
Centenas de moradores de Canoas deixaram suas residências ao longo desta sexta-feira (3), após alertas da prefeitura. Até o momento, os bairros que tiveram alertas para a evacuação emitidos pela prefeitura foram: Cinco Colônias, Fátima, Harmonia, Mathias Velho, Mato Grande, Rio Branco e São Luís. A estimativa da prefeitura nesta tarde era de que ao menos 50 mil pessoas deixassem suas residências. A gestão municipal pede barcos para ajudar a resgatar os moradores.
A prefeitura orienta a população a procurar abrigo com familiares e amigos que morem em pontos que não estão em risco e promete auxílio junto com o Corpo de Bombeiros e Brigada Militar para a retirada. O prédio 11 da Ulbra, no bairro São José, também está sendo utilizado como ponto de acolhimento.
No bairro Mathias Velho, onde um dique de contenção costeia o bairro, a água ultrapassou a proteção, assim como os 10 mil sacos de areia colocados pela prefeitura como uma barreira adicional, extravasando na pista.
Rafael Pereira, morador do bairro há mais de 20 anos, conta que nunca viu nada parecido, assim como seus pais e avós, que residem na localidade há muito mais tempo.
— Morei a minha vida toda no bairro Mathias Velho e sempre residi na Rua Curitiba, que fica justamente de frente ao dique. Isso, de certa forma, sempre nos deu uma segurança porque era uma estrutura que prevenia muito alagamentos e enchentes — afirma.
Pereira, assim com mais uma centena de canoenses, deixou seu lar às pressas com medo de uma possível deterioração do dique de contenção. Escapando para a casa de familiares, abrigos ou até hotéis, os moradores causaram congestionamento na Avenida Boqueirão, que leva ao acesso e saída do bairro, como registrado pela Rádio Gaúcha no final desta tarde.
— No final do dia, a gente recebeu algumas imagens e vídeos que mostraram que estava começando a transbordar o dique rapidamente. A gente viu que a água que corria ali começou a aumentar de volume e aumentar de velocidade, começou a ficar com uma correnteza muito forte. Tendo em vista que a gente ainda tinha previsão de chuva para essa noite, a gente achou melhor evacuar a nossa residência, então fomos para casa de alguns familiares — complementa.
Perto da casa de Rafael, o estudante Luiz Fontoura também decidiu deixar a sua residência, acompanhado da namorada, após ver alerta da prefeitura nas redes sociais. Em segurança, ele precisou solicitar resgate da irmã, Fernanda Fontoura, para a Defesa Civil. Ela ficou seis horas ilhada, sem saber se conseguiria escapar.
— Ela achou que a água não ia subir tanto no Mato Grande (bairro vizinho ao Mathias Velho) e acabou que ficou ilhada no segundo andar da casa. Por sorte foi resgatada há pouco. Está tudo bem com ela e com as duas crianças pequenas — assinala.
Na região oeste da Cidade, no bairro Rio Branco, a situação também foi de desespero. A jornalista e influenciadora digital Giovanna Parise relata que precisou ir na casa dos seus pais para convencê-los a saírem do local. Eles não acreditaram que a água chegaria na residência, mas levaram cerca de 30 minutos para sair.
— Foi cerca de meia hora, no máximo 40 minutos. A gente entrou por uma rua (para ir a casa deles) e na hora de ir embora não dava mais para sair por ela em razão da água. A gente conseguiu sair no limite, por outra rua. Eu liguei também para os meus padrinhos, que são vizinhos dos meus pais, e falei para eles saírem também, mas eles têm dois cachorros e a mãe da minha dinda é cadeirante, então o deslocamento delas é mais difícil. Eles demoraram um pouco mais até tomar a mesma decisão. Quando eles foram tentar sair, já não dava mais — conta Giovanna, que também precisou solicitar resgate para os parentes que permaneceram no local.
Segundo o prefeito Jairo Jorge, em entrevista para a Rádio Gaúcha na noite desta sexta-feira, os alertas estão sendo emitidos pela prefeitura para evitar que pessoas fiquem ilhadas e que resgates possam ser feitos, salvando vidas e mitigando estragos.
— É uma situação dramática, com risco. Nós nunca tivemos isso. O sistema de proteção (os diques) sempre foi muito robusto, foi construído na década de 60 e protegeu a cidade todo esse tempo. Nós estamos falando de algo desconhecido, porque todos os nossos parâmetros era do pior episódio (de 1941) só que nós já sabemos que ela vai ultrapassar esse parâmetro — frisa o prefeito sobre a importância das pessoas se manterem em segurança, escutando os alertas em meio às enchentes.
Ele ressaltou que as pessoas que eventualmente precisam deixar seus locais podem se abrigar em um dos oito abrigos disponibilizados pela prefeitura em diferentes regiões da cidade. Neste momento, são cerca de 1,3 mil pessoas abrigadas nesses espaços.
*Produção: Júlia Ozorio