratar sintomas de saúde mental no local de trabalho.
1) Mudança de comportamento
Um dos principais fatores de alerta quando o assunto é a saúde mental de um trabalhador são as alterações comportamentais. Segundo Graziela, é comum que uma pessoa em sofrimento psíquico comece a fazer coisas que não fazia ou perca o interesse sobre algo que gostava de fazer ou pessoas com quem gostava de estar.
– É comum que a pessoa comece a ficar mais reclusa. Ela pode ter um aumento ou baixa de apetite, de sono, ela pode também ter uma queda na produtividade, na disposição, pode ter um aumento de irritabilidade, angústia e falta de atenção e concentração – diz a psicóloga.
2) Duração dos sintomas
Mas Graziela adverte que o que que determina um transtorno mental é a duração e a intensidade dos sintomas, além dos prejuízos que causam na vida cotidiana da pessoa.
– A pessoa pode, por exemplo, ter bruxismo, tensão muscular, preocupação excessiva, que não passam. E esses sinais perduram ao longo de um tempo. Não é algo transitório, um dia eu estou bem, outro dia eu não estou. É algo que dura semanas, meses – explica.
3) Algo está errado?
O autoconhecimento é uma das chaves para que o próprio trabalhador identifique quando não está bem. Conhecendo as próprias forças e seus limites, o indivíduo consegue perceber que suas reações estão fora dos trilhos e pedir ajuda.
– Se a pessoa se conhece minimamente, se dá conta quando algo muda no seu comportamento, no seu estado de humor, nas relações com as pessoas e com o trabalho. Então, ela consegue perceber que algo não está bem. Se a pessoa não se conhece, é mais difícil ela não se dar conta – elenca Graziela.
4) Busque ajuda profissional
Caso a empresa identifique um trabalhador que possa estar com problemas de saúde mental, o ideal é encorajá-lo a buscar ajuda profissional. Isso porque as questões que envolvem o tema ainda são envoltas de muito preconceito, o que pode retardar um diagnóstico ou tratamento
– A questão da saúde mental ainda envolve muito desconhecimento. Todos nós podemos precisar em algum momento, e é um tratamento como qualquer outro – frisa a psicóloga.
5) O que as empresas podem fazer?
É importante que as empresas tenham uma cultura aberta para a questão da saúde mental. O primeiro ponto pode ser conscientizar a equipe sobre o tema promovendo palestras, campanhas e abrindo espaço para que os trabalhadores se sintam confortáveis para falar sobre como estão se sentindo. Também é importante dar informações sobre autocuidado e como estar atento a sintomas de depressão e ansiedade, que requerem a busca de ajuda.
– As lideranças também devem ser orientadas para identificar possíveis sinais de transtornos mentais e praticar uma escuta ativa, conhecer seu funcionário e fazer o encaminhamento, se necessário. Acolher é importante – diz Graziela.