A notícia do fechamento do BIG da Avenida Sertório, um dos mais expressivos estabelecimentos comerciais da zona norte de Porto Alegre, já mexe com a rotina dos moradores das imediações. As atividades no hipermercado inaugurado em 1990 serão encerradas até o final de janeiro de 2024. Os clientes, parte deles demonstrando saudosismo por antecipação, ainda não sabem onde irão comprar o pãozinho do café da manhã ou a costela para o churrasco dos finais de semana.
— O que lembro da inauguração é que foi uma festa muito bacana. As crianças da comunidade receberam muitos presentes — recorda a cozinheira Fabiane Lopes Rodrigues, de 50 anos, dizendo que costumava comprar nas promoções do antigo BIG.
Nesta quarta-feira (27), a reportagem de GZH circulou pela comunidade no entorno do estabelecimento, especialmente na Rua Rocco Aloise, no bairro Sarandi, e por outras vias da Vila Minuano. Foi possível perceber a surpresa dos moradores com a notícia e também certa tristeza.
— Agora vai ser mais complicado e terei de ir num lugar mais longe para fazer as compras — comenta a dona de casa Mariza Rosa Marta, 57.
Opinião semelhante tem a professora de educação infantil Samara Moreira, 35.
— Não paramos para pensar ainda como faremos as compras agora. Mas ficará mais difícil, porque o BIG era barato.
Quando foi inaugurado há 33 anos, o Big Shop era o maior hipermercado do sul do país. Tratou-se de uma revolução na forma do cliente fazer as compras. Em 11 mil metros quadrados de loja, oferecia cerca de 30 mil produtos. O atendimento, mais dinâmico e profissional, envolvia 81 caixas. No estacionamento, havia duas mil vagas para os veículos.
Em 2021, a unidade da Sertório foi adquirida pelo grupo francês Carrefour. Na época, a negociação envolveu R$ 7,5 bilhões para aquisição do Grupo Big. Melhorias na estrutura do local foram realizadas.
Alguns moradores da região ainda não sabem do fechamento do próximo mês. O auxiliar de pedreiro Fausto Vasconcelos, 65, exibiu surpresa ao ser informado sobre o fato.
— Sempre comprava ali e minha mulher trabalha na academia que tem lá. Os preços e as promoções eram bem atraentes — lamenta.
A cuidadora Graziela Muria da Silva, 28, menciona a questão relacionada aos descontos que eram rotineiramente oferecidos em determinadas ocasiões.
— Não queria que saísse pelas promoções — resume.
A também cuidadora Valdirene Padilha, 51, demonstra expectativa sobre o que será feito do espaço depois de vazio.
— A gente espera que venha outro mercado com preço bom. Em termos de preço, o Carrefour era muito bom. Para mim, essa notícia é um choque — confessa.
Pequenos comerciantes esperam aumento na clientela
As ruas do entorno do antigo BIG da Sertório contêm diversos pontos de venda, alguns maiores e outros mais discretos. Os proprietários estranham o fechamento do conhecido estabelecimento, mas já vislumbram aumento no número de clientes.
Proprietário do Ponto Certo - Casa de carnes e mercado, Rodrigo Quaresma Ferreira, 38, cita que o layout interno do BIG foi totalmente repaginado recentemente. Por isso, recebe com estranheza a decisão pelo fechamento do concorrente.
— Acho que vamos ter mais clientes. O Atacadão (bandeira de atacarejo do Grupo Carrefour, com uma loja localizada do outro lado da Avenida Sertório) fica mais longe para a comunidade ir — afirma.
Em outro armazém dos arredores, o dono Valmir da Silva Santiago, 67, acredita que, sem concorrente tão robusto, as coisas deverão melhorar em seu estabelecimento.
— O Atacadão dá de 10 a zero no BIG. Eu mesmo vou comprar artigos apenas no Atacadão agora — compara.
Proprietário da Ferragem Minuano, o comerciante Pedro Justo, 74, reflete que o fechamento representa um grande "retrocesso" para a comunidade do Sarandi.
— Olha quantas pessoas moram aqui. Para nós, que moramos aqui, é uma pena. Quanto mais movimentado o comércio é melhor para nós — compartilha, lembrando que o material comprado em sua ferragem serviu para a reforma recente feita na estrutura do BIG.
A justificativa extraoficial para o fechamento no próximo mês é que o grupo francês já tem um Atacadão do outro lado da rua, o que representa, na prática do dia a dia, uma concorrência entre os dois. Porém, o Carrefour deverá preservar a sede administrativa e a loja do Sam's Club no local. Por enquanto, não foi anunciado o que será feito do espaço depois de desocupado.