Os senegaleses moradores de Porto Alegre foram até o Centro de Integração de Redes Sociais e Culturas Locais (Cirandar), na Rua dos Andradas, no Centro Histórico, para ajudar a eleger o novo presidente do seu país neste domingo (24). Cerca de 600 imigrantes estavam inscritos para votar no local.
— Como nós sabemos, o Senegal é um país democrático. Tradicionalmente, um dos mais democrático na África. Para mim, o voto é a coisa mais sagrada em uma democracia. Então, eu não poderia deixar de votar hoje — explica Mor Ndiaye, empresário de 38 anos, que há 15 vive em Porto Alegre.
A votação foi organizada pela Associação de Senegaleses de Porto Alegre (ADSPOA), que tem como presidente Bamba Touré, 32. Trabalhador da área de automação, chegou em Porto Alegre há uma década. Segundo ele, essa é a segunda eleição coordenada por ele na Capital — em 2019, contou com mais de mil votantes. Essa eleição, porém, ele acredita que é uma das mais importantes da história do seu país.
— Nós somos cidadãos de lá. Independentemente do lugar em que a gente está, precisamos dar nossa voz, a nossa opinião de quem pode dirigir o nosso país. Estamos aqui, fora, mas, ao mesmo tempo, ajudamos financeiramente as nossas famílias que estão lá. A gente tem casa, a gente tem planos para o futuro — explica Touré.
Tanto Touré quanto Ndiaye defendem o candidato de oposição Bassirou Diomaye Faye, de 43 anos, que acreditam que irá defender a nação de Senegal como ela merece, sendo um "anticolonialista" e mantendo as riquezas do país para os seus cidadãos.
— Somos imigrantes hoje em dia, aqui, mas se nosso país tiver uma liderança que cuida do país, que pensa do país, que cria emprego do país, eu tenho que certeza que a maioria de nós ficará no nosso país. E, por isso, é importante o voto, para colocar um líder que pode mudar a visão do nosso país — reforça Touré.
Para a votação, que começou às 8h e avançou até depois das 17h, os membros da ADSPOA organizaram duas cabines de votação nos fundos do Cirandar — espaço que já tem parceria de longa data com Touré. Para escolher o presidente, o senegalês pega santinhos de quantos candidatos quiser. Depois, vai até uma das cabines e coloca apenas um dos flyers dentro de envelope, de forma sigilosa. Ao sair do espaço reservado, deposita o envelope em uma urna e é marcado no dedo com tinta, para impedir que possa votar novamente.
Após a apuração, que será acompanhada por representantes dos partidos de parte dos 19 candidatos — número recorde na história do país — e, também, por representantes do poder legislativo do país africano em Porto Alegre, o resultado será enviado para o Senado e, então, validado.
Segundo a AFP, os favoritos para vencer a disputa são Amadou Ba, de 62 anos, primeiro-ministro de Senegal por algumas semanas no governo do presidente em exercício Macky Sall, que o nomeou como seu sucessor; e Bassirou Diomaye Fay, o "candidato à mudança de sistema" e ao "pan-africanismo de esquerda".
Ambos afirmam poder vencer sem necessidade de segundo turno, que parece provável, mas para o qual não há data definida. Para que um dos dois consiga vencer no primeiro turno, no entanto, é necessário mais de 50% dos votos.
A eleição estava marcada para 25 de fevereiro, mas um adiamento de última hora desencadeou uma onda de violência que deixou quatro mortos. Várias semanas de confusão testaram a democracia do Senegal até que as eleições foram finalmente marcadas para 24 de março. O presidente em exercício, Macky Sall, 59 anos, com 12 anos no poder e reeleito em 2019, não concorreu à reeleição.