Moradores de parte do bairro Praia de Belas foram surpreendidos com o retorno dos alagamentos na região nos últimos dias, como na manhã desta quarta-feira (29). Margarete de Oliveira, 56 anos, tem uma estética e mora na Rua Doutor Vicente de Paula Dutra. Ela conta que o problema retornou ainda na semana passada, mas havia melhorado na tarde de terça-feira (28).
— Aí a vizinha ali foi buscar as filhas, porque estava toda feliz. Era uma luz no fim do túnel ontem, né? Digo, ah, vai dar pra voltar pra casa. Nossa Senhora, quando foi oito horas da noite, eu olho na janela e digo, meu Deus, começou a subir. E aí só subiu, só subiu. Quando eles chegaram de volta com as gurias, meu Deus, água na cintura — relatou Margarete no final da tarde desta quarta (29), quando a reportagem de Zero Hora esteve no local e constatou a elevação da água.
Além de entrar nos apartamentos térreos e nos pátios, a água também tomou conta do salão de Margarete e de um mercado da rua. Os dois comércios perderam, basicamente, tudo. Os donos e vizinhos chegaram a fazer a limpeza na outra semana, mas a água voltou a entrar e provocar prejuízos.
O cenário é parecido nas ruas Manoelito de Ornellas, Celeste Gobbato e no cruzamento das avenidas Borges de Medeiros e Edvaldo Pereira Paiva com a Aureliano de Figueiredo Pinto. Na Manoelito de Ornellas, moradores também estavam limpando os prédios na tarde desta quarta, mesmo com acúmulo de água na rua. Na Celeste Gobbato, em trechos mais secos, as equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) chegaram a recolher os resíduos que estavam nas calçadas.
Conforme o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), parte dos trechos alagados não é atendida por nenhuma casa de bombas. A explicação da prefeitura é que, como o nível do Guaíba segue elevado e apresentou subida na noite de terça, o Arroio Dilúvio também está com a capacidade comprometida "o que faz com que a água que deveria escoar, retorne pelas bocas de lobo".
— Ali a água escoa por gravidade e não é direcionada por casa de bombas. Então, acaba variando com o nível do Arroio Dilúvio e do Guaíba, que ocorre de subir e descer por vezes ao dia. Como o nível ainda está alto, acaba represando durante o dia. Eu tenho recebido alguns relatos e já pedi para uma equipe verificar ali se há alguma alternativa diferente pra gente fazer naquela região para tentar drenar aquela água — explicou à GZH ainda na terça-feira o diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss.
— Por conta da gravidade, a água vai sempre dos pontos mais altos para os mais baixos. Com o Guaíba alto, o trecho final do Dilúvio (na região do bairro Praia de Belas) também fica alto. Tubulações que não estão conectadas a uma casa de bombas podem gerar essa reversão de fluxo e alagar as partes baixas — pontuou — Essa é a situação na qual só conseguimos tirar a água das partes baixas com o uso de uma casa de bomba. Não tem outra maneira, porque esse fluxo só vai se inverter quando o Guaíba estiver mais baixo — diz Dornelles.
Também morador da Rua Doutor Vicente de Paula Dutra, o publicitário Carlos Campos estava limpando bueiro com uma enxada no final da tarde desta quarta. Junto com outros vizinhos, ele reivindica uma atenção do poder público à região.
— Não podemos ficar aguardando a lei da gravidade. É uma grande frustração a gente receber esse retorno, quando na verdade o Poder Público precisa ser um agente que deve realizar e solucionar. O que nós precisamos, realmente, é de uma solução e não apenas estudo e acompanhamento como o Dmae vem fazendo. Nós precisamos que algo concreto seja feito. Se não vier bomba da Sabesp, por favor, os agentes públicos tragam essa bomba de alguma outra forma, de algum outro parceiro. É urgente a situação. Vai fazer um mês que as pessoas não conseguem mais voltar pra casa — cobrou Carlos.
Segundo o Dmae, não há previsão de uma bomba ser instalada na região. Apesar da sinalização que o bairro não é coberto por casas de bombas, a área de atuação da Estação de Bombeamento de Água Pluvial (Ebap) 16, que fica na Rótula das Cuias, compreende parte dos pontos alagados, como o trecho do cruzamento entre a Edvaldo Pereira Paiva e a Aureliano de Figueiredo Pinto, incluindo parte da Rua Doutor Vicente de Paula Dutra, onde a estética da dona Margarete está alagada. A Ebap 16 está operando com três dos quatro grupos de motores que possui.
Em nota, o Dmae sinalizou que esteve na manhã desta quarta realizando hidrojateamento, tecnologia usada para limpar fossas e tubulações, nas redes próximas do Menino Deus. A equipe tentou acessar também as redes do Praia de Belas, mas não conseguiu devido ao elevado nível do Dilúvio. Durante a tarde de quarta, foi realizada uma abertura nas redes de drenagem da região.